Ⅷ • CORRE

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Sophie

Minha cabeça estava atormentada com aquela conversa de proteger a Sam e de matar ela, logo, não consegui dormir. Pela primeira vez desde que tínhamos chegado no acampamento, Sam dormiu em outra cama. Talvez isso também tenha motivado minha insônia. 

Desde o dia em que comecei a ser amiga dela, na diretoria, eu percebi o quão empática ela era, e era impossível não notar isso nela. Eu não iria tentar convencer ela de que matar alguém era certo, porque sabia que nem nos maiores pesadelos de Sam ela acharia isso correto. O problema disso era que ela nunca se colocaria em primeiro lugar, como nessa situação. 

Brigar com Sam me deixava sempre muito nervosa. Normalmente, a gente se resolvia no dia seguinte, e como a esmagadora maioria de nossas brigas eram por minha culpa, eu sempre pedia desculpas e voltávamos a ser como de costume. Mas dessa vez não tinha errados ou falta de consideração. Sam e eu discordamos, e só. Eu precisava de um cigarro para acalmar meus nervos, ou mínimo de música, ou de Sam. Mas eu não tinha mais nada. Esse acampamento tirou tudo de mim. Eu precisava descansar, mas era impossível. Não se descansa sentindo medo.

— Sophie? — Alex me cutucou.

Fechei meu punho involuntariamente e dei um pulo, assustando-me. Meu corpo estava preparado para o ataque, mas quando vi Alex, lembrei de que ele parece que não conseguiria matar nem uma mosca. 

— Hm? 

Sentei-me em meu beliche e ele ficou ao meu lado. O encarei, desconfortável.

— Vocês acordam tarde assim mesmo? — Ele perguntou.

— Tá todo mundo acordado, a gente só não quer levantar — revirei os olhos e bufei. Meu corpo inteiro estava exausto.

Vi Marck se sentar no beliche dele também. Ele me encarou e inclinou levemente a cabeça e os olhos para Alex. Entendi que ele estava querendo que eu introduzisse o assunto da cabana com Alex. 

— Hm... Alex.

— Oi?

— Onde fica sua cabana? — Fui direta.

— Nas montanhas, em uma floresta. É um pouco longe. Por quê?

— A gente queria ir até lá. Procurar alguma coisa. Qualquer coisa, qualquer mesmo. A gente não pode continuar nesse lugar.

Vi nos olhos escuros de Alex formarem lágrimas e suas mãos tremerem. Ele era uma pessoa muito estranha.

— Q-quê? Eu não quero voltar lá. Meu pai tava... aberto na sala — ele respondeu com a voz trêmula.

— Eu sei, eu sei que é difícil pra você — tentei consolá-lo. Ele iria me levar para aquela cabana nem que eu tivesse que entrar no corpo do pai dele e mandar ele me falar onde era aquela cabana. — Mas é a nossa única chance. Você quer fazer justiça pelo seu pai? 

— S-sim.

— Então a gente precisa fugir. Você não é um de nós, mas pode se tornar, entende?

Ele limpou as próprias lágrimas e acenou que sim com a cabeça, logo em seguida me abraçando. Fiz uma cara de nojo e não retribuí o abraço, nunca fui uma pessoa de toque físico, só com quem tenho muita intimidade. Cada um de nós comeu um pote de comida enlatada, bebeu água e começamos a nos organizamos para ir para a cabana. Peguei minha arma e a segurei, lembrando que só tinha uma bala e que era melhor usá-la com cuidado. 

Convenci Alex a nos guiar pelo caminho e todos nós fomos. Alana e Sandy eram os únicos falando durante o trajeto, e sussurrando. Sam nem olhava na minha cara. Não conseguia a julgar, até eu estava ressentida pelo que estava prestes a fazer. Eu ouvia o meu estômago roncar e pensava se aquilo realmente estava certo, mas ao ouvir o estômago de Sam roncar, eu sabia que não havia outra opção. A culpa me corria como um fio solto que alguma hora faria o tecido rasgar.

O Abismo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora