Conflitos

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Ao chegar em casa, tudo parecia tranquilo. Minha mãe estava na cozinha, preparando o jantar, e meu pai assistia à TV na sala. Eu ainda estava com a cabeça nas nuvens, pensando em Beto e no jantar que combinamos para o fim de semana. Enquanto subia para o meu quarto, minha mãe chamou.

– Júlia, vem aqui um minuto.

Desci e fui até a cozinha. Ela estava cortando legumes, mas parou quando me viu entrar.

– Sim, mãe? – perguntei, tentando disfarçar.

Ela me olhou com um olhar curioso. – Você parece... diferente. O que aconteceu hoje na faculdade?

Sentei-me na cadeira ao lado dela e respirei fundo. – Mãe, preciso te contar uma coisa. No fim de semana, vou jantar com um policial... aquele que me ajudou ontem.

Ela deixou a faca cair na tábua de cortar e me encarou, chocada. – O quê? Júlia, você está louca? Um policial? E ainda mais um do BOPE?

– Mãe, calma – tentei acalmá-la, levantando as mãos em sinal de paz. – Ele é diferente. O nome dele é Roberto, mas ele prefere ser chamado de Beto. Ele me protegeu. E eu quero conhecê-lo melhor.

Ela balançou a cabeça, visivelmente perturbada. – Júlia, você sabe como a polícia vê isso aqui. Eles não querem proteger a gente, querem ver a gente morta. Policial só traz problema, minha filha. Você não pode confiar nele.

Meu pai, ouvindo a discussão, levantou-se da sala e veio para a cozinha, com o rosto fechado. – O que tá acontecendo?

– Júlia tá dizendo que vai sair com um policial – minha mãe explicou, ainda indignada.

– Tá de brincadeira, caralho? – meu pai gritou. – Você quer trazer mais problema problema pra dentro de casa? Esses caras só sabem matar e depois fingir que estão ajudando.

– Vocês não entendem, vocês só me sufocam – eu gritei, levantandoda cadeira. – Ele é diferente, ele me salvou.

– Salvou hoje, mata amanhã! – meu pai rebateu. – Eu não quero você perto desse tipo de gente.

– Júlia, você tá sendo ingênua! – minha mãe exclamou, quase chorando. – Não vê que ele só quer te usar?

– Eu sei o que fazer com a porra da minha vida! – gritei, a frustração transbordando.

Meu pai levantou a mão, me segurando com a outra e ameaçando me bater. – Júlia, eu te juro que se você falar assim de novo...

Puxei meu braço e sai correndo da cozinha, com lágrimas nos olhos, e me tranquei no quarto. Meu celular vibrou ao meu lado. Era uma mensagem do Beto.

Beto: Chegou bem em casa?

Sorri ao ver a mensagem e rapidamente respondi.

Júlia: Oi, Beto. Cheguei sim, tudo certo. E você, tá bem?

Beto: Tô bem, sim. Só queria ter certeza que você tava segura.

Júlia: Obrigada pela preocupação. Então, já decidiu o que vamos jantar no sábado?

Beto: Pensei em fazer uma massa. Gosta?

Júlia: Óbvio! 😍 vou levar um vinho pra acompanhar.

Beto: Jamais, não precisa trazer nada.

Júlia: Certo, capitão kkkk se tivermos uma próxima vez, te acompanho na corrida.

Beto: Pra correr comigo tem que ter coragem. E pelo que vi ontem, você tem muita coragem. 😏

Júlia: Haha, obrigada, mas eu chorei igual um bebê. E você tem um jeito de ser bem protetor.

Beto: Eu protejo quem merece.

Beto enviou uma foto fardado, com o semblante sério. Senti meu rosto queimar.

Júlia: Uau... acho que você fica bem com essa farda 🥵

Beto: Fico melhor sem ela.

Júlia: BETO KKKKKKKK eu sou tímida.

Beto: Só para descontrair KKKKK. E sobre sábado, estou ansioso feito um adolescente.

Júlia: Eu também... Você não imagina o quanto.

Beto: Aiai, Júlia! Agora preciso ir, vou estar de serviço a madrugada toda.

Júlia: Fica bem, Beto. Se cuida.

Beto: Obrigado. Boa noite, Júlia. Se cuida também, estou de olho, viu?

Júlia: Boa noite, Beto.

Fechei o aplicativo com um sorriso no rosto, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação. O jantar seria um momento importante, e eu mal podia esperar para ver como tudo se desenrolaria.

Deitei na cama, tentando acalmar minha respiração. A discussão com meus pais ainda ecoava na minha mente. Por que eles não conseguem ver além do uniforme? Por que julgam Beto sem conhecê-lo?

Mas, por outro lado, eu sabia que a realidade deles era diferente. O medo que meus pais sentiam era real, e eu não podia simplesmente ignorar isso. Eu estava dividida entre a gratidão por Beto e o respeito pela preocupação dos meus pais.

Peguei o celular de novo, olhando para a foto que Beto tinha enviado. Havia algo no seu olhar que me fazia sentir segura, mas ao mesmo tempo, trazia à tona todas as advertências que meus pais tinham feito.

Meu coração estava em conflito.

Fechei os olhos e tentei me imaginar no jantar com Beto, a conversa fluindo, as risadas, a música ao fundo. Será que ele poderia ser diferente?

O som da notificação do celular me despertou dos pensamentos. Era uma mensagem de Beto.

Beto: você não sai da minha cabeça, garota.

Meu coração acelerou. Será que ele realmente estava interessado? Ou eu estava imaginando coisas?

Júlia: Sério? Pensei que você só estivesse sendo educado..

Beto: quem me dera

Júlia: Você também não sai da minha cabeça, Beto.

Beto: Isso é bom de saber.

Júlia: Parece que estamos dentro de uma fanfic kkkkk vou dormir, boa sorte no trabalho.

Beto: o que é fanfic? Kkkkkk Obrigado, Ju. Boa noiteee

Júlia: kkkk te conto no nosso jantar. Boa noite, Beto

Fechei o celular e suspirei, sentindo uma mistura de ansiedade e expectativa. O jantar seria um teste para nós dois, e eu precisava estar preparada para o que viesse.

Mas algo no ar me dizia que o que viria a seguir seria ainda mais complicado. E talvez, apenas talvez, eu não estivesse totalmente preparada para enfrentar o que o destino tinha reservado para mim.

Laços Invisíveis | capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora