Capítulo 8

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Martín L Arango

Depois do intenso momento que dividimos juntos, a executiva adormeceu, com o rosto escondido na curva do pescoço, a perna direita por cima da minha cintura, o braço do mesmo lado envolvendo meu corpo.

O cansaço físico pode ter sido grande, modéstia a parte, mas o emocional é maior, Allana guardou muito por longos anos, deixando a culpa a corroer e vivendo algo que com certeza não era dela.

Minha missão de vida agora é ser uma fonte de alegria aos Vásquez, mostrando que sim, podemos ser felizes juntos.

A minha mente viajou até o México de dois mil e nove, a pequena família que formei, a melhor amiga que encontrei durante a jornada, Soledad foi a pessoa que mais torceu pelo meu relacionamento com Lana. As palavras dela eram "¡Eres un tonto, Mar!"; "Seré un hermoso recuerdo en tu vida. Allana es el hecho."

Se fosse hoje ela me diria "¡Deja de hacer tonterías, Mar!", com alegria e orgulho.

O toque do meu celular me tira do transe, sorrateiro tento desvencilhar da loira na cama, que exclama xingamentos incompreensíveis e pego o aparelho no bolso da calça, na tela o número é de Luna, vou ter uma conversa com essa garota.

- Luna mía, ¿de qué ya hablamos de burlarse de mí? (Minha Luna, o que já conversamos sobre tirar sarro de mim?)-O tom da minha voz sai brincalhona.

- Não sei o que quer dizer. Pode me escutar -disse Julie, mandona e raivosa. Como pode ser parece tanto com a mãe.- A minha mãe sumiu, estamos ligando que só dá fora de área...

- Ela está comigo.-explico antes que a jovem tenha uma síncope.

- Como assim?

Não posso demonstrar nervosismo, ou estes adolescentes vão me colocar no bolso. Eu vou tentar ser o mais verdadeiro possível.

- Eu tive que vir a Niterói, passei em casa e como estava sozinha, veio comigo.

- Onde vocês estão?

- Passeando pelo centro, mas já que a bebê está com saudades da mamãe. Eu vou levá-la de volta.

- Mexicano insuportável!-exclama entre os dentes.

E quando escuto a movimentação para desligar a chamo:- Ei, Ju?

- Hum!

- Escolhe uma das casas, pede pizza, coloca os colchões no chão para assistirmos algo.

- Você não é o meu pai?

- Isso é óbvio! Sou o tio legal, não se esqueça disso!

Ela desligou ao responder um "Tá!", senti a voz amorosa e fiquei olhando igual um tolo para a tela.

Eu adoro os filhos dela e tomara que me aceitem como o padrasto.

Distraído, não percebi a bela loira observando, ela forçou uma tosse, ao encará-la me chamou com o dedo indicador e fui como cachorrinho, coloquei meu corpo por cima do dela e ataquei a boca com vontade. As pernas seguram-me para não fugir, se tiver chances de acontecer, estou onde quero.

E nos amamos mais uma vez.

Ela deitou em cima de mim, fitando meus olhos com a feição curiosa e o sorriso cínico.

- Posso saber com quem estava falando que extraiu este sorriso bobo?

- A tua filha!

- Droga!-exclama com raiva, tentando sair, foi minha vez de segurá-la com um abraço e esforçando-se para não deixar a reação dela magoar-me.

- Pode me explicar o porquê dessa atitude?

- Como explicar aos meus filhos onde estou?

- Já fiz isso!

- Quem te deu o direito?-pergunta com grosseria.

Eu a tirei de cima de mim, sai da cama, recolhendo as roupas do chão, contando mentalmente de olhos fechados.

- Eu tenho uma filha pré-adolescente e evito mentir ou omitir informações importantes, tentei fazer o mesmo com a tua filha, pois realmente tenho planos de futuro com vocês, quanto menos enganamos melhor. E apenas disse que estar comigo em Niterói. Ela aceitou, brincou e nos espera no momento para assistir algo. Sem maldades ou desconfiança.

Dentro do banheiro, olhando no espelho, respirei fundo. Sempre soube que nossa relação não seria mar de rosas, só não esperava a primeira desavenças vir tão cedo. Entrei no box, abrindo o chuveiro e deixando a água cair pelo corpo, Allana invadiu o banho cabisbaixa e puxou-me para o abraço.

- Perdão, cariño! Meus filhos são difíceis de lidar e não sei a reação esperar.

Seguro o rosto com as mãos encarando-a nos olhos, sério.

- São apenas como qualquer pessoa na idade deles. Isso é culpa, Lana, por achar que merece um mau tratamento, mas nós dois teremos que decidir em prosseguir. E em relação às crianças. Qual será meu limite?

- Da minha parte nenhum! Eles vão te mostrar.-Ela suspira resignada.- Eu sou uma péssima mãe, não conheço os talentos deles, as vontades nada.

- Vamos mudar isso juntos, mi amor?

- Sí!

Depois de tomar banho, nos vestimos e nos preparamos para a pequena viagem de volta. O clima estava pesado, atitude que tomei, foi imprensar a mulher na porta do quarto e beijá-la com toda a vontade e zelo, expulsando qualquer mal-estar.

A motocicleta já percorria o caminho contrário. A executiva apertou forte a minha cintura como se fosse o próprio mundo nos braços. Só que irei mostrá-la, não preciso ser por completo e sim um dos seus importantes continentes.

Sentimentos CompartilhadosOnde histórias criam vida. Descubra agora