Ⅹ • M.

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Sophie

Novamente, não dormi. Já nem sabia mais como era a sensação de sonhar. Se acontecesse algo conosco e eu não nos protegesse ou ao menos tentasse, eu morreria de tanta culpa, então não podia dormir. Olhei para o lado e vi Sam acordando. Ela acordava bonita, diferente de mim, que acordava toda bagunçada.

— Bom dia.

— Bom dia — ela sorriu, esticando suas pernas e ainda sonolenta.

Olhei para baixo e vi Marck acordado, arrumando sua mochila e segurando seu arco.

— Pra que um arco? Você tem superpoderes, porra.

— Sophie, de um a dez, quão confortável você acha que é um OSSO atravessando sua pele? — Ele perguntou. Não respondi. — Pois é.

— Justo.

— G-gente. A g-gente podia i-ir procurar água e c-comida enquanto o-os outros v-vão procurar s-sinal. S-se n-não tiver s-sinal na c-casa do Alex, a g-gente precisa fug-gir. E precisa d-de c-comida — Alana nos lembrou.

— Ok. Quem vai pegar os celulares? — Marck perguntou. — Eu vou.

— Eu também. Quero fuxicar a vida dos outros — posicionei-me.

— Eu vou ir com a Alana. Tô começando a ficar com mais fome — Sam declarou.

— Idem — Sandy respondeu.

Assim fizemos. Me despedi de Sam com um beijo na sua bochecha e fomos em direção à cabana dos professores. Estava em mãos com o carregador de Sam. 

A cabana continuava bem feia, mas não tinha mais fumaça. Lembrei de como a queimei, fumando. Eu só queria uma última vez um novo cigarro, por mais que tentasse disfarçar e tivesse vergonha. Meu corpo implorava pelo mínimo de descanso.

Tentei ignorar meus pensamentos, ficando de frente para a porta da cabana e eu e Marck nos entreolhamos. Entramos lá e estava muito melhor que da última vez que entrei. Tanto daquela vez quanto nessa, não vimos nenhum corpo. Ainda bem, porque se eu visse, a culpa dentro de mim iria me corroer sem parar. Certas partes do segundo andar, que é o teto do primeiro, estavam no chão e tinham alguns buracos na parede. Fazendo alguns machucados no caminho, subimos a escada e percebemos que a madeira estava muito frágil, mas parecia ser mais resistente do que a da cabana de Alex. Quando subimos, vimos um corredor, e no final dela, um escritório. Tinha um computador, algumas estantes com livros e decorações em excesso. Meu corpo tremia um pouco com a possibilidade de o andar despencar a qualquer momento.

— Será que jogaram foram os celulares? — Marck perguntou.

— Difícil. Só se queriam desde o início que a gente morresse.

— O que é bem possível. Começando pela comida. 

Ri com certo deboche lembrando da comida. A comida enlatada era mil vezes melhor, mas ainda era ruim. Só de pensar em comida eu senti minha barriga roncar. Sam costumava cozinhar muito bem, sempre fazendo bolos e biscoitos para mim. Sinto falta disso.

— Achei! — Marck gritou para mim, do outro lado do escritório.

Vi ele mexendo em uma caixa na prateleira de uma estante, lá estavam os celulares. Pareciam ter vários. Nos sentamos no chão, separamos os celulares pelos descarregados e os carregados, e começamos a examinar os carregados.

Peguei um dos celulares carregados e o liguei. O papel de parede do celular era uma foto de Alicia e Emily juntas. Não sabia qual das duas era dona do celular. A capinha do celular era uma capinha padrão, apenas com a cor sólida amarelo-claro. Retirando a capinha, percebi o RG das duas. Tentei o aniversário de Alicia, e não era a senha. Tentei o aniversário de Emily e o celular abriu.

O Abismo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora