A noite caía sobre a vila, trazendo consigo um céu estrelado que brilhava como um manto de diamantes. As chamas da lareira crepitavam suavemente na casa de Morgana, onde todos estavam reunidos, desfrutando do calor e da companhia um do outro. Após a emocionante venda de geleias e a generosa oferta do casal cigano, o grupo sentia-se mais unido e esperançoso do que nunca.
Enquanto as conversas animadas preenchiam o ambiente, Seraphina observava Clarice com um olhar terno. A luz das velas refletia no rosto de Clarice, realçando sua beleza natural e o brilho nos olhos. Seraphina sentiu seu coração aquecer e, impulsivamente, levantou-se e estendeu a mão para Clarice.
— Vamos lá fora, quero te mostrar algo — disse Seraphina, sorrindo.
Clarice hesitou por um momento, mas a curiosidade e a confiança em Seraphina a fizeram aceitar o convite. Elas saíram de mãos dadas, deixando a casa barulhenta para trás e mergulhando na tranquilidade da noite.
Caminharam em silêncio até chegarem a uma clareira próxima, onde a vista das estrelas era ainda mais impressionante. Seraphina soltou a mão de Clarice e deitou-se na grama, olhando para o céu. Clarice, seguindo o exemplo, deitou-se ao lado dela.
— É lindo, não é? — sussurrou Seraphina, apontando para as estrelas. — Sempre venho aqui quando preciso pensar ou encontrar paz.
Clarice virou-se para olhar Seraphina, admirando sua serenidade. Sentiu-se grata por aquele momento íntimo e por ter alguém como Seraphina ao seu lado.
— Obrigada por me trazer aqui — disse Clarice, tocando levemente a mão de Seraphina. — Eu precisava disso.
Seraphina sorriu e virou-se para encarar Clarice. O silêncio entre elas era confortável, cheio de compreensão mútua. Depois de alguns minutos, Seraphina quebrou o silêncio.
— Clarice, eu preciso te dizer algo — começou, sua voz trêmula. — Eu sei que pode ser difícil de entender, mas desde o momento em que te conheci, senti algo especial. Eu tentei lutar contra isso, mas não consigo mais.
Clarice sentiu seu coração acelerar. As palavras de Seraphina ecoavam em sua mente, misturando-se com seus próprios sentimentos confusos.
— Seraphina, eu... — Clarice começou, mas foi interrompida.
— Eu sei que você não está pronta para namorar seriamente, e eu respeito isso. Mas precisava que você soubesse como me sinto. Não quero pressionar você, só quero ser honesta.
Clarice ficou em silêncio, assimilando as palavras de Seraphina. Sentiu-se tomada por uma mistura de emoções: confusão, medo, mas também uma sensação de conforto e felicidade. Ela se aproximou de Seraphina, segurando sua mão com firmeza.
— Seraphina, eu também sinto algo por você. É novo e um pouco assustador, mas quero explorar isso — disse Clarice, finalmente encontrando as palavras.
Seraphina sorriu, seus olhos brilhando com alegria. Ela apertou a mão de Clarice e se inclinou para frente, tocando suavemente os lábios de Clarice com os seus. O beijo foi breve, mas carregado de promessas e esperança.
Enquanto isso, dentro da casa, Morgana e Esmeralda estavam arrumando os últimos detalhes do jantar. Willian e Marryson estavam ajudando, conversando animadamente sobre os planos futuros. A atmosfera era de alegria e camaradagem, uma sensação de renovação e novas possibilidades.
De repente, a porta da casa se abriu com um estrondo. Um homem robusto, com a expressão severa, entrou apressadamente. Ele era um dos homens que trabalhava para o pai de Clarice. Seu olhar percorreu o ambiente até encontrar Clarice e Seraphina.
— Clarice! — gritou ele, marchando em direção às duas. — Seu pai está muito preocupado. Você precisa voltar para casa agora mesmo.
Antes que Clarice pudesse reagir, o homem segurou seu braço com força, puxando-a de maneira brusca. Clarice soltou um gemido de dor e tentou se desvencilhar, mas a força do homem a mantinha presa.
— Solte-a! Está machucando, não está percebendo? — gritou Seraphina, sua voz cheia de raiva e determinação. Ela se levantou rapidamente, tentando afastar o homem de Clarice.
O homem lançou um olhar desdenhoso para Seraphina, ignorando seu pedido. Ele continuou puxando Clarice em direção à porta, sem se importar com os protestos dela ou de Seraphina.
— Você não tem autoridade para dar ordens aqui, garota — retrucou o homem. — Estou apenas cumprindo meu dever.
Morgana e Esmeralda se aproximaram rapidamente, percebendo a gravidade da situação. Morgana colocou-se entre o homem e a porta, seu olhar firme e decidido.
— Esta é a casa de Clarice agora, e ela é livre para fazer suas próprias escolhas. Se você não soltá-la imediatamente, enfrentará consequências — disse Morgana, sua voz calma, mas cheia de autoridade.
O homem hesitou, sua confiança abalando-se diante da determinação do grupo. Ele olhou para Clarice, que estava com os olhos cheios de lágrimas, e depois para Seraphina, cuja expressão era uma mistura de raiva e preocupação.
Finalmente, ele soltou o braço de Clarice com um suspiro frustrado.
— Vocês não sabem com quem estão lidando. Isso não vai acabar bem para vocês — ameaçou ele, antes de se virar e sair da casa, batendo a porta atrás de si.
Clarice caiu de joelhos, segurando o braço machucado. Seraphina ajoelhou-se ao lado dela, abraçando-a com ternura.
— Você está bem? — perguntou Seraphina, a voz cheia de preocupação.
— Sim, estou — respondeu Clarice, tentando controlar as lágrimas. — Obrigada, Seraphina. E obrigada a todos vocês.
Morgana se ajoelhou ao lado de Clarice, segurando sua mão com firmeza.
— Estamos juntos nessa, Clarice. Não vamos deixar ninguém te machucar novamente — disse Morgana, sua voz cheia de determinação.
Willian e Marryson se aproximaram, oferecendo apoio silencioso. O grupo uniu-se em um abraço coletivo, sentindo a força da união e a certeza de que, juntos, poderiam enfrentar qualquer desafio.
A noite continuou, mas a tranquilidade anterior havia sido abalada. Mesmo assim, a determinação de proteger Clarice e garantir sua liberdade encheu o coração de todos. Sob a luz das estrelas, prometeram a si mesmos que lutariam até o fim para proteger uns aos outros e construir uma vida onde pudessem ser verdadeiramente livres.
E assim, enquanto as chamas da lareira crepitavam suavemente, o grupo adormeceu, sabendo que a batalha por sua liberdade estava apenas começando, mas também cientes de que, unidos, poderiam superar qualquer obstáculo que surgisse em seu caminho.
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⌊ 𝕽𝐄𝐍𝐀𝐂𝐈𝐃𝐀𝐒 ⌋
Ficção HistóricaNeste intrigante relato histórico, quatro mulheres destemidas da Idade Média buscam independência em um mundo dominado por normas opressoras. Longe de desejarem o caminho tradicional de casamento e submissão, elas desafiam as expectativas, enfrentan...