A Saga das Três Irmãs - Capítulo 23

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Jordano estava debruçado sobre o livro. A julgar pela maneira como o folheava e coçava a barba, tinha um interesse genuíno pela obra. O príncipe estava encostado ali perto. De vez em quando, olhava intrigado para as folhas saltitantes.

No entanto, para a surpresa do jarl, que estava sentado no outro canto da mesa, a pessoa mais perplexa no salão era ninguém menos que Halthora. Como uma criança curiosa, a feiticeira roía as unhas, a esperar migalhas de conhecimento. O velho chefe da aldeia não resistiu à curiosidade.

"E então, Jordano" — disse Hemming — "Que segredos temos nessas letrinhas?"

"É uma longa história..." — respondeu o guarda real — "Foi escrito por um monge irlandês chamado Fergalus. Ele conta muitas histórias antigas sobre seu povo, principalmente sobre viagens marítimas a terras distantes."

"Um monge? O seria isso?" — quis saber Halthora.

"São sábios cristãos que vivem trancados em castelos" — respondeu o príncipe — "O livro fala algo sobre os elfos? Vigdis falou que o pingente foi trazido de um reino de elfos."

"Ela falou isso?" — perguntou a feiticeira, um tanto confusa — "Jordano, encontre a página onde está o símbolo do pingente. Quero saber mais sobre isso."

Jordano levou algum tempinho, mas acabou encontrando o estranho símbolo. Era realmente um sapo verde, não um homenzinho de elmo como Jorun havia pensado. O cavaleiro leu e releu as palavras ao redor da imagem, embora não pareça ter compreendido muito.

"Acho que é um tipo de amuleto" — disse ele, sem estar muito convencido — "Preciso mostrar isso para o meu tio."

"O duro será convencer meu pai a liberar o velho da prisão" — comentou Björn — "Acha que Atanásio está em condições de ajudar?"

"É claro que está!" — respondeu Jordano, com certa aspereza — "Mais cedo ou mais tarde, o rei entenderá que o incêndio na torre foi acidental... Agora chega de leitura! Temos que preparar as defesas. Guarde bem este livro, Halthora, um dia poderá ser útil."

"Estarei na forja da vila, caso precise de mim" — respondeu ela, a apanhar o livro como um bebê.

"Onde está sua irmã, a arqueira?"

"Não sei."

"Mande-a ir até a paliçada, ela terá serventia lá."

"Minha irmã não ouve ninguém, mas enviarei o recado."

A casa ficou quieta, enquanto os passos da feiticeira estalavam na madeira. Assim que ela saiu, Björn se aproximou de Jordano lentamente, de braços cruzados. O cavaleiro estava a amarrar o cinturão da espada. Quanto ao jarl, este apenas tamborilava os dedos na mesa, a observá-los.

"Eu terei de lutar?" — questionou o príncipe com toda a firmeza que conseguiu reunir.

O guardião olhou para ele com seus olhos de mel. Era difícil entender os sentimentos daquele guerreiro barbudo, mas Björn teve a impressão de que ele sorria.

"Sente-se pronto para isso, jovem senhor?"

Hemming parou de bater na mesa.

"...na verdade, não."

"Então não lute."

"Mas Júlio César lutava à frente de seus soldados."

"Nem todos os imperadores foram guerreiros, Björn. Justiniano, por exemplo, foi um grande imperador e nunca lutou uma só batalha."

"Quero ajudar como for possível, mas ainda não levo jeito para o combate."

"Você está certo, meu jovem" — disse o jarl, ao se levantar — "Nosso povo é um povo guerreiro. Nossos reis lutaram e morreram muitas batalhas. Isso trouxe dignidade para suas famílias e um lugar de honra no salão dos deuses. Apesar disso, o velho costume nunca obrigou nenhum homem ou mulher a lutar antes que tivesse forças para isso. Seu tempo chegará. Até lá, pode ajudar a proteger nossas crianças. Tenho certeza de que seu pai estimará seus atos da mesma maneira."

Möjrakitan - A Saga das Três IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora