Hoje faz uma semana que descobri a gravidez e que deixei o hospital e de lá pra cá a minha vida foi só ladeira a baixo; enjoos, inseguranças, medo de não ser boa o suficiente para esse ser humano pequenino que cresce a cada dia, a polícia me taxando como mentirosa e todo país acompanhando o meu caso pela TV, antes eu era uma zé ninguém e agora sou a jovem que escapou da morte junto de seu bebê milagroso cujo o pai é um mistério eminente. Tenho evitado ao máximo sair de casa ainda mais agora que a minha identidade vazou para todo o país e todos ficam me perguntando sobre o cara que me violentou. É duro de mais ser questionada quando se trata de uma situação como essa e ter que ficar lembrando o fato para prestar esclarecimentos é ainda pior, por mim eu nunca mais tocava nesse assunto mas não posso deixar que Denis saia impune de todos os danos que ele me causou.Termino meu longo banho, me visto, coloco minha tipoia e vou até cozinha buscar algo o que comer pois todo o meu almoço se foi nas últimas horas a qual passei longos minutos vomitando ininterruptamente. Quando chego na cozinha ouço alguém tocar a campainha então caminho lentamente, observo pelo olho mágico para ver quem é; sei que é uma mulher mas não consigo a reconhecer, ela usa um chapéu grande que cobre parte de seu rosto então abro a porta cautelosamente, pode ser alguma emissora de TV querendo invadir a minha privacidade.
— Leonor? — Pergunto surpresa.
— Olá, Malie, eu posso entrar? — Ela pergunta e parece envergonhada.
Assinto e então ela entra cuidadosamente e sempre olhando como se não quisesse ser vista.
— Sua avó está? — Ela pergunta e respondo com um gesto negando.
— Veio terminar o que seu filho começou? — Pergunto mas ela finge não entender do que se trata.
— O que o Denis fez? — Ela pergunta enquanto olha fixamente o resquício do pequeno corte acima da minha sobrancelha.
Me nego a responder e ela se mantém em silêncio, ela observa a casa caminha pela sala de estar enquanto analisa alguns móveis.
— Preciso te perguntar uma coisa e quero que seja muito franca; Foi o meu filho que fez isso com você? — Leonor pergunta e parece ter medo da verdade.
Balanço a cabeça concordando com a pergunta que havia me feito e Leonor entra em desespero.
— Ah meu Deus, eu sabia que ele tinha feito algo de errado... recebemos uma intimação da justiça daqui pedindo para que ele se apresentasse e assim que cheguei aqui nas Bahamas todos falavam da moça que foi abusada e espancada até a quase morte.. eu sinto muito. — Ela se senta no sofá e põe as mãos sobre o rosto. — O bebê que está esperando é do meu filho?
Nego prontamente. Detesto que ela cogite algo desse tipo, eu odiaria que o bebê que espero fosse de Denis.
— Vai prosseguir com a gestação?
— Leonor, por que está aqui? — Pergunto.
— Você vai ser mãe, Malie, e eu sou mãe a vinte e cinco anos, Denis é o meu único filho e eu não posso deixar que ele destrua a própria vida. Um escândalo como esse pode gerar consequências irreparáveis para a vida do meu filho e até mesmo na vida toda a minha família... — Leonor levanta seu discurso mas não deixo que ela termine.
— Quer que eu deixe seu filho estuprador sair impune?
— Não! É claro que quando eu retornar a Nova York vou cuidar para que ele seja punido. Eu quero abafar o escândalo que isso causaria, isso pode respingar no Mason e até em William que carrega o mesmo sobrenome que Denis. Você quer que o William sofra e seja associado a um crime como esse?... isso acabaria com a vida dele e tem a Mia que é menor de idade e dependente dele. — Leonor comenta, consigo sentir o desespero em sua voz.
— William e o senhor Harris não cometeram nem um crime, seu filho cometeu e você está cometendo outro vindo aqui. — Respondo.
Caminho até a porta e quando estou perto de abri-la a campainha ecoa novamente.
Quando abro a porta é a financeira do hospital em que fiquei internada.
— Senhorita Rolle, não é? — A jovem bem vestida em um termino azul marinho pergunta. — Sou da financeira e venho para tratar de sua dívida de vinte e seis mil dólares no hospital... — Eu interrompo antes que ela termine, não quero que Leonor ouça.
— Você pode voltar em uma outra hora, é que agora não é o melhor momento... assim que eu tiver esse dinheiro eu entro em contato para quitar tudo o que devo. — Respondo e a moça assente.
— Eu posso pagar a sua dívida pra você se quiser. — Leonor comenta.
— Eu tenho dinheiro para pagar, Leonor, agora saia da minha casa antes que eu chame a polícia.
— Malie, eu sei e você também sabe que não tem esse dinheiro, você tem a faculdade que quer fazer e o parto do seu bebê que vai custar em torno de uns quarenta mil dólares, posso custear suas despesas médicas, posso pagar seu parto e a sua dívida, basta você pedir o encerramento das investigações. — Leonor desce ao mais baixo nível.
