Nós

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Dois dias se passaram desde o convite do Beto. O dia do jantar finalmente chegou, e eu acordava cedo com uma mistura de ansiedade e empolgação. Sabia que, antes do jantar, precisava resolver algumas questões pendentes em casa e tentar acalmar os ânimos com meus pais.

Na cozinha, encontrei minha mãe preparando o café da manhã. O ambiente ainda estava tenso, mas eu precisava tentar consertar as coisas.

– Bom dia, mãe – disse medrosa.

Ela me olhou por um momento, antes de responder com um leve aceno de cabeça. – Bom dia, Júlia.

– Eu sei que você está preocupada, mas... queria que você confiasse em mim. Só isso.

Ela suspirou, colocando as mãos na cintura. – Não é fácil, Júlia. Não é fácil ver você se envolvendo com alguém que representa tanto perigo pra gente.

– Eu entendo – respondi, tentando manter a calma. – Mas você não conhece ele. Dá uma chance, pelo menos.

Ela balançou a cabeça, ainda hesitante. – Eu só quero que você seja feliz, mas quero que você também esteja segura, minha filha.

Meu pai entrou na cozinha, e o clima ficou ainda mais pesado. Ele não falou nada, apenas pegou uma xícara de café e sentou-se à mesa.

– Pai, eu vou sair para jantar hoje – disse, tentando ser direta. – Eu sei que você não gosta da ideia, mas eu vou.

Ele me olhou com um misto de preocupação e raiva. – Júlia, eu só quero o seu bem. Só quero que você tome cuidado.

– Eu vou, pai. Prometo.

Meu pai me lançou um olhar de desaprovação e desconfiado. Antes de sair de casa para encontrar Guilherme, que estava me esperando no pé do morro, minha mãe se aproximou de novo.

– Você realmente vai contra nossa vontade? – ela perguntou, a voz tremendo de emoção.

– Mãe, eu sei o que estou fazendo.

Meu pai se levantou, batendo a xícara na mesa. – Júlia, você sabe o que está fazendo com a porra da sua vida? – gritou, levantando a mão me ameaçando

– Eu sei, pai! Eu sei o que estou fazendo com a porra da minha vida! – respondi, com lágrimas nos olhos e saí da cozinha, revoltada.

Guilherme estava me esperando, e ao me ver com os olhos vermelhos, sua preocupação aumentou.

– E aí, Ju. Como você tá? – perguntou, me abraçando.

– Tô nervosa, Gui. Meus pais ainda não aceitaram a ideia, e eu não sei o que esperar desse jantar.

– Vai dar tudo certo – ele disse, tentando me acalmar. – Eu acho isso tudo uma loucura, mas se esse cara for realmente diferente, vai valer a pena.

Houve uma pausa, e percebi algo estranho no olhar de Guilherme, algo que nunca havia notado antes. Um brilho de ciúmes.

– Ju, só toma cuidado, tá? Não quero que você se machuque.

– Pode deixar, Gui. Eu sei o que estou fazendo... além disso, é só um jantar.

Nem eu acreditava nisso

Passeamos pelas ruas da Rocinha, conversando sobre a vida e tentando aliviar a tensão. Guilherme sempre sabia como me fazer rir e esquecer dos problemas, mesmo que por alguns instantes.

Enquanto caminhávamos, senti meu celular vibrar. Era uma mensagem de Beto.

Beto: Bom dia, Júlia. Dormiu bem?

Laços Invisíveis | capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora