~05~

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 — Então, o que você fez que deixou nosso pai tão irritado? — Lucien perguntou limpando com a costa da mão a grossa camada de espuma de cerveja sobre o lábio.

Vez ou outra, nosso pai permitia, em eventos especiais, que Lucien provasse de apenas um cálice de vinho e nada mais. E não seria exceção hoje. Apenas um copo e nada mais. Se eu deixasse meu irmão caçula bêbado em seu quarto, os problemas apenas aumentariam. Era melhor manter Lulu sobre rédeas curtas.

—Coisa de adulto.

—Então agora você tem pudor em suas palavras? — ele rebateu crítico, e rolei meus olhos pela taberna lotada e barulhenta. — Eu fiquei de castigo hoje, e assumi algo que não foi minha culpa. Tenho direito de saber!

Às vezes, Lucien agia como o irmão mais velho, e isso me enchia de fúria contra mim mesmo.

— Você sabe que as vezes me envolvo com algumas moças...

— Algumas é um termo fraco. Muitas já é aceitável. — ele balançou a cabeça em negativa e cocei meu couro cabeludo.

Ótimo! Meu irmão mais novo me dando um sermão...

— Engravidei uma no verão passado. — soprei com meus olhos baixos, encarando uma mancha sobre a superfície gordurosa da mesa. Quando ergui meus olhos para espiar a reação de Lucien, seus olhos pareciam que iam sair das orbitas e sua boca mais aberta era impossível. Sua pele que parecia leve tom de bronze tinha ficado pálida.

—Você está falando sério? E onde está seu pequeno bastardo? — incredulidade reverberou pela boca de Lucien, e agarrei sua cabeça, o dando uma chave de braço.

—Fale baixo, pequeno gambá!— rosnei e ele praguejou sem ar e o soltei. — Obviamente nosso pai não o aceitou. Deu um bocado de dinheiro a jovem e a mandou para muito longe, muito antes de ter o bebê. E me ameaçou! Disse que se eu me envolvesse de novo com a criadagem, a mataria na minha frente como punição por minha desobediência.

Lucien ficou mudo. Seus olhos ainda esbugalhados, fixos em meu rosto severo.

— Que injustiça! Ele deveria transformar você em um eunuco!

—Que raios... — ameacei dar um cascudo e Lucien se encolheu. — Não é nosso pai que diz quanto maior a família, melhor?

—Acho que isso só cabe a ele. — Lucien deu de ombros, solvendo mais um gole de cerveja.

—Não pensa assim? — ri estranhando a calma e desdém no rosto de meu irmão.

— A menos que eu precise repovoar este lugar, não faz sentindo uma linha de sucessão tão grande, que meus herdeiros passem tempo de mais ociosos apenas esperando alguém bater as botas para diminuir de forma insignificante sua distância a sucessão ao trono.

Aquilo me tirou uma risada genuína, cheio de estranheza.

—Então você passa muito tempo ocioso? — questionei e ele deu de ombros. Acho que em pouco tempo a língua de Lucien estaria tão solta que seria perigoso. Me levantei, acenando para ele que, com grandes e rápidos goles terminou sua bebida e me seguiu para fora da taberna. Do lado de fora, dois bêbados rolavam como dois cães, disputando algo que não me interessava.

Lucien

Alguma coisa tentou me mordiscar e acordei praguejando, com a claridade exorbitante me impedindo de sequer abrir os olhos. Sombra se fez a frente, junto de uma risada familiar rouca e grave.

—Bom dia Lulu! Desjejum? — abri uma fresta de minha pálpebra, irritadiço e confuso, e vendo Ethos me entender um punhado de feno. Me sentei, olhando para o monte de feno que estava deitado e para o cavalo ainda tentando mordiscar minhas roupas.

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