capitulo quatro. • perdendo a cabeça.

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A culpa

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A culpa. A culpa era algo que Anya carregava desde o desaparecimento de Vance, uma sombra que se tornava mais densa e insuportável com a ausência de Bruce.

Talvez, se ela estivesse com eles. Talvez, se tivesse esperado Bruce se arrumar. Talvez, se tivesse insistido para que Vance dormisse em casa com ela. Talvez, então, nada disso estaria acontecendo. Mas estava. E este era seu pesadelo vivo.

A vida de Anya já era marcada pela tormenta: relações ruins com os pais, problemas psicológicos, e uma mente que frequentemente a sabotava. Ainda assim, ela tentava manter uma fachada de serenidade.

Isso, claro, foi antes do desaparecimento de seu namorado.

Quando Vance foi dado como desaparecido, Anya se transformou. Começou a beber até perder a consciência, fugindo da realidade. O álcool era uma forma de entorpecer a dor, de silenciar os gritos de angústia que ecoavam em sua mente.

Logo, o cigarro entrou na sua vida, tornando-se um ciclo vicioso que preenchia os vazios deixados pela ausência. Suas olheiras profundas eram testemunhas silenciosas de noites mal dormidas e de um coração em pedaços. As brigas com a mãe tornaram-se mais frequentes, diálogos transformados em gritos. O pai, uma figura quase fantasmagórica, mal a via, perdido em seu próprio mundo. As únicas almas que ainda tentavam ajudar eram Poppy e Bruce.

Poppy e Bruce, companheiros de vícios, mas de forma controlada. Eles bebiam e fumavam, sim, mas não com a mesma intensidade destrutiva de Anya.

Com o desaparecimento de Bruce, a situação só piorou. Anya já não conseguia dormir direito; a insônia era uma velha companheira, e seus problemas só aumentavam. A culpa se fazia cada vez mais presente, uma presença sufocante e constante.

Ela não tinha vontade de sair do quarto. Preferia o refúgio sombrio de sua cama, onde podia fixar o olhar em um ponto qualquer do teto, deixando sua mente vagar. Ou então, preferia manter-se chapada, afastando os pensamentos que a atormentavam. O quarto, outrora um espaço de descanso, tornara-se uma prisão autoimposta.

Anya, outrora cheia de vida, agora era uma sombra do que fora. Seu mundo desmoronara, e ela estava perdida, perdida e se afogando em um mar de desespero e culpa.

Anya estava sentada na banheira de seu quarto, o único lugar onde sentia que poderia se isolar verdadeiramente. O banheiro era pequeno apenas para ela. A água quente ao seu redor envolvia seu corpo, proporcionando um breve alívio do frio constante que sentia por dentro.

Mas sua mente estava longe de encontrar paz; ao invés disso, mergulhava em pensamentos sombrios e desesperados. Se ela o fizesse, será que a dor finalmente desapareceria? Será que se juntaria a Vance e Bruce, e isso traria alívio para todos?

Com mãos trêmulas, Anya pegou a gilete que estava cuidadosamente posicionada ao lado da banheira. A lâmina reluziu sob a luz suave do banheiro, fria e afiada. Ela pressionou a gilete contra o antebraço e fez o primeiro corte com precisão calculada. A dor física era quase um alívio, uma sensação tangível que desviava sua mente do tormento emocional.

Ela cortou uma vez.

Cortou duas vezes.

Cortou três vezes. O sangue começou a escorrer livremente, misturando-se à água da banheira e transformando-a em uma piscina vermelha. Anya observava hipnotizada, sentindo-se desconectada de seu próprio corpo. Queria que aquilo acabasse logo, desejava que a dor e a escuridão fossem levadas.

Soltando a gilete, ela a deixou cair no fundo da banheira, fazendo um pequeno som de metal contra porcelana. Então, com um último suspiro, afundou-se na água, fechando os olhos. A falta de ar rapidamente se tornou insuportável, mas ela permaneceu submersa, recusando-se a emergir. Não conseguia respirar, mas também não queria mais lutar.

De repente, uma sensação estranha a tomou. Parecia que uma mão a estava puxando para fora da água. Com os olhos arregalados, ela olhou ao redor, mas não havia ninguém ali. O banheiro estava vazio, exceto pelo vapor que se acumulava no espelho. Então, palavras começaram a se formar no espelho embaçado: "Não tente isso, não faça isso com você mesma, não se culpe por algo que você não fez."

Um arrepio percorreu seu corpo inteiro.
Antes que pudesse processar o que estava acontecendo, uma batida na porta a trouxe de volta à realidade, fazendo ela tomar um susto.

"Any! Cheguei!" A voz de Poppy ecoou pelo quarto. Anya sorriu, mas então se levantou apressadamente, ainda sangrando, e começou a limpar tudo que estava sujo.

Quando a ruiva saiu do banheiro, Poppy a olhou desconfiada e rapidamente notou o braço ensanguentado de Anya.

"Que merda é essa?" perguntou, preocupada, seus olhos cheios de alarme. Anya desviou o olhar, incapaz de enfrentar o julgamento de sua melhor amiga. Poppy era a única pessoa a quem ela não conseguia mentir. "Any..."

Poppy suspirou profundamente e foi buscar o kit de primeiros socorros que sempre ficava no quarto de Anya. Estava lá porque Vance se metia em muitas brigas, e Anya sempre cuidava dele.

Enquanto Poppy pegava o kit, Anya trocava de roupa, movendo-se de maneira automática. Não tinham vergonha uma da outra; após quatorze anos de amizade, Poppy nao era uma estranha, por que teria vergonha? eram como irmãs.

Anya vestiu uma blusa listrada e um shorts, e então Poppy começou a cuidar do braço da amiga, após lavar cuidadosamente as mãos. "Não faça isso com você mesma," disse Poppy enquanto aplicava um antisséptico nos cortes. Sua voz era suave, não estava a julgando mas estava com medo. "Eu não suportaria."

"Não aguento mais essa sensação, Poppy," respondeu Anya, sua voz quebrada. Olhava para baixo enquanto Poppy secava os cortes. "Eu só... eu não vejo um motivo para continuar. Estou sofrendo tanto aqui." Uma lágrima escorreu pelo rosto da ruiva, misturando-se ao sangue seco em seu braço.

"Fique por mim," pediu Poppy, sua voz embargada por emoção. "Se você for, eu juro por Deus que eu vou atrás de você." As lágrimas ameaçavam cair de seus olhos, mas ela as conteve."Não suportaria viver em um mundo onde você não existe."

E era verdade. Desde crianças, elas eram inseparáveis, bricavam como SuperPopps e SuperAny. Não havia um universo onde as duas estivessem separadas. Se existisse, seria um mundo caótico.

"Eu te amo," sussurrou Anya, sentindo-se um pouco mais leve com a presença reconfortante de sua amiga.

"Eu te amo até o infinito," respondeu
Poppy, sorrindo enquanto terminava de cuidar do braço de Anya.

As coisas eram fáceis quando a loira estava por perto, conseguia ser só.. ela. Era apenas ela e Poppy. Melhores amigas para todo e além do sempre.

𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒 , finney blake x vance hopper (reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora