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     Com meus braços cruzados rente a meu peitoral, me mantendo escorado no peitoril do barco pesqueiro de Larry, assisti Lucien aprendendo a abrir uma vela. Seus olhos brilharam como o céu mais estrelado, e um sorriso radiante de quem adoraria fazer isso mais centenas de vezes apenas pela mera empolgação. Tylia caminhou pelo convés, olhando para o céu azul e para as dezenas de gaivotas e tesourinhas. Ela se aproximou, agora com seus olhos vigilantes sobre Lucien, e se escorou ao meu lado.

—Acho que descobrimos o hobby favorito de Lulu. — ela me olhou cética, seus olhos bem abertos e brilhantes.

—Quem me dera ser menino de novo. — soprei, o ouvindo gargalhar com Larry o contando uma história aumentada de pescador.

— Então você foi rejeitado pela filha do cavalariço... — Tylia soprou e meu cenho franziu imediatamente.

— Presumo quem tenha dado com a língua entre os dentes.

— Não foi Lulu. — ela rapidamente, de maneira mansa, saiu em defesa de nosso irmão caçula. — Toda a criadagem está sabendo e comentando. Acho que Felipa não era tão doce quanto você imaginava.

— Ela não seria imprudente de cometer tal erro. Sabe bem do sangue em minha veia e o custo que seria a ela tal coisa.

— Algumas mulheres são tão venenosas quanto cobras. — Tylia zombou, me olhando de esguelha com desdém puro em seu rosto. — Talvez ela acredite que isso a trará algum tipo de valor.

— Não vim até aqui para falar de Felipa! Vim para esquece-la!

— Sinto muito! Mas se quer esquece-la veio ao lugar errado! Talvez o prostibulo perto do porto real te ajude.

— Céus! Alguém deveria lavar a boca de minhas irmãs. — ri pego de surpresa com aquela pequena graça, e Tylia sorriu largo como se tivesse ganhado uma batalha.

— Ora! Talvez você encontre lá seu novo grande amor. Você arruma uma a cada verão. No passado foi a filha da cozinheira, neste a do cavalariço, e o que antecede estes por uma plebeia no sul de Hartz em sua viagem com nosso pai. Torci a cara, com meus lábios esticados em desgosto.

—Que desaforo... — resmunguei — E ainda tem a audácia de dizer que eu sou mais parecido com Lulu do que você com ele.

— Acho que temos o mesmo senso de humor. — ela encolheu os ombros, segurando uma mecha do cabelo que era jogada contra seu rosto pela brisa marítima.

Lucien

Tylia estava sentada no divã, olhando para Amara, enquanto esta balançava seu bebê. Eu estava deitado, com os dedos de minha irmã brincando em meus cabelos, e meus olhos lutando para se manterem abertos com a caricia. Tylia devia ser alguma fada do sono para com que apenas um afagar de seus dedos em meus cabelos parecer roubar todas minhas energias e me convidar a um apreciado descanso. Ethos arqueou a sobrancelha, acompanhando Amara ir de um lado a outro, parecendo cansada.

— O dê para mim! — Ethos disse calmo estendendo os braços, e Amara suspirou aliviada.

— Ele está com cólica! — Ela respondeu aflita, e abri uma brecha de meu olho tão pesado, para ver Ethos o receber em seus braços e minha irmã o instruindo cuidadosamente o que fazer para ajudar a aliviar.

— Não podemos apenas joga-lo fora? — perguntei com a voz arrastada pelo sono, e em resposta ganhei um tapa na cabeça vindo de Tylia.

— Então devíamos ter te jogando para as fadas! Você era o maior dos chorões! — ela provocou rindo de um jeito malvado, e torci a cara com o som dá risada de Ethos ecoando enquanto meu sobrinho parava de chorar embalado contra seu corpo.

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