— Eu trabalhei muito, Leonor, juntei dinheiro suficiente para pagar as minhas contas, agora saia da minha casa, por favor. — Abro a porta e faço um gesto para que ela saia.
Leonor saca um cartão pessoal de sua bolsa e o coloca sobre a mesa de canto. — Caso mude de ideia... — Ela comenta e logo deixa minha casa.
Tranco a porta e volto para o meu quarto.
Será que isso nunca vai acabar?! A cada hora fica pior, minha vida se tornou um verdadeiro inferno e agora tem essa mulher no meu rastro querendo que eu livre o filho dela da imundície que o mesmo causou, tenho dívidas e sei que se eu pagá-las não vou ter como começar a faculdade, como vou começar a faculdade sem dinheiro e com um bebê, e pior; como vou colocar um bebê no mundo se não consigo nem pagar as minhas contas!
Sinto o desespero me invadir e logo meu corpo começa a nausear, minhas pernas estão fracas, minha boca está seca e meu corpo soa enquanto calafrios o percorrem. Tomo um dos comprimidos para enjoo que Sharon me receitou mas demora fazer afeito então me deito na cama um pouco enquando tento me tranquilizar, rapidamente minha vista escurece e meu corpo pesa sobre o colchão a sensação é ruim e boa ao mesmo tempo, parece que meu corpo precisa desligar para que meu subconsciente descanse.
Horas mais tarde sou acordada por batidas na porta do quarto. Minha avó entra mas não ascende a luz, ela toca minha testa delicadamente e só depois nota que já estou acordada. — Vem jantar conosco?... Alika e Tim estão lá em baixo, eles vieram ver você e trouxeram algumas coisas.
— Vovó, eu quero ficar aqui no quarto mesmo, pode pedir para eles voltarem uma outra hora.
— Querida, não se isole das pessoas que te amam, seus amigos querem te apoiar. — Vovó comenta carinhosamente. — Eu trago o jantar aqui em cima e todos jantamos juntos!.
Embora minha vida esteja um caos a melhor parte é saber que mesmo que eu queira estar só, eu não estou... tenho a Vovó Abby e meus amigos que não se afastam mesmo quando eu peço que se afastem e isso é essencial nesse pior momento da minha vida.
Alguns minutos depois minha avó retorna junto com Alika e Tim, elas trazem bandejas com a refeição e Tim carrega sacolas.
— Opa, será que temos uma gravidinha precisando de cuidados aqui? — Tim comenta entusiasmado.
— Se você não está bem para descer... nós subimos até você! — Alika fala enquanto se aproxima.
Vovó se senta ao meu lado na cama e Alika e Tim usam os puffes que tem espalhados pelo quarto, jantamos juntos enquanto Alika e Tim nos divertem com suas piadas erráticas. Vovó resolveu falar um pouco e contou uma piada de duplo sentido a piada em si nem era tão boa mas o fato de ouvi-la falando aquelas coisas foi o que trouxe graça, nunca tinha escutado minha avó contando piadas e tenho que confessar que foi a melhor sensação do mundo, ver todos rindo e me sentir leve de novo foi a melhor sensação do mundo. Depois do jantar resolvi abrir os presentes e confesso que fiquei muito emocionada com as roupinhas e coisinhas para o bebê que Alika e Tim trouxeram.
— Esse ursinho era meu, usei ele para dormir até uns doze anos. — Tim comenta. — Você me deu ele, Malie, quando tínhamos cinco anos, eu lembro que você me disse que ele me protegeria dos trovões nas noites chuvosas e eu guardei ele desde então... acho que agora é o momento certo para ele voltar pra você.
Meus olhos se enchem de lágrimas mas pela primeira vez depois de muito tempo choro por um bom motivo.
— Essa manta... — Alika tira de uma sacola bem enfeitada o tecido de tricô em um tom amarelo pastel. — Sua mãe fez para mim quando eu era criança e a minha mãe guardou com todo carinho até agora para que ela um dia voltasse para você, que essa manta aqueça o seu bebê como me aqueceu na minha infância.
Eles se aproximam e formamos um abraço triplo. Quando nos soltamos todos estávamos chorosos e emocionados.
É tão bom receber afeto que faz até eu me esquecer de alguns problemas, me sinto a garota mais sortuda do mundo.
— Eu amo vocês, espero que um dia possamos nos reunir e lembrar desse momento, momento esse que tá sendo muito difícil mas que vocês estão aqui tornando tudo mais leve, não sei o que seria de mim sem todo o apoio que vocês tem me dado.
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A Garota Da Costa.
RomanceMalie Rolle tem 17 anos e é uma jovem de alma doce e ingênua, embora tenha sido criada por sua avó carrancuda; ela espalha sorrisos por onde passa. Malie está otimista em relação a sua ida para faculdade e quer aproveitar o seu último verão no ensin...