Caos

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Na manhã seguinte, acordei ao lado de Beto, deitados na sua cama ainda com um areia na pele e a lembrança da noite passada. Fiquei observando ele dormir por longos minutos, mas a realidade me atingiu com força ao lembrar da briga com meus pais. Precisava voltar para casa e enfrentar o que deixei para trás naquela noite. 

No seu criado, deixei um bilhete escrito: "Obrigada pela noite, você é incrível. Beijos, da sua Ju". No caminho, tentei não pensar muito, quando cheguei, meu pai estava furioso, e minha mãe chorava. A tensão no ar era palpável. Tentei entrar silenciosamente, mas meu pai percebeu e veio em minha direção, o rosto vermelho de raiva.

– Onde você tava, Júlia? – ele rosnou, os olhos faiscando. – Você sai daqui feito uma louca, e agora volta como se nada tivesse acontecido?

– Pai, eu não queria discutir... – comecei, mas fui interrompida.

– Discutir? Você quase matou sua mãe de preocupação, caralho! – gritou, aproximando-se mais. – Esse desgraçado tá te levando pra um caminho sem volta!

Minha mãe tentou intervir, mas meu pai a afastou bruscamente. Senti meu coração apertar, e a raiva e o medo começaram a crescer novamente em mim.

– Vocês não entendem nada! – gritei, sentindo a frustração transbordar. – Eu quero estar com ele, eu quero viver, quebrar a cara, me arrepender se preciso. Vocês precisam aceitar isso!

Meu pai deu um passo para trás, incrédulo. – Aceitar? Você não vê que ele é um fardado, Júlia? E pior, do BOPE! Você sabe o que isso significa aqui nessa merda de lugar que a gente vive? 

Antes que eu pudesse responder, a porta da frente foi aberta com um estrondo, e Junior, meu ex-namorado da adolescencia, entrou, com um olhar feroz e um revólver na mão.

– Que porra tá acontecendo aqui? – ele gritou, apontando a arma para meu pai. – Vi tua filha com aquele babaca do BOPE, isso não vai ficar assim.

A sala explodiu em caos. Minha mãe gritou e correu para a cozinha, enquanto meu pai levantou as mãos, tentando acalmar Juninho.

– Calma, calma! Não precisa disso, Juninho! – ele implorou. – Vamos resolver isso de outra forma, tu sabe que eu to contigo. 

Eu me coloquei entre meu pai e Juninho, tentando desarmar a situação.

– Junior, por favor, abaixa essa arma. Não quero problemas – implorei, o meu coração batia forte e quase me faltava o ar

– Problemas? – Junior riu amargamente. – Vocês já têm problemas. E agora vão ter mais ainda.

Ele se aproximou de mim, o olhar cheio de ódio. Colocou o dedo na minha cara, e sua voz saiu baixa e ameaçadora no meu ouvido

– Tá brincando com a tua vida, Júlia – ele sussurrou. – E com a vida da tua família. Tu acha que é esperta, mas não passa de uma idiota metida.

Senti uma onda de raiva e medo me dominar, mas mantive a cabeça erguida.

– Vai se foder, Junior – respondi, tentando não demonstrar o pânico que sentia. – Você não tem o direito de falar comigo assim, você é um merda, traficantizinho de merda, o teu chefe vai amar saber a merda que tu tá fazendo.

Como se ouvisse meus pedidos, Beto entrou na minha casa no exato momento, de óculos escuros e boné, foi como se meu coração se acalmasse no mesmo instante. 

Trocando olhares furiosos, Junior e Beto pareciam estar dispostos a qualquer coisa. Junior riu, um som amargo e cruel, e começou a me xingar, puxando meu cabelo com força

– Essa puta da sua namoradinha já sentou pra muito traficante, cansou de me mamar – disse, cuspindo na minha cara. – Tu acha que ela vale a pena?

Beto olhou para ele com um ódio intenso.

