Tormento

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Sou o Capitão Nascimento do BOPE, e se tem uma coisa que aprendi nesses anos de combate ao crime, é que a vida é uma luta constante. Mas hoje, a luta é diferente. Hoje, a batalha é pessoal.

Depois de imobilizar Junior e chamar a polícia militar, me virei para Júlia. Ela estava caída no chão, o sangue se espalhando rapidamente pela sala. A visão dela ferida era insuportável. Cada segundo que passava era um lembrete de que eu poderia perdê-la, e isso eu não podia permitir.

Matias chegou pouco depois, e ao ver a cena, seus olhos se arregalaram de preocupação.

– Nascimento, o que aconteceu? – ele perguntou, ajoelhando-se ao meu lado.

– Esse filho da puta atirou nela. Ela precisa ir para o hospital o mais rápido possível.  – respondi, sem tirar os olhos de Júlia.

Ela abriu os olhos por um momento, a dor evidente em sua expressão.

– Beto... – ela murmurou, antes de fechar os olhos novamente.

– Júlia, não feche os olhos! Fica comigo! – gritei, o pânico crescendo em meu peito.

Os paramédicos finalmente chegaram e começaram a trabalhar em Júlia, colocando-a na maca e a levando para a ambulância. Fui com ela, segurando sua mão o tempo todo. Matias seguiu atrás de nós, garantindo que tudo estivesse sendo feito corretamente.

No hospital, a espera foi torturante. Fiquei do lado de fora da sala de cirurgia, as mãos ainda manchadas com o sangue dela. Cada minuto que passava sem notícias era um golpe. Eu, que já enfrentei traficantes armados e situações de extremo perigo, me senti impotente diante dessa situação.

Finalmente, um cirurgião saiu da sala, a expressão grave.

– Capitão Nascimento? – ele chamou.

– Sim, sou eu. Como ela está? – perguntei, a voz trêmula.

– A situação é muito crítica. A bala perfurou o fígado. Estamos fazendo tudo que podemos, mas ela perdeu muito sangue. As próximas horas serão decisivas – explicou o médico.

Olhei para Matias, que estava ao meu lado.

– Matias, precisamos de doadores de sangue. Júlia é O negativo. Pode organizar isso? – pedi.

Matias assentiu e imediatamente começou a fazer ligações. Eu voltei minha atenção para o médico.

– Doutor, faça o que for preciso. Não meça esforços. Essa mulher... – minha voz falhou. – Ela é a minha vida.

Enquanto a cirurgia continuava, sentei-me em uma cadeira de plástico no corredor, a mente girando com pensamentos caóticos. Revi cada momento que passei com Júlia, desde a primeira vez que nos conhecemos até esse dia fatídico. Prometi a mim mesmo que, se ela sobrevivesse, faria de tudo para protegê-la, custe o que custar.

As horas passaram lentamente. Finalmente, o cirurgião voltou, a expressão ainda mais sombria.

– Conseguimos estancar o sangramento, mas ela está muito instável. A bala causou danos extensos no fígado. Estamos fazendo o possível, mas as próximas horas serão críticas. Ela está entre a vida e a morte – disse ele.

Respirei fundo, sentindo um alívio temporário misturado com um medo esmagador. Agradeci ao médico e fui ver Júlia na UTI. Ela estava pálida, conectada a vários aparelhos, mas estava viva.

Aproximei-me dela, segurando sua mão.

– Júlia, você é a mulher mais forte que conheço. Preciso que continue lutando. Não desiste de mim, tá bom? – murmurei, minha voz embargada.

Matias entrou na sala, colocando a mão no meu ombro.

– Nascimento, ela vai sair dessa. A gente vai passar por isso juntos. Ela tem você, e agora ela tem a gente também – disse ele, tentando me confortar.

Passei a noite ao lado dela, incapaz de deixar o hospital. A cada beep do monitor cardíaco, sentia um pouco mais de esperança, mas a incerteza era esmagadora. Júlia era uma lutadora, e eu sabia que, se alguém pudesse superar isso, seria ela. Mas a gravidade da situação era inegável. O risco era enorme, e a fragilidade da vida estava mais presente do que nunca.

Na manhã seguinte, meu celular tocou. Era o Coronel Peçanha.

– Nascimento, onde você está? – Peçanha perguntou com a voz áspera.

– Estou no hospital, senhor – respondi, tentando manter a compostura.

– No hospital? E a operação no Cantagalo? Você deveria estar aqui, não bancando o namoradinho desesperado – ele respondeu com um tom sarcástico.

– Coronel, ela está entre a vida e a morte. Eu não posso deixar ela assim – expliquei, a voz começando a tremer.

– Você sabe qual é a sua prioridade, Nascimento? – ele retrucou, impaciente. – Sua prioridade é a missão. Não se esqueça de quem você é.

Minha raiva começou a ferver.

– Com todo o respeito, Coronel, minha prioridade agora é tirar ela desse hospital viva. O senhor não entende a gravidade da situação – disse, tentando manter a calma.

– Gravidade da situação? O que você entende de gravidade, Nascimento? – Peçanha respondeu com desdém. – Você está me dizendo que a vida de uma garota é mais importante do que uma operação que pode salvar dezenas?

– Ela é importante pra mim, Coronel. E eu não vou deixar ela morrer – respondi, minha voz se elevando.

Peçanha riu, um som frio e sem compaixão.

– Você está se deixando levar por emoções, Nascimento. É por isso que nunca vai subir na hierarquia. Fraco. – Ele disse, a última palavra gotejando desprezo.

– Fraco? O senhor não tem ideia do que está falando! – gritei, minha paciência se esgotando. – Eu sempre dei minha vida por esse trabalho, mas não vou abandonar essa mulher por uma missão.

– Se você não voltar agora, estará acabado. É isso que você quer? Destruir sua carreira por uma mulher? – Peçanha provocou, a voz carregada de veneno.

– Vá se foder, Coronel! – eu explodi, desligando o telefone com força. Arremessei o celular contra a parede com toda a minha raiva.

Virei-me para a parede e comecei a dar murros. Cada golpe era um grito de dor, frustração e medo. Minha mão começou a sangrar, mas eu não conseguia parar. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu chorava, questionando minha capacidade. Tudo parecia estar desmoronando.

Matias tentou me segurar, mas eu estava fora de controle.

– Beto, calma. Não é assim que vamos resolver isso – ele disse, a voz firme mas compassiva.

– Eu não sei mais o que fazer, Matias. Eu estou perdendo tudo. Eu não posso deixar ela ir! – gritei, sentindo-me impotente.

Minhas mãos doíam, e o sangue escorria pelos meus dedos. Finalmente, caí no chão, exausto, encostando a cabeça na parede.

– Eu não sei se sou forte o suficiente para isso, Matias. Eu não sei mais quem eu sou – sussurrei, a voz cheia de desespero.

Matias se agachou ao meu lado, colocando uma mão no meu ombro.

– Você é forte, Beto. Você sempre foi. E você vai superar isso, pelo bem dessa garota. Mas agora, você precisa se acalmar e pensar com clareza – ele disse, sua voz um farol de razão no meio do meu caos interno.

Respirei fundo, tentando me recompor. Eu precisava ser forte, por ela. Precisava acreditar que ela ia sobreviver, que íamos superar isso. Mas, naquele momento, a única coisa que eu conseguia fazer era chorar e esperar.

Cada segundo que passava era uma batalha, mas eu estava determinado a lutar por ela. E enquanto eu estivesse ao lado dela, sabia que teríamos uma chance.

Laços Invisíveis | capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora