Capítulo 7 - O Vício

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  Catarina estava sentada na cozinha escura de sua casa. Carolina, sua irmã, fazia uma refeição com as sobras do dia anterior. O cheiro quente da comida povoava o ar, porém não despertava a fome das meninas.
Os olhares eram cansados, os olhos estavam fundos... não havia conversa.

Não havia dinheiro.

Haviam perdido tudo.

Saíram de um apartamento luxuoso para uma casa pobre e feia... tudo mudou.
Catarina se perdeu nos vícios e bebidas, porém ainda havia uma esperança! Esse bebê dentro de sua barriga!
Carolina às vezes observava-a de soslaio, pensando que aquela criança poderia mudar a vida delas, pois Nicholas, mesmo que não aceitasse casar com sua irmã, seria obrigado a dar dinheiro a ela, para cuidar da criança, assim elas estariam a salvo!
Catarina mantinha as costas curvadas, nem se quer acariciava o bebê em seu ventre. Mantinha os olhos baixos, perdidos no chão, vagando pelo mar de pensamentos que a consumia.
Sua irmã havia notado que Catarina estava mais irritada e agressiva nos últimos dias; possuía episódios de tristeza marcantes e estava vivendo mais dentro de si do que no mundo real. Carolina pensou que pudesse ser só a preocupação com a situação financeira e com sua nova posição, de mãe; entretanto, ela começava a ficar preocupada.
Logo, resolveu perguntar:
     - Irmã... você está muito mais abatida que o normal. Sei que nossa situação não ajuda, mas você quer dizer algo?
Os olhos de Catarina tremeram levemente.
      - Nicholas Antúrio é o pai da criança.
Carolina sobressaltou-se.
      - Mas não foi isso que eu perguntei... eu sei que está preocupada e eu também quero muito que seja verdade... contudo, você me deixa apreensiva, irmã.
      - Ele é o pai e vai ser obrigado a casar comigo! - ela repetia, com o olhar vago - ele me dará o dinheiro e estaremos a salvo... esse bebê pertence a ele. - disse com um leve toque na barriga, que não era carinho, mas apenas uma certificação de que a criança ainda estava ali.
Carolina franziu a testa com uma leve dor no peito. Sua irmã não estava nada bem, e não sabia mais o que fazer. Logo, voltou a cozinhar a pouca comida que restou para elas.

...

Dias se passaram, Nicholas permanecia sozinho em sua casa na fazenda. Ia trabalhar no campo como de costume, ajudando o velho fazendeiro com os árduos trabalhos rurais.
Antúrio nunca faltou ao trabalho, porém o vigor e a alegria de seu rosto desapareceram por completo. De vez em quando surgia um breve relance de felicidade e brilho em seu olhar, principalmente ao contemplar a natureza e ver a paisagem longínqua ao seu redor... A natureza verde e incomensurável, as plantas puras e as montanhas fazendo dobras entre os vales, como se fosse um altar sob o céu... por trás daquela beleza toda, havia um significado e, também, um Deus.
Mas, às vezes, tudo parecia perdido para ele.

A Grande Depressão da vila assustava os habitantes. Ela continuava se mexendo e produzindo tremores no chão. Diversas autoridades vieram para estudar um modo de resolver aquilo, ou, pelo menos, de deixar mais seguro, mas ninguém conseguiu.
Ela produzia solavancos que, por vezes, ficavam mais fortes e outras, mais fracos. Era totalmente instável e imprevisível.

Celina e Bernardo continuavam em suas vidas cotidianas, porém com um vazio habitando seus corações, que podia ser sutilmente preenchido por uma esperança e por um desejo de que tudo se encaixasse no final, mas ninguém poderia saber o resultado.
Enquanto isso, Martim tentava, a custo, recuperar o sucesso de sua banda. Porém, ele estava mais irritado que o normal, talvez ele estivesse começando a perceber que "pisar em cima" de Nicholas Antúrio não iria atrair sucesso para ele mesmo. Pelo contrário, só estava trazendo coisas ruins. A cada show eles perdiam mais dinheiro e as músicas não tinham a mesma fama e valor. Martim ficava furioso pois Nicholas levava os fãs para onde ele fosse, ele não compreendia como isso acontecia com ele, era injusto... mas era a verdade.

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