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K I N A — 09

É a segunda vez que esse tipo de coisa acontece: a Oito gosta a maioria do nosso tempo. Dessa vez ela gastou nosso tempo
comprando um palco imenso, várias roupas e luzes de várias cores.

Faz alguns minutos que desci e vi o telão. Temos alguns minutos. alguns minutos pra acabar.

As pessoas estão discutindo com a Oito, que permanece intacta com a mesma cara de sonsa que ela sempre faz.

— O que tem de errado?! — ela pergunta — Com essas coisas a gente pode gerar um bom entretenimento.

— O entretenimento vai ser eu chutando a sua boca, vagabunda! — a Dois chuta as roupas da Oito, que só ajeita os cabelos — Você gastou todo o nosso tempo de novo!

Sinto uma mão gelada encostando em mim, por cima da minha roupa. É a Quatro, mas está estranha: tremendo e respirando forte.

— Quatro?! — seguro sua cabeça, que parece estar quase rolando de seu corpo — Que merda!

Seu corpo amolece, seus olhos fecham e deixo que ela "caia" no chão, ainda segurando sua cabeça. A Cinco é a primeira que corre, depois o Um, que na verdade não é tão ágil assim.

Quatro começa a tremer e sua boca sai um liquido branco, como se estivesse convulsionando.
— Ela 'tá tendo uma convulsão?! — pergunto assustada, mas ninguém responde

— Espera! É um ataque epilético! — como se saíssem da transe, Três, o Sete e a Dois se aproximam — Ninguém toca nela! — a Cinco grita afastando as pessoas.

— Você tem formação médica?— o Três pergunta.

— Tenho. Eu sou enfermeira!

— Tem algum remédio pra isso?! — A Dois pergunta.

— Ela precisa de fenitoína. — os meninos ajudam a arrastar o corpo da Quatro até a farmácia. A Dois se aproxima dela, pronta pra pedir o remédio, mas o Seis a impede.

— Fica na sua. — ela o empurra — Ela não vão morrer. Epilepsia não mata.

— Se demorar, pode danificar o cérebro! — A Cinco explica com um desespero na voz enquanto ainda seguram o corpo da Quatro.

— Você se importa com você?! — pergunto — Imagina se fosse você no lugar dela!

— Mas não sou eu! — ele contesta.

Ignorando, a Dois continua seu caminho até a farmácia, mas o Seis puxa seu braço.

— Gente, é melhor colocar ela no chão. — falo e eles concordam. A Quatro ainda continua tremendo.

Quando olho pra frente, vejo a Dois e o Seis se chutando , dando murros e chutes um no outro. O Três e o Sete vão até eles na intenção de separar a briga. Eu tento ir, mas a Cinco me impede.

— Você 'tá vendo isso?! — grito para a Oito, que está recolhendo as roupas do chão — Se você não tivesse gastado o nosso tempo isso não aconteceria.

— Favelados. — é só isso que ela responde antes de voltar a recolher as roupas.

Quando retorno o olho para a briga, A Dois e o Sete estão no chão, com o Sete segurando ela. O Três está no telefone, pronto pra pedir o remédio quando toma um soco do Seis.

Olho para o chão. A Quatro ainda treme e a Cinco está ajoelhada do seu lado, pedindo para que ela fique calma.

— Que merda, que merda, que merda... — me ajoelho do seu lado também.

— Fenitoína! — o Três pede no telefone. Não vi como, mas o Sete e a Dois agarraram o Seis e o puxaram pra longe.

Escuto gargalhadas de longe e olho para a Oito. Ela está rindo, gargalhando.
O tempo aumentou. — ela ri mais alto, até se contorce — No desespero a gente até esqueceu que ganharíamos mais tempo com essa briga!

— Quarenta horas?! — o Três pergunta pra si mesmo.

Ela armou tudo?! Não. Não pode ser.
Ela nem sabe que a Cinco tem epilepsia.
Ou armou mesmo sem saber?!

Desgraçada! — grito ainda ajoelhada — O tempo quase acabou com sua gracinha! — me levanto, vou até suas roupas e rasgo a maioria que eu consigo antes que ela venha pra cima de mim gritando feito uma gazela.

Oito puxa meu cabelo. Pego em sua nuca, chuto sua perna e levanto meu joelho de maneira que ela caia com o queixo no meu joelho. Ela grita, morde a língua e sua boca sangra muito. O Seis vem pra cima de mim. É o único que tenta separar a briga.

Todo mundo odeia a Oito.

Ele me dá um soco no rosto e minha vista fica preta por alguns segundos. Quando minha pressão volta ao normal, vejo o Sete dando um soco no Seis e o Três afastando os dois.

— Parem!— A Cinco fala assim que o Três puxa o Sete — Vamos manter a calma, por favor.

Passo a mão na testa e vejo que está sangrando. Olho para o lado e vejo a Oito sentada no chão com a mão na boca. Também sangra.

A Quatro está sentada ao lado da Dois, que segura um frasco de fenitoína. Elas sorriem pra mim como se gostassem do que eu acabei de fazer.

Eu gostei de bater na Oito, amei.
Mas não gostei de tomar um soco.

THE 8 SHOW - número nove.Onde histórias criam vida. Descubra agora