Entre ciência e segredos

21 1 0
                                    

   O dia acabava de começar em Nova Aurora, trazendo consigo o frio e a chuva, que conferiam um ar melancólico à cidade. Thiago acabara de se deitar. Ele passara a madrugada inteira imerso em um livro sobre física quântica, fascinado pelas complexidades do universo. Não era a primeira vez que a curiosidade científica o mantinha acordado; era quase como se fosse algo essencial para ele.

   Enquanto se ajeitava para finalmente descansar, percebeu os primeiros raios de luz da manhã infiltrando-se pelas cortinas.

— Ai, não! Não acredito — exclamou Thiago, desacreditado, ao perceber que havia virado a noite mais uma vez. — Não entendo essa ideia que tive. Por que fui ler esse livro? Deveria ter sido apenas 15 páginas!
  
   Thiago, ainda incrédulo, afundou o rosto no travesseiro, movendo-se de um lado para o outro repetidamente. Desapontado, ele se sentou na cama tentando se recompor. Ainda sonolento, levantou-se e, ao observar seu quarto, percebeu o estado caótico em que se encontrava. Anotações e equações estavam dispersas por toda parte, juntamente com pilhas de livros, cada um mais complexo que o outro.

— Eu não me lembrava de estar tão desorganizado... Bom, talvez um pouco, porém, não a esse ponto.
 
    Após um choque de realidade, Thiago dirigiu-se ao banheiro. Abrindo a torneira, deixou a água fria escorrer por suas mãos, na tentativa de se manter desperto. Thiago se esforçou para se animar. Anime-se, Thiago, ele pensou. Hoje será um dia promissor, mesmo sem ter dormido nada. Você encontrará o vovô e finalmente poderá sanar suas dúvidas com ele.
  
   Depois de concluir seu banho, Thiago vestiu-se rapidamente, optando novamente pelas mesmas vestes habituais: calças largas, blusas de cores neutras e seu tênis branco manchado. Apanhando sua mochila, onde guardava os itens essenciais para alguém "excêntrico", como ele próprio se denominava, desceu a escada. Thiago notou um aroma suave; era quase como se o estivesse chamando. Sua mãe estava preparando uma breve refeição.

— Bom dia, mãe! Senti um cheiro bom vindo daqui, está fazendo algo? — Thiago falou com sua mãe, sentando-se na cadeira próxima ao balcão. Nesse momento, sua mãe se virou para ele.

— Bom dia, filho... — sua feição mudou rapidamente; o que antes era um belo sorriso se tornou algo parecido com estranheza.

   O rosto de Thiago, ao redor dos olhos, tinha olheiras que qualquer um notaria à primeira vista. Preocupada, sua mãe perguntou:

— Aconteceu algo? Por que seu rosto está tão abatido? Não me diga que ficou lendo aquele livro durante toda a noite outra vez!

   Thiago levou a mão atrás da cabeça, coçando-a. Seu rosto demonstrava um misto de embaraço e constrangimento. Ele riu nervosamente enquanto falava com sua mãe sobre o ocorrido.

— Mãe... sabe, só... aconteceu, eu nem vi a hora passar — disse ele.

   Sua mãe, desapontada, tentando processar o ocorrido, virou-se em direção à pia, onde estavam dois pratos com pão, e logo mandou seu filho se sentar para comer.

— Coma rápido, você precisa ir para a casa do seu avô. Eu não estarei aqui essa semana e...

Thiago a interrompeu e completou a frase da mãe:

— E eu não quero que você fique sozinho durante esse tempo. Sim, mãe, eu já sei, não se preocupe.

   Enquanto sua mãe continuava dando mil motivos para não deixá-lo sozinho em casa, Thiago apenas pensava sobre tudo aquilo que ele sabia que não tinha resposta. Finalmente, ele poderia tirar essas dúvidas com seu avô. E, após se recompor de seu pequeno transe, ele se levantou depressa.

— Mãe, já acabei de comer, estou indo, tudo bem? — Thiago estava ansioso; sua fala era rápida.

— Bem... Sim, por favor, vá com cuidado. Ele pegou sua bolsa, que estava sob o sofá, e foi até sua mãe, dando-lhe um beijo na bochecha. Saiu apressado em direção à porta, enquanto ela ainda falava:

— E, filho, fala que estou mandando um... Ela foi interrompida pela batida da porta. Ele já tinha saído. Foi muito ágil.

— ...um abraço para ele — ela terminou.

   Após chegar à casa de seu avô, ansioso para vê-lo, Thiago gritou:

— Vovô! Está aí? Apareça! Seu avô, ao ouvir os gritos, desceu lentamente as escadas. Um sorriso de ponta a ponta surgiu em seu rosto ao ver o neto.

— Thiago! Quanto tempo! Você está bem? Está com fome? Um abraço forte e quente envolveu o corpo de Thiago.

— Oi, vovô. Eu já comi, obrigado! Minha mãe te avisou, né? Vou passar alguns dias com você, tenho muitas coisas para te perguntar. Seu avô logo o interrompeu:

— Vamos com calma, vai ter muito tempo ainda para tirar suas dúvidas. E esqueceu que hoje você ainda tem aula? Uma expressão desanimada surgiu no rosto de Thiago.

— Não me olhe assim, Thiago. Enquanto estiver aqui, não poderá faltar nenhum dia. Agora, vá se trocar, está quase na hora, não quero que se atrase.

— Mas, vovô... — seu avô o rebateu:

— Mas nada, Thiago. Preciso que vá, seu futuro depende disso.

   Thiago subiu as escadas com uma cara desapontada e brava, dirigindo-se ao banheiro. Após um tempo, seu avô o chamou de baixo:

— Thiago, vou sair por um instante. Quando voltar, acredito que você já terá ido.

Thiago escutou e respondeu:

— Claro, vovô, entendido.

   Depois de um tempo, ele desceu as escadas, indo em direção à porta. Ele escutou algo, como um diálogo entre duas pessoas, mas o vocabulário parecia um pouco antiquado para a época atual. Ele começou a se aproximar do local e percebeu que o som vinha de dentro da parede. Isso está vindo aqui de casa?  Thiago pensou. Tenho certeza que sim.

   Ainda interessado, ele percebeu que estava quase atrasado. Saiu rapidamente, mas acabou esbarrando em um livro na estante. O livro caiu no chão, revelando um pequeno botão no meio da estante, quase imperceptível. Ele apertou o botão e a parede de onde vinha o som misterioso se abriu, revelando uma... oficina? Thiago logo pensou: Por que uma simples oficina estaria tão escondida assim? Ele entrou e logo em seguida ficou paralisado. Thiago pensou consigo: Agora eu sei por quê...

Ecos Do Passado Onde histórias criam vida. Descubra agora