One 🫥

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O brilho do sol insuportável já invadia as cortinas. Consecutivamente, meus olhos ardem me lembrando que mais uma manhã se inicia. Eu odiava quartas, especialmente essa. Há 4 dias, meu aniversário de 26 anos foi especialmente trágico. Queda no banheiro, costelas quebradas e morfina, para variar. A irônica decadência que a minha vida era chegava a ser cômica. Dores, cansaços psicológicos e o isolamento emocional já faziam parte da minha vida des de que eu me entendo por gente, mas parece que o último ano está sendo cativantemente pior. Sair de casa tem se tornado cada vez mais difícil, assim como surpreender o meu público.

Enquanto pensava nos anos de YouTube e o quanto de sanidade mental eles me custaram, eu tomo um banho gelado. Gelado o suficiente para congelar meu cérebro. Eu ainda sentia dor nas costelas, mas tudo tinha melhorado quando eu postei a porra do video.

" Não felca, ninguém liga pra sua saúde. Só posta a porcaria do vídeo"

Foi uma das inúmeras mensagens na dm que eu recebi quando comuniquei o que tinha acontecido, e justifiquei o atraso do vídeo.

Como sempre, depois de uma postagem aguardada eu só iria viver os próximos 30 dias em busca de forças e inspiração para ligar a câmera e forçar um sorriso que pareça forçado.

O café atrasou, e minha mãe já me ligava desesperada.

- Felipe! - ela gritou do outro lado da linha, assim que eu atendi logo depois de sair do banheiro.

- Oi mãe. - respondi.

- Já comeu? Já é 9:00 garoto. - ela repreendeu.

- Sim mãe. - sorri, vendo a pia limpinha. Aquela pia mostrava que eu não comia fazia dias e não tava nem um pouco afim de sujar.

No hospital, minha mãe garantia que eu ia me medicar direitinho e que ia cuidar da minha alimentação. Mas eu insisti em voltar sozinho com desculpa de liberdade, mas eu queria mesmo era me despreocupar de mim mesmo.

Mesmo contra minha vontade, fui até a geladeira e catei a caixa de leite na porta. Coloquei numa vasilha e levei pro micro ondas, logo depositando o último restinho de cereal que sobrou do restante do mês.

"O que meus inscritos fariam se soubessem o quão mal eu vivo?"

Provavelmente falaram merdas do tipo: "deixar eu cuidar de você?" Ou "como você consegue Cássio?" Ou mesmo pior: "eu super seria amiga dele"

Quando na verdade,  se conhecessem o verdadeiro Felipe, me achariam tão nojento quanto as outras pessoas que passaram por mim.

Depois do café, eu limpei todo o apartamento e me joguei no sofá. Não estava nada cansado fisicamente, mas queria dormir pelos próximos 7 anos para que minha mente parasse de se auto sabotar.

Liguei a tv.

O jornal das 10:00 era até interessante, até que um som terrível tomou conta dos meus ouvidos sensíveis.

No começo parecia até uma guerra do outro lado da parede, mas logo o arrastar de móveis pesados começou a me incomodar. Tanto que eu já cogitava a ideia de bater na porta do vizinho e pedir para ajudar na troca de móveis. Acredito que 2 pessoas em vez de 1 fariam bem menos barulho. Quem eu queria enganar? Eu jamais bateria na porta de um vizinho, mesmo que ele estivesse cometendo um crime.

Desliguei a TV. Não fazia sentido tentar fazer leitura labial com os repórteres e apresentadores e eu normalmente dormiria nesse horário, mas aquele som não me deixava nem pensar.

De repente, o som parou.

Quase respirei de alívio. Quem quer que estivesse fazendo uma reforma ou troca de móveis, tinha parado.

My big problem - Felca ✨Onde histórias criam vida. Descubra agora