– Cala essa boca, seu filho da puta! – ele gritou, a voz carregada de raiva. – Você tá mexendo com a pessoa errada. Solta a arma agora, senão eu vou te foder!

Junior ignorou e continuou a me provocar, passando a mão pelo meu corpo de maneira grotesca e me machucando. Ele puxou meu cabelo com força e sussurrou no meu ouvido:

– Eu vou acabar com tua vida, sua vadia.

– Larga essa arma.  – Beto ordenou, a voz baixa e mortal.

Junior hesitou, mas não abaixou a arma. O olhar de Beto era gelado, e ele não pensou duas vezes em avançar, pronto para proteger a mim e minha família a qualquer custo.

– Beto, não! – gritei, o medo rasgando minha voz.

A tensão na sala era insuportável, e qualquer movimento poderia desencadear uma tragédia. Meu pai tentou novamente intervir, mas foi empurrado para trás por Junior, que estava claramente à beira do descontrole.

– Abaixa essa porra dessa arma – Beto repetiu, desta vez mais firme.

Finalmente, Junior recuou, abaixando a arma lentamente. Mas antes que pudesse ser desarmado completamente, ouviu-se um disparo. Não sabia de onde veio, mas o som foi ensurdecedor. Tudo parecia acontecer em câmera lenta.

O impacto me atingiu com força, e eu caí no chão, sentindo uma dor aguda na barriga. O pânico tomou conta da sala. Beto correu para desarmar Junior, enquanto eu tentava conter o sangramento.

– Júlia! – minha mãe gritou, o rosto contorcido de desespero.

Juninho riu, um som sombrio e cheio de desprezo.

Beto olhou para ele com um ódio intenso. Ele não hesitou e começou a dar muitos murros em Juninho, a fúria evidente em seus olhos.

– Desgraçado! – ele gritou, a voz carregada de raiva. – Tu tá mexendo com a pessoa errada.

Juninho finalmente foi imobilizado, e Beto pegou o telefone, ligando para a polícia militar.

– Aqui é o Capitão Nascimento do BOPE. Preciso de uma viatura na minha localização, agora! – ele gritou no telefone, a voz firme e autoritária.

Depois, ele pegou seu celular e ligou para Matias, seu amigo pessoal.

– Matias, é o Beto. Preciso da sua ajuda, cara. A situação aqui é grave. Um traficante de merda invadiu a casa da Júlia, feriu ela. Eu... eu tô com ela. Preciso que você venha na minha localização.

Enquanto aguardava a chegada da polícia e de Matias, Beto manteve Juninho imobilizado, a raiva ainda pulsando em suas veias, mas seu foco agora era garantir a minha segurança e a da minha família.

Finalmente, o som da polícia militar abafou o choro desesperado da minha mãe. Os policiais invadiram a casa, rapidamente assumindo o controle da situação. Junior foi algemado e levado embora, ainda rindo com um desdém maligno nos olhos.

– Eu vou acabar com você, Júlia. Não vai ficar assim – ele gritou enquanto era arrastado.

Beto, com uma fúria renovada, acertou um soco em Juninho antes que ele fosse levado.

– Tu vai comer grama pela raiz – disse, a voz carregada de ódio e determinação.

Matias chegou logo em seguida, e Beto rapidamente explicou a situação, detalhando a relação dele comigo e o perigo que estávamos enfrentando.

– Matias, a Júlia precisa de ajuda médica agora. Ela foi baleada na barriga – disse Beto, a voz tremendo levemente com a preocupação.

Enquanto eu perdia cada vez mais sangue, a visão começava a ficar turva, e a dor se tornava insuportável. A última coisa que ouvi foi a voz desesperada de Beto, chamando por mim.

– Júlia, não fecha o olho, não dorme agora! por favor!

A escuridão tomou conta, e eu desmaiei nos braços dele, com a esperança de que tudo isso acabaria bem.

Laços Invisíveis | capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora