B.

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Elijah Boulder
Trinta e seis anos de idade
Westchester, Nova York
Atualmente...

Estava prestes a embarcar no jato, na expectativa pelo jantar exclusivo que reuniria magnatas da indústria e visionários da tecnologia sustentável, quando um toque inesperado no meu smartphone alterou o curso dos acontecimentos.

Cada detalhe da viagem estava cronometrado, cada segundo contado, mas a voz do outro lado, trazendo notícias da escola do meu filho, me atingiu como um raio, e, sem medir as consequências, a paternidade suplantou minha ambição profissional.

Com uma ordem concisa ao piloto e um gesto assertivo à minha equipe, redirecionei o plano de voo. A eficiência era a minha assinatura, mas, nem mesmo um evento de prestígio, onde eu discursaria ideias revolucionárias, poderia competir com a importância do vínculo que o destino gerou e me concedeu.

Em poucos minutos, eu estava subindo as largas escadas da mais prestigiada instituição educacional de Westchester, cada passo repercutindo a gravidade do momento, focado exclusivamente na segurança, do meu herdeiro.

Cruzando a portaria, escutei um murmúrio audacioso de um grupo de adolescentes e uma onda de satisfação me inundou ao lembrar que meu filho, apesar de sua pouca idade, já exibia uma postura resoluta. Se eu fosse pai de uma menina, meus cabelos já estariam brancos. O destino foi generoso ao cuidar disso quando me entregou Kai.

— Ele é tão charmoso... — comentou uma delas.

— Ah, se eu pudesse... pegaria pai e o filho, e nem o Espírito Santo me julgaria — disse outra, com um riso malicioso.

— Ai, não seja gulosa — repreendeu a terceira. — Não sei se aguentaria o pai.

Parei, afastei meus óculos de sol e lancei um olhar na direção delas, e com uma calma intimidadora, observei-as se dispersarem como relâmpagos, uma para cada lado, as mãos no rosto tentando esconder a falta de coragem.

— Você! — Minha voz saiu como um trovão, fazendo eco no espaço.

Uma delas, a de pernas curtas, filha de um dos meus leais seguranças, parou abruptamente, como se tivesse colidido com uma parede invisível.

— Eu... senhor? — Os olhos, arregalados e assustados, dançaram de um lado para o outro, procurando uma saída.

— Acredito que se eu ligar agora para o seu pai e relatar esse seu comportamento será o suficiente para evitar que isso aconteça novamente, certo? — Tirei meu smartphone do bolso e observei a garota engolir em seco.

— Sr. Boulder, eu só estava com elas e... a gente não... não precisa ligar. S-ou bolsista — gaguejou, juntando as mãos como se fosse fazer uma prece.

— Vá, sua mãe está esperando no portão! — exclamei, e se encolheu. — Seu pai está dando duro no trabalho, o mínimo que você pode fazer é não se portar de modo vulnerável!

Saiu correndo, desapareceu rapidamente do meu campo de visão.

Nessas horas eu me sentia um velhote conservador.

Guardei meu smartphone com um gesto despreocupado e recoloquei os óculos no rosto. Então, cinco passos foram suficientes para ouvir mais murmúrios.

— Ai, que ranzinza... Não tivesse nascido gostoso, então. Simples! — comentou uma fedelha, com um tom que misturava zanga e admiração.

— O pai é totalmente igual ao filho. O problema é que esse mau humor deixa os dois ainda mais interessantes... — disse outra, suspirando.

— Ele tem asas tatuadas no peito, e dizem que tem um passado obscuro, como um anjo caído. Isso é tão... sexy! — a terceira acrescentou com entusiasmo.

O. C. R.Onde histórias criam vida. Descubra agora