𝘾𝙖𝙥𝙞́𝙩𝙪𝙡𝙤 09

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[ Olá! Um capítulo pequeno, mas apenas para mostrar um pouco do ponto de vista do nosso peão violeiro! Obrigado pela atenção. ]

- Capítulo 09: Trindade -

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- Capítulo 09: Trindade -

Tê-la em meus braços foi confortável, sua pele gelada tocando a minha quente, um contraste estranho, mas de alguma maneira consegui sentir algo diferente. Pela primeira vez o cramulhão soprava enigmas, palavras difíceis de compreender.

Naquele momento meu coração errava uma batida, a preocupação percorria dentro de mim.

O vento cortava o ar enquanto eu galopava pela estrada. O cavalo respondia aos meus comandos, suas patas batendo no solo com força. Tibério seguia logo atrás, seu cavalo também em galopes rápidos.

Respirava fundo, sentindo o cheiro da terra molhada e do suor dos cavalos. Torcia para chegarmos logo à fazenda. A mulher estava inconsciente, seu corpo frágil e frio contra o meu peito. Não sabia exatamente o que estava acontecendo comigo naquele momento, mas só conseguia pensar nela, na ruiva em meus braços.

🍂

Agora estou aqui, apenas pensando naqueles lindos olhos verdes. Assim que meu olhar encontrou o seu, não pude conter um sorriso.

Todos estavam preocupados com Ruby, a mulher que antes era totalmente desconhecida por mim. Após alguns minutos que a ruiva acordou e a discussão acabou, o patrão mandou eu, Tibério e Tadeu para o trabalho. Claro ainda tínhamos muito o que fazer. Fique incomodado de sair sem antes falar ou analisar melhor a mulher encantadora.
Apenas soltei um suspiro pesado.

- Que foi peão? Tá perdido. - Tibério falou do meu lado, apenas levantei os olhos em sua direção.

- Só pensando, peão. - solto um sorriso divertido.

- Ah larga a mão! Ocê' tá é pensando na moça né? - ele responde com um sorriso maroto, cutucando meu ombro de maneira brincalhona.

- Sai fora Tibério, só achei tudo aquilo estranho. - indireto a postura. - Quem tá pensando numa moça é ocê, Muda né? - vejo Tibério mudar de cor, isso pode ser a vergonha no momento.

- Eu acho que tamo proseando demais!

- Oxe! Com vergonha peão? - brinquei com sua expressão, compartilhamos alguns risos depois.

Depois da nossa conversa, peguei meu chapéu e saí para terminar meus afazeres. O sol estava alto, lançando sombras longas sobre o chão poeirento da fazenda. O trabalho era árduo, mas eu me sentia em casa, entre os campos e os animais.

Mais tarde, voltamos ao alojamento. Estava cansado e suado, a poeira grudada na pele e o cheiro de terra impregnado nas roupas. A luz do entardecer pintava o céu com tons de laranja e rosa, e eu me permiti um momento de descanso.

Finalmente, pude tomar banho. A água morna escorria pelo meu corpo, tirando a sujeira e o cansaço. Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo a tensão dos músculos se dissipar. O cheiro do sabonete era simples, mas reconfortante. Meus cabelos, antes emaranhados e empoeirados, agora estavam limpos e soltos.

A noite caiu, e eu ainda estava acordado. O silêncio era profundo, apenas o vento sussurrando pelas frestas do alojamento. O resto da peonada estava dormindo, suas respirações ritmadas e tranquilas. O cansaço persistia, mas o sono teimava em não chegar.

Não aguentava mais. Me levantei da cama, a noite lá fora parecia chamar meu nome. Segui em passos calmos e sem rumo, a luz da lua iluminando meu caminho. Até que minha visão foi agraciada com ela: a mulher de cabelos vermelhos como o fogo. Senti um suspiro escapar, escondido pelas sombras que se faziam presentes. Ela estava ali, misteriosa e com uma expressão serena, como se fosse parte da própria noite.

A primeira vez que vi Ruby, seus olhos verdes me prenderam. Eram como esmeraldas brilhantes, capazes de revelar segredos e ocultar outros. Seus cachos ruivos dançavam ao vento, rebeldes e cheios de vida. Mas o que mais me marcou foi seu olhar determinado, como se ela carregasse o peso do mundo nos ombros. Porém, por trás de toda aquela coragem, havia uma tristeza profunda, algo que eu não conseguia decifrar completamente.

' Ela é seu destino '

O sopro do tinhoso fez meu corpo estremecer.
Pude escutar sua voz calma, aquilo fez um sorriso pequeno surgiu em meu rosto. Finalmente sai do meu pequeno "esconderijo".

— Cê tá com Sardade', porque ficou aqui? – me aproximei com passos lentos até ficar frente a frente com ela. Aquele feitiço em seus olhos, que eu não poderia escapar com facilidade.

— E ocê porque não cuida da sua vida? – arrebate rapidamente.

— A moça é cheia das respostas, pra alguém que ajudou ocê. – dou um passo adiante e vejo ela se afastar de forma arredia. – não tenha medo.

— Não tenho medo de nada. – ergue a cabeça mostrando confiança. Sua expressão é pensativa e logo depois conclusão dos seus pensamentos. – Agora entendo, ocê que foi xeretar a tapera né?

— Sim, eu mesmo, Xeréu Trindade, seu único criado. – estendi a mão em sua direção, ela olhou desconfiada, mas não fez nada, fui ignorado, soltei um suspiro. – Ocê é a Ruby, não fomos apresentados devidamente. O que a moça faz aqui fora?

— E Pur'que ocê que sabe? – a ruiva se afastou novamente, se escondendo com a manta que a cobria do frio.

— Só curiosidade, não é bão andar sozinha por aqui. – olhei pelos lados, estávamos realmente sozinhos.

— Ocê é xereta, eu sei me cuidar! – aos poucos sinto o tom da sua voz se alterar e logo depois um empurrão, fazendo minhas costas baterem na parede próxima.

Ela me empurrava literalmente para longe, e a dor nas minhas costas era um lembrete constante da sua força.Mas, estranhamente, eu a admirava por isso.
A ruiva saiu correndo, seus cabelos flamejantes voando atrás dela como uma bandeira de desafio. Ruby não era uma mulher que precisava de proteção; ela era uma tempestade em forma humana, capaz de enfrentar qualquer adversidade com uma determinação feroz.

Enquanto a observava desaparecer na escuridão, vi a bravura em seus olhos.

Levantei, massageando minhas costas doloridas. A noite estava silenciosa, apenas o vento sussurrando entre as árvores. A lua brilhava acima de mim, e eu me permiti um momento de reflexão.

E naquele momento, sob o manto prateado da noite, eu soube que não poderia mais fugir. Ruby havia se tornado parte do meu destino, e eu estava disposto a enfrentar todos os mistérios que ela trazia consigo. Afinal, o fogo que ardia em seus cabelos também queimava em meu peito, e jamais irei ignorar.

◌◦𝙐𝙢 𝙇𝙤𝙗𝙤 𝙑𝙚𝙧𝙢𝙚𝙡𝙝𝙤 - PANTANAL ᠂◞Onde histórias criam vida. Descubra agora