O caminhar de Anita Berlinger era despreocupado demais para a situação eminente que se desenhava sem rumo certo. Com o braço dobrado, o vestido escolhido era carregado até o carro, sendo colocado na parte de trás assim que a porta fora aberta. Enquanto ela o acomodava sem pensar muito a respeito, Verônica se sentava no banco do passageiro com as mãos trêmulas e os lábios levemente secos. Estava tensa como nunca antes, e talvez mais desejosa do que antes. Assim como a loira não estava muito preocupada com seu passo, a escrivã aparentemente não se preocupava com suas atuais escolhas.
A sensação do medo em si se dissipava, a confiança se fazia maior, mais exagerada e por tal suas escolhas se tornavam perigosas. Longe da loja, já no conforto do ar condicionado, Anita respousava suas mãos sobre o volante de maneira firme, fingindo não estar se controlando demais para não olhar para o lado, deixando seus olhos encontrarem sua fonte de tentação preferida. Ela não olhava para Verônica, mas o contrário não estava ocorrendo. Os olhos castanhos a fitavam com voracidade, mapeando todos os detalhes como havia começado a fazer durante a prova do vestido.
Diferente do medo que se perdia em palavras não ditas, o desejo se tornava quase palpável. As mãos trêmulas se espalmavam sobre suas coxas, deixando as pontas dos dedos longos levemente retraídas, cravando a pouquíssima unha que possuía. Precisava se aliviar, ou mesmo sentir qualquer coisa diferente só para que a mente não fervilhasse mais, porém, naquela altura, isso era impossível. O trânsito de São Paulo não colaborava com a sede que Verônica Torres estava sentindo naquele momento, tendo seu autocontrole testado, escorrendo sem que ela muito pudesse fazer. Amava e detestava perder o controle quando o assunto era Anita Berlinger.
Do outro lado, a delegada iniciava o desenhar de um sorriso nada político. Sabia quando estava sendo desejada, e naquela intensidade se tornava inegável, o que a fazia apertar seus dedos contra o couro do volante e suspirar.
────Me olhar desse jeito não vai fazer a minha roupa sumir magicamente. ────O tom era baixo, os olhos azuis continuavam a mirar o trânsito enquanto o carro finalmente passava a andar.
────Não te olhar também não vai... E eu prefiro manter meus olhos em você. ────O corpo se apoiava totalmente no banco, ao que sua cabeça recostara, se inclinando minimamente para trás. ────Tem certeza que não vou me encrencar por passar em casa? ────O sorriso em lascívia se moldava para algo mais ameno.
────E vão questionar a quem por isso? Porque a sua chefe está com você em literalmente qualquer lugar de São Paulo! Relaxa Verô. ────A marcha fora trocada, ao que ela seguira o rumo indicado pelo GPS, alcançando uma parte mais amena da cidade, que possibilitava o veículo andar um tanto mais rápido para enfim chegar ao seu destino.
A casa de Verônica Torres tinha toques de sua personalidade, mas era possível perceber o quanto isso se perdia em vista de outro gosto ali imprimido. O carro fora estacionado com maestria, ao que ambas saíram quase no mesmo momento, se encaminhando para a porta de entrada. Com as chaves na mão, Verônica destrancara a porta sem muito pensar, movendo seus fios castanhos para trás em clara ansiedade. Detestava não controlar bem as situações que vivia, e aquilo com certeza não poderia ser controlado.
A entrada se fazia bem apessoada, levando a uma casa com cara de nova. Os passos se mesclavam a medida em que eram dados, se apressando a cada passada em vista do objetivo de apenas se perderem em paredes que nada contariam sobre as duas. Uma vez mais Torres ia de encontro a porta com a chave, mas dessa vez não fora necessário. A porta estava aberta.
O cenho da escrivã se franzia a medida que a porta era aberta com parcimônia. Seus olhos varriam o interior da casa, desaguando na escada ao constatar que não havia ninguém a primeira vista.
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Under a secret | veronita fanfic
FanfictionQuantos segredos São Paulo era capaz de guardar sob suas luzes coloridas e prédios bem apessoados? O casamento de Verônica e Paulo sempre fora sinônimo de harmônia para quem quer que tivesse o prazer de cruzar o caminho dos dois, uma paixão avassal...