A Cerejeira

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E lá estava ela, sem saber como chegou; na verdade não sabia nem quem era. Apenas estava ela lá, em pé sob a grande cerejeira que fazia uma sombra agradável, uma brisa chegou em seus cabelos, seu curto e caracolado cabelo. Via o céu azul turquesa, não via nuvens, elas não pareciam nem existir, e era exatamente isso, não existiam. Olhou para seus pés descalços, via a grama verde esmeralda, uma grama como essa nunca tinha visto, parecia até irreal. Olhou para seu vestido branco que chegava em suas cochas, sentiu-se bela. Mas também sentiu crescer um pequeno e profundo desespero em seu peito, colocou a mão rapidamente.

Olhou em sua volta, via uma casa em sua frente, a cerejeira em suas costas, as montanhas no horizonte distante, parecia que, por mais que andasse, nunca as alcançaria; o sol se pondo em uma bela cor. O sol tinha algo de diferente, não sabia o que, mas tinha; mesmo que não lembrasse de já ter visto ele, sabia que não era assim, algo em seu interior lhe dizia isso.

Tentou entender toda a situação, mas nada fazia sentindo em sua cabeça. Nada. Perguntou-se quem sou?, mas nenhuma resposta sequer, tudo em vão. Entristeceu-se ainda mais. Não sabia de nada, por mais que tentasse se lembrar de qualquer coisa. Imaginou ser um sonho, mas já não estava certa sobre isso. Não estava certa sobre nada, nem sobre sua experiência sequer.

Ao passar os olhos novamente pela casa, viu o que parecia ser um senhor, tinha por volta de 40 anos, sentado em uma cadeira de madeira; a cadeira rangia ao seu balançar, balançava de um lado ao outro. Andou então a moça. Pôs o pé direito primeiro, algo a mandou fazer isso, então o fez. Caminhou com os pés descalços, sentia algo, talvez liberdade; mas achou estranho, nunca havia sentido algo parecido. Caminhou até o senhor, que estava de cabeça baixa, olhando para o chão. O senhor tinha um terno muito bem alinhado, era azul escuro, mas não usava o paletó.

Subiu os degraus da casa, ficando perto do senhor. Não tinha pedido nem permissão, apenas ficando com o olhar no velho que não se moveu de posição, continuando o seu balançar.

Tomou coragem para falar algo, o que fosse, tinha de falar. Mas o quê? Tinha tantas perguntas, mas nenhuma saía de sua boca; por fim falou:

- Onde estou? - O senhor nem se moveu, sentiu-se aflita. Deu um pequeno passo para trás, estava claramente com medo. O senhor deu um pequeno riso. Pegou seu cachimbo e o acendeu, tragou uma, duas vezes, soltou para cima. Sem ao menos olhar para ela, falou com sua voz grave e imponente:

- Creio que tenha feito a pergunta errada, minha querida jovem...

Mas quem era ele para dizer o que ela deveria perguntar? Ela falaria o que quisesse. Sentiu raiva desse senhor. Estava indignada por tamanha resposta.

- Pergunta errada? O que o senhor quer dizer com isso? - Perguntou com a voz meio falha, com medo; mas também alta por sua raiva.

O senhor continuou tragando seu cachimbo. Ela esperava receosa, suas entranhas se reviravam; estava com ânsia, queria saber de tudo o mais rápido que pudesse. O encarava ainda mais com raiva, mas ele nem olhava para ela, o que a deixou ainda mais aflita.

- Digo o que escutou, pergunta errada...

Como ousava falar aquilo? Qual seria a pergunta certa? Ela não sabia, tentava assimilar as poucas coisas que tinha visto, mas não chegava em nenhuma resposta. Seus olhos se enchiam de lágrimas.

- Qual é a pergunta certa então? - Disse com voz de choro. O senhor não precisava pensar em nada, sabia de tudo que poderia fazer. Ele estava no comando da situação, mais ninguém; gostava disso, e não perderia esse controle jamais.

- Por acaso você não sabe, srta....? - Perguntou como se pedisse seu nome para completar a frase. Abriu a boca para falar, mas não saiu nenhum som, só saiu o desespero silencioso que estava claro em seu semblante. As lágrimas que estavam querendo sair por fim caem no chão de madeira.

O Caminho: Vida ou morteOnde histórias criam vida. Descubra agora