Quem dera que pelo menos aquele cochilo tivesse durado 30 minutos. Não sei ao certo, mas de repente a porta se abriu com força e irritação. Algo em mim sabia que não era a Jade, então fingi continuar dormindo.
- Eu falei que ele ainda tá dormindo. - Jade retrucou alguém. - Era só ter esperado lá fora... - sua voz parecia tímida, meio que sem jeito e com uma pitada de chateação.
- Felipe. - meu coração apertou quando reconheci a voz. - Pode se levantar porque eu sei que está fingindo.
Minha mãe - como todas as outras mães - era expert em identificar um sono fingido. Então eu me debrucei e cobri meu peito com o cobertor cinza de Jade.
- Mãe, o que tá fazendo aqui? - sorri imaginando o quanto bagunçado deve estar meu cabelo.
- Eu é que te pergunto garoto! O que você tá fazendo aqui quando deveria estar descansando em casa. - havia uma grande irritação na voz dela, me fazendo questionar o quanto ela já tinha me procurado.
- Longa história mãe, mas eu estou bem. - sorri, sem graça.
- Felipe, não mente pra mim. Menina, vocês não transaram não né? - senti meu rosto se tornar um pimentão antes mesmo que Jade pudesse responder.
- Não senhora. - Jade respondeu, com tanta vergonha quanto eu.
- Felca, você não era tão mentiroso assim. Tá se tornando uma xerox do seu pai! Só por favor, usem preservativo já que não querem preservar a sua recuperação das costelas. - à cada palavra que a minha mãe dizia, eu ficava ainda mais envergonhado. A diferença era que Jade também estava, nessa altura do campeonato.
- Mãe, nós não fizemos nada. - me senti na obrigação de me defender. - e mesmo que tivéssemos feito, eu não quebraria uma costela por causa disso, certo?
- Sua não. - ela retrucou.
- Mãe! - exclamei. - Só por favor, não entre mais no apartamento de outra pessoa assim. Eu já tomei meus remédios, já descansei e já fui bem cuidado. Agora, você pode sair? - pedi, tentando ser o mais educado possível.
Me joguei no travesseiro de Jade novamente, fingindo estar interessado em dormir ali de novo. Quando minha mãe viu que eu realmente não sairia da cama, ela deu as costas e foi embora.
Quando ela saiu do quarto, eu pulei da cama. Ajeitei meu cabelo no espelho do guarda roupa e procurei meus óculos, mas não encontrei.
Abri a porta devagar e certifiquei que a minha mãe já tinha ido embora, então resolvi sair.
- Meu Deus Jade, me desculpa! - exclamei, saindo do quarto somente de short.
- Que nada! Ela é um pouco intensa não é senhor Felca? Que apelido interessante.
- Só não coloque isso na barra de pesquisa, por favor. Você vai se chocar com o significado. - já estava me habituando a ser influenciado pelo sorriso carismático de Jade.
- Tudo bem. Aqui está sua camisa e seus óculos. - ela puxou de cima da mesa e entregou.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Jade limpou a garganta e disse:
- Atrasei um pouco o almoço, você não quer se juntar à mim? - ela sugeriu.
- Nem pensar. - balancei as mãos, em negação. - já enchi muito você hoje, a sua casa precisa respirar.
- Que nada! Eu me sinto em dívida. Você ficou mal novamente na minha casa, por minha culpa. E além do mais, esse passa e repassa de bola nunca vai acabar mesmo. - ela sorriu. - hoje, você almoça aqui.
Tive que me render àqueles olhos redondos.
...
O almoço estava sendo até agradável demais. Poxa, era uma pena eu não conseguir encarar ela durante muito tempo enquanto ela sabia fazer isso com uma estranha facilidade.
Um assunto, um rebate, um assunto e um rebate.
- você treina aqui no condomínio?
- eu não treino.
- Você gosta de pets?
- Gosto, mas minha mãe diz que não sei cuidar nem de mim.
- O que você faz da vida?
- Sou formado em jornalismo, mas trabalho como YouTuber.
- E como vai o seu trabalho? Tudo indo bem?
- Afrontei a Virgínia mais uma vez. Acho que ela que não tá bem.
- Juro que vou dar uma pesquisada silenciosa hoje de madrugada.
- Isso vai ser um baita erro, confia em mim. - sorri enquanto ajeitava os óculos na minha cara.
O resto da tarde foi monótono. Nunca pensei que aquele pitoco de gente fosse me prender dentro da casa dela. Lavamos a louça do almoço , assistimos série de tarde e ela foi na padaria comprar pão. Depois, fizemos um suco e jogamos alguns jogos de tabuleiro. Eu já havia perdido um pouco da minha timidez com aquela garota.
E mal saberia eu que os próximos 5 dias seriam do mesmo jeito, e também os próximos 10, 20.
Jade não era alguém normal, e isso era a minha certeza. A garota trabalhava numa biblioteca e fazia teatro nos fins de semana. Mas sempre batia na mesma porta inventando alguma desculpa e me manipulando pra estar com ela o quanto eu pudesse.
E de repente, eu não pulava mais refeições e minhas costas não doíam. Eu até me olhava no espelho com a única preocupação: A Jade vai gostar da minha aparência hoje?
Eu não madrugava mais, nem passava 15 segundos sem pensar nela. As vezes, eu sabia que minha amizade com ela era um grande erro que eu não queria cometer. Nessas vezes eu tinha certeza que ela me daria uma chance. Outras, eu tinha certeza que estragaria a minha única oportunidade de socializar e escapar um pouco da vida de merda.
E esse risco, eu jamais iria correr. Não enquanto eu lembrava de todas as vezes em que fiz isso e terminei sozinho. Ainda estava muito cedo para decidir se ela havia se encantado por mim ou se só sentia pena. Era difícil acreditar que alguém poderia me ver como algo, por isso eu decidi encarar tudo aquilo como a última opção. Jade não beijaria alguém por quem ela sente pena, nem tão pouco toparia sair para jantar pois a pizza que ela pedia era maravilhosa, tanto quanto ela.
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My big problem - Felca ✨
RomancePor que grandes problemas e grandes obstáculos estão sempre ligados à grandes conquistas? Talvez, seja justo que te custe muito aquilo que muito vale. E Felipe Bressanim (ou felca, como ele era conhecido) estava prestes a descobrir isso. Um YouTube...