Conheci um senhor (com seus 50 e poucos anos) na fila da padaria, e ali começou uma boa amizade. Tínhamos nos encontrado na padaria toda manhã, e nossas conversas matinais eram bem agradáveis. Tão agradáveis que com o passar de dois anos, havia pessoas na panificadora que achavam que nós éramos da mesma família ou que a amizade fosse de longa data.
Essa nossa amizade estava tão bacana, que quando esse senhor ficou desempregado, ficamos um tempo a mais fora da panificadora conversando e em um dia, minha mãe estacionando o carro perto de nós, me avisou que havia ocorrido um problema na empresa onde trabalha e ela não iria tomar café da manhã comigo. Ela cumprimentou o senhor e entrou na padaria para comprar algo para tomar até chegar na empresa. Na saída comentei com minha mãe sobre o desemprego do senhor meu colega, e ela comentou que na empresa estavam precisando de motorista e ela poderia indicá-lo. Podíamos ver em seus olhos a gratidão dele pela oferta de minha mãe e então ela teve a ideia:
- "Porque não vem comigo? Só irei na empresa verificar a documentação de uma carga e já apresento o senhor ao RH, o senhor verifica a documentação que precisa levar pra eles e já retorna comigo. Não irei demorar lá"
- "Claro, porque não. Nos dias de hoje, não podemos desperdiçar uma oferta de emprego não é? E o 'não' eu já tenho" - e todos rimos.
Minha mãe então foi com o senhor para a empresa e antes de retornarem, minha mãe me ligou falando que o senhor Beto iria almoçar conosco. Fiquei muito feliz quando eles chegaram e minha mãe comunicou que o Senhor Beto havia sido aceito na empresa e começaria logo no outro dia, com um acompanhante fiscalizando nas primeiras viagens, e fomos a um restaurante próximo de casa, onde minha mãe fez questão de irmos almoçar.
[...]
Após quase um ano do senhor Beto estar trabalhando na mesma empresa que minha mãe, e o vendo na padaria, quando não estava viajando a trabalho, notei que eu sempre que o via, sentia vontade de ficar conversando com ele. Mas era uma vontade diferente, uma vontade estranha de querer estar perto dele. E em um momento que estávamos no despedindo, pedi pra ele almoçar comigo. Ele disse que precisava dormir, pois havia chego na madrugada de viagem, que era seu dia de folga e ele queria descansar. Eu falei que não queria almoçar sozinha e que depois do almoço, ele poderia voltar a dormir, mesmo que no outro dia seria um Sábado e ele poderia dormir o dia todo. Ele riu e disse que almoçaria comigo. Nos despedimos e fui para casa tomar meu café da manhã, onde comentei com minha mãe, que havia convidado o senhor Beto para vir almoçar conosco.
- "Filha, tentarei vir um pouco mais cedo, para te ajudar com o almoço... mas... mas... o que você acha do senhor Beto?"
- "Acho ele uma pessoa bacana, educado, ..." - e minha mãe me interrompeu, perguntando séria.
- "Filha, me fala, o que você acha do senhor Beto?"
- "Ai mãe, que pergunta"
- "Me fala logo... Seus olhos brilham quando você fala sobre ele, quando você conversa com ele... vocês estão tendo algo?"
- "Mãe, claro que não!"
- "Mesmo? Não estou brigando filha. Só quero saber!"
- "Não mãe, não estamos. Estranha essa sua pergunta"
- "Filha, eu acho... acho ele bem bacana também, mas vou falar a verdade... Já pensei nele de outra maneira... E achei que você e ele..."
- "Mãe... me conta isso!" – interrompi minha mãe.
- "Filha, sou de 'carne e osso' também"
- "Sei sei... me conta mãe"
- "Filha, deixa pra lá. Vou indo, não posso me atrasar"
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Nosso Motorista, Nosso Dominador.
Non-FictionPodemos vir a ter o início de uma amizade (normal ou até íntima), no lugar que menos podemos esperar. Claro que para isso acontecer, antes de entregar-se intimamente, deverá conhecer muito bem a pessoa. Se você é do tipo que conhece a pessoa e em...