27- Um punhado de girassóis.

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Fiquei nervosa de repente. Nunca tinha feito uma entrevista antes, ainda que fosse perfeitamente capaz de falar no microfone e na frente de um público razoável.
Na escola eu sempre apresentava os trabalhos na linha de frente, por causa da minha boa dicção e também pela boa capacidade de falar em público.
Mas ali, sendo vista e ouvida por milhares de telespectadores, meu nervosismo bateu com força.

Mordi o lábio pensativa.

- Para que dia é, Daivy? - Perguntei, me sentando na minha cama e encarando o girassol, querendo que ele me trouxesse um pouquinho de calmaria.

- Amanhã a noite, o que significa que a senhora tem o dia todo para se arrumar, porque sabemos que são milhões de telespectadores. - Meu coração palpitou, estranho. - Posso ir com você, se quiser.

- Isso. Você vai comigo, preciso de você lá comigo. - Só a ideia de ter Daivy ao meu lado, eu não ficaria tão assustada. O meu estúdio era recente, agora que estava decolando e eu não sabia se me assustava mais a ideia de ter aqueles milhões de olhos me observando ou se a ideia de ele perguntar perguntas inusitadas, perguntas desconfortáveis como as quais eu não estava disposta a responder em público.

Rezei para que ninguém fizesse perguntas íntimas sobre meu irmão. Rezei para que tudo saísse com esmero e que eu não cometesse nenhum gafe, porque depois daquele programa, meu estúdio decolaria.

- Então, ok. Respire fundo, se acalme. Vou passar o resto da noite estudando possíveis perguntas que cairão e estudar o roteiro para passar para a senhora logo cedinho, tudo bem? - Eu não poderia ter contratado pessoa mais experiente para aquela área.

- Ótimo. Obrigada, Daivy. Vou me preparar.

Quando ele fez menção de desligar, o chamei.

- Pode me chamar de Rebeca. - Escutei ele sorrir do outro lado da linha e eu também sorri, grata.

Desliguei o telefone e me joguei na cama, encarando o teto. Meu Deus! Como a minha vida pôde mudar tanto em poucos dias, poucas semanas?
Participar daquele programa seria o maior desafio que eu já pude desfrutar em toda a minha vida.

Em instantes, Daivy já estava comunicando sobre a entrevista com os outros do estúdio e eu desci para jantar e falar sobre a entrevista com o meu irmão e pedir suas dicas, já que ele participou do mesmo programa um tempo atrás.

- É só ser você mesmo. - Deu de ombros, enfiando uma garfada de macarrão na boca. - Não há truques e eu não posso deduzir as perguntas que cairão, porque raramente eles repetem as perguntas. Então... só respire.

- Como se fosse fácil, né, Alex. - Pensei por um instante. - É um salto muito grande para mim. Até pouco tempo atrás eu não tinha mais do que dez alunos, hoje já conto com mais de trezentos e milhares de seguidores no Instagram. Não sei bem o que fazer a partir de agora é para falar a verdade, estou assustada. - Murmurei as duas últimas palavras e abaixei o olhar.

- Ôh maninha, eu sei como é estar na sua pele, mas não se assuste. Ao contrário, se anima! - Olhei para ele. Senti tanta ternura. Eu não era nada parecida com Alex, até porque, éramos irmãos adotivos, mas tinha algo que tínhamos em comum: força de vontade, vontade de vencer na vida. - Tudo está acontecendo por causa do seu talento e você sabe disso! Se anima porque mais do que tudo, EU estou na torcida por você. Estou sempre ao seu lado...- Ele estendeu a sua mão sob a mesa e eu estendi a minha também. Não importava o que acontecesse, se meu estivesse orgulho de mim, isso bastava.

- Obrigada. Eu te amo muito. - Falei, tentando não chorar.

- Eu também te amo demais. A única coisa do mundo que faria eu largar tudo. - Eu sorri, feliz. Ainda que eu sofresse na vida, eu tinha o meu irmão e isso bastava.

Naquela noite, peguei algumas dicas com Alex sobre como me comportar e esperar sair primeiro as perguntas e responder com cautela.
Ouvi atentamente e depois das dez da noite, me retirei para o meu quarto, me jogando na minha cama novamente. Tirei o dia de amanhã para acordar mais tarde e me arrumar, não compareceria a escola devido a entrevista.

Meus pensamentos voaram até Adrien e no seu girassol. Pensei que um girassol não bastaria e que aquele logo morreria. Com essa desculpa esfarrapada, pesquisei seu nome no Instagram e digitei a seguinte mensagem:

" Esse girassol vai morrer e eu ficarei muito triste. Um não é o bastante, Rodrigues."

Esperava que ele não me chamasse de ingrata por isso e como ele me chamava de Garcia – combinava tão bem comigo, nunca imaginei que seria tão perfeito, – imaginei que poderia chamá-lo de Rodrigues.
Enquanto esperava uma resposta, fiz minha skin care noturna. Quando meu celular vibrou, corri para pegá-lo e sorriu quando vi que a mensagem era dele.

"Se quiser, posso te mandar um punhado de girassóis para você ou um por dia, você que sabe. Não é muito para mim."

Dei um sorriso tão bobo quando li a mensagem e tapei meu rosto com o travesseiro, pensando no que responder.

"Eu gostaria."

Pensei no convite e imaginei se meu irmão já teria falado com ele e então abordei o novo assunto, ainda mais entretida na conversa.

"Meu irmão falou com você sobre a viagem para Malibu? Você vai?"

Tomara que sim!
Tomara que sim!
Tomara que sim!

Eu torci mentalmente, rezando para ele dizer que sim, que iria viver aquela experiência conosco.
Mas quando a mensagem chegou, retirei imediatamente o sorriso do meu rosto.

"Não."

***
Seguinte...

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