Obsessão nas sombras.

Capítulo 1 - Sob Disfarce

Eu estava sentada na delegacia, o aroma familiar de café barato e papel velho impregnando o ar. A luz fluorescente zumbia suavemente, lançando um brilho pálido sobre as pilhas de arquivos em minha mesa. Minha parceira, Kelly, estava ao meu lado, rindo de alguma piada que eu tinha perdido. Estávamos ali há horas, encerrando um caso que parecia não ter fim. O som de passos firmes ecoou pelo corredor, e eu soube imediatamente que algo importante estava por vir.

O chefe, delegado Morrison, entrou na sala com uma expressão séria. Ele era um homem alto, de presença imponente, sempre com aquele ar de quem carregava o peso do mundo nos ombros. Sua chegada instantaneamente mudou a atmosfera; todos sabiam que quando ele aparecia sem aviso, era porque algo grande estava acontecendo.

— Carter, você tem um minuto? — Sua voz era grave, carregada de autoridade. Eu me levantei, sentindo um leve nervosismo se instalar em meu estômago. Morrison raramente se dirigia a mim diretamente, a menos que fosse para algo significativo. Ele fez um gesto para que eu o seguisse até sua sala.

Kelly me deu um olhar de incentivo, murmurando um "boa sorte" enquanto eu passava. Entrei na sala de Morrison, e ele fechou a porta atrás de nós. O ambiente estava silencioso, exceto pelo zumbido distante do ar condicionado.

— Temos uma situação complicada — começou ele, sentando-se atrás de sua mesa e me olhando diretamente nos olhos. — Há alguns meses, uma série de desaparecimentos de jovens mulheres foi relatada. Todas as vítimas têm algo em comum: foram vistas pela última vez em uma boate específica da cidade.

Eu já estava ciente dos casos, mas não sabia dos detalhes mais recentes. Morrison continuou, pegando uma pasta grossa e abrindo-a diante de mim. Dentro, havia fotos das mulheres desaparecidas, todas sorridentes em suas últimas imagens conhecidas. Meu coração apertou ao ver aqueles rostos, a injustiça de suas ausências pesando no ar.

— Achamos que isso está ligado a uma rede de tráfico humano. A boate é um ponto de encontro conhecido, mas não temos provas concretas. — Ele fechou a pasta com um suspiro. — Precisamos de alguém para se infiltrar e descobrir quem está por trás disso.

Eu já sabia onde ele queria chegar, mas esperei que ele continuasse.

— Carter, você é uma das melhores investigadoras que temos. Preciso que você se infiltre. Você será uma das bartenders da boate. Seu objetivo é descobrir quem está por trás dos desaparecimentos e como essa rede opera.

Minha mente começou a trabalhar rapidamente. Uma missão como essa exigia extrema cautela. O perigo era real, mas a chance de fazer justiça por essas mulheres era uma oportunidade que eu não podia deixar passar.

— E você não estará sozinha — acrescentou ele, como se lesse meus pensamentos. — Teremos uma equipe de apoio monitorando você. Mas você sabe como é, Carter. No final das contas, você estará por sua conta.

Assenti, absorvendo a gravidade da situação. Eu sabia dos riscos, mas a ideia de colocar um fim nessa rede sombria era irresistível. Olhei para o chefe, firmando meu compromisso.

— Estou dentro, chefe.

Ele me deu um sorriso raro, um que parecia carregar um peso inestimável.

— Sabia que poderia contar com você. — Morrison se levantou, estendendo a mão. Apertei-a firmemente, sentindo a determinação tomar conta de mim. — Tome cuidado. Não quero perder você também.

Deixei o escritório com a mente a mil, sentindo o peso da responsabilidade que acabara de assumir. Enquanto voltava para minha mesa, Kelly me olhou com curiosidade.

— Então, o que ele queria?

Eu respirei fundo, tentando processar tudo o que acabara de acontecer.

— Tenho uma nova missão — disse, tentando manter minha voz calma. — Vou me infiltrar em uma rede de tráfico humano.