SCHOOL FLAMES - TURMA DE 2010

Capítulo 35

09 de junho de 2010

Jean

Sempre que nos reunimos, a casa de Thayse é o nosso refúgio. É espaçosa, quase como um segundo lar, e a ideia de estar longe dos pais, com apenas a empregada como companhia, oferece uma sensação de liberdade que todos nós adoramos. Sem as regras e o olhar atento dos adultos, sentimos que podemos realmente relaxar e nos entregar ao que quisermos.

Hoje, no entanto, a casa dela está fora de questão. Estão dedetizando o lugar, e as portas estão fechadas. Em vez do nosso espaço habitual, acabamos decidindo terminar o trabalho de história na casa de Fábio.

O combinado era que estivéssemos lá às três, mas Paolo nos pediu um favor: atrasar um pouco. Ele quer um momento a sós com Fábio. Eu até tentei conversar com ele, mas sei que é uma perda de tempo. Fábio não sente o mesmo que ele e todo mundo sabe disso. Sei lá, talvez Paolo pense que, magicamente, o garoto vai começar a sentir alguma coisa por ele.

Paolo é um cara incrível, e é doloroso vê-lo preso nessa esperança infundada. É como assistir a um filme triste em que você já sabe o final. Ele coloca tanto do seu coração nisso, e eu só posso imaginar o quanto dói para ele ver que seus sentimentos não são correspondidos. Fábio é gentil, na maioria das vezes, mas não há reciprocidade, e é difícil para Paolo aceitar isso. Ele merece alguém que olhe para ele com a mesma intensidade e carinho com que ele olha para Fábio. Queria tanto que ele fosse feliz, que encontrasse alguém que gostasse dele de verdade, ele merece. 

Mas no fundo, eu o entendo. A diferença é que eu já aceitei e estou tentando seguir em frente. Eu também estou apaixonado por alguém que não me corresponde. Passo noites em claro, imaginando cenários onde tudo dá certo, onde Gabriel finalmente vê o que eu vejo. Mas, eventualmente, percebi que não adianta insistir em algo que nunca vai acontecer. É uma lição dura, mas necessária.

Ainda assim, ver Paolo nesse ciclo me faz lembrar do quanto é difícil. É como uma ferida que nunca cicatriza completamente, e cada vez que vejo a esperança nos olhos dele, sinto uma pontada de tristeza por saber que ele está passando pelo mesmo. É um reflexo doloroso das minhas próprias lutas internas. Ver a esperança dele se transformar lentamente em decepção é um lembrete constante da minha própria vulnerabilidade, da fragilidade dos nossos corações quando amamos alguém que não pode retribuir.

Fábio

Faltando apenas alguns minutos para meus amigos chegarem, minha mãe decide que é uma ótima hora para faxinar a casa. A máquina de aspirar faz um barulho ensurdecedor, ecoando pelos corredores como um alerta de que nada está em ordem. Ela está de folga hoje e tem andado meio deprimida ultimamente. Talvez seja difícil para ela se olhar no espelho e encarar o quão irritante ela pode ser. Desde que meu pai saiu de casa — exclusivamente por causa dela —, parece que cada dia é uma luta constante para ela. Para mim, é uma batalha ainda maior ter que suportar sua presença.

Ela acordou faz poucas horas, com o cabelo desgrenhado e os olhos cansados. Acho que ainda nem almoçou. Vejo ela arrastar o aspirador de um lado para o outro, sem muita energia, como se estivesse apenas seguindo uma rotina sem sentido. Tento chamar sua atenção, mas ela está perdida nos próprios pensamentos, movendo-se automaticamente. Isso me deixa um pouco inquieto, irritado. A última coisa que eu quero é que meus amigos cheguem e vejam a casa nesse estado caótico, e pior, percebam que minha mãe não está bem.

Olho para o relógio e vejo que falta menos de três minutos. Meu coração acelera um pouco. Tento ajeitar rapidamente algumas coisas na sala, empurrando a bagunça para debaixo do sofá e endireitando as almofadas. Tento manter a calma. Estou dividido entre a preocupação com minha mãe e a necessidade de recebê-los bem. É como se eu estivesse tentando segurar as pontas de dois mundos que colidem entre si.