Dez anos atrás
Algo estava estranho naquela imagem, uma espécie de déjà vu, sensação estranha. A pequena menina ruiva de olhos azuis me olhava de volta com um sorriso enorme nos lábios.
-Bia amor, vem logo. - Olhei para a porta do quarto quando ouvi a voz daquele homem. Uma voz tão familiar.
-já estou indo papai, só vou pegar a minha corôa. - A estranha familiar disse correndo até a cama e pegando uma corôa rosa cheia de brilhos e corações.Segui a menina até a pequena sala aonde estava uma mulher de aproximadamente trinta anos deitada no sofá.
-Papai a mamãe não irá com a gente. Eu quero que a mamãe ajude a escolher o meu presente. - Com a voz chorosa a pequena estranha reclamou ao pai enquanto enrolava o dedo nos cachos do cabelo.
-Beatriz minha princesinha, mamãe não esta bem hoje. Chegou do trabalho com dodoi na cabeça. Vamos nós dois ajudo você. Ops. A vossa alteza a escolher seu presente e quando voltarmos mamãe estará melhor para brincar com a gente.
-Papai não sou mais bebê, já tenho oito anos, eu sei o que é dor de cabeça não precisa falar dodoi. - Ela disse com a mão na cintura e serrando os olhos. Naquele momento percebi o porquê a garotinha era tão familiar, a Pequena Bia sou eu na minha infância.
***
O sonho começou a ficar mais nítido, era como se eu tivesse vivendo cada minuto novamente.- Não papai, não valeu, aquele ali é azul, o senhor não pode roubar de mim assim. - A estranha, ou melhor, eu disse ao meu pai enquanto riamos até nossa barriga doer.
-Ok. Ok. Não foi justo, aquele carro não conta. Vamos começar outra vez.- Enquanto contavamos os carros nas estradas a paisagem foi se transformando. Ao invés de plantações a visão já era de prédios e mais prédios. Gostava daquela mudança, a cidade grande me parecia um lugar de sonhos e realizações.
Papai vinha uma vez por mês para a capital de são paulo buscar roupas e acessórios para vender na lojinha que ele e mamãe tinham. As coisas não estavam boas para nossa família, não precisava ter mais do que nove anos para perceber isso. As brigas constantes dos dois já era eficaz para que qualquer um deduzir isso.
Quando eu era mais nova ele e mamãe vinham sozinhos. Depois que as brigas começaram a mais ou menos um ano eu comecei vir no lugar dela. Gostava das viagens. Isso me fazia esquecer dos gritos.
***
-Moça, moça. - O motorista do ônibus me acordou me dando outro susto. - Chegamos a rodoviária.
-Claro me desculpe.- Disse me levantando. Fui rapidamente para fora do ônibus e peguei minhas mochilas. Olhei ao redor e só naquele momento me dei conta de que só estive em São Paulo com meu pai.
Meu pai. O sonho invadiu minha mente e um aperto no peito me fez perder o fôlego, as lembranças foram tão claras, tão recente, como se tivessem acontecido ontem. Sinto meus olhos arderem e lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Caminhei lentamente até um ponto de ônibus e tentei parar de pensar que foi naquele ano que aconteceu o acidente. Foi naquele ano que perdi meu pai. Naquele ano que perdi minha mãe também. Pois depois da morte do meu pai tudo na minha vida começou a desmoronar. E tudo isso foi culpa minha.
***
Bom amados leitores. Mais um capítulo para vocês.
Agradeço novamente o apoio e o carinho de cada um, seja pelos comentários estrelinhas ou apenas acompanhando a história.Este capítulo ficou pequeno, mais sinceramente espero que tenham gostado ❤
Obrigada e obrigada ❤
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Diários secretos
Storie d'amoreOBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - PLÁGIO É CRIME! Beatriz não sabe o que significa amar, ou ser amada. Não sabe o que é uma família, depois de uma grave acusação é expulsa de casa e não sabe para aonde ir. Aos...