Capítulo Único

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A fazenda estava nos primeiros dias de obra e o casal de patrões tinham contratado mais funcionários para auxiliar na produção dos queijos e ajudar Neca e Mimosa na cozinha.

Os gêmeos estavam com poucos dias de nascidos. Petruchio adorava ficar com os pequenos, ajudando sempre a esposa quando a mesma precisava.

Catarina, ainda de resguardo, ficava no quarto com seus filhos, às vezes saindo para pegarem um pouco do sol da manhã e ver seu esposo trabalhando.

Faltando poucas semanas pro casamento de Bianca e Edmundo.

Catarina estava sentada de frente para a janela em seu quarto na cadeira de balanço dando de mama para Clarinha e Julinho estava em seu berço dormindo.

Ela e Petruchio concordaram que os bebês poderiam dormir em seu quarto até que estivessem mais grandinhos.

Na folga da babá das crianças, Catarina ficava presa com seus filhos. Não que isso fosse um sacrifício, pelo contrário, ela amava passar as tardes com os seus pinguinhos de gente.

Olhando para sua pequena mamar com os olhos fechados e com a mão pousada sobre seu seio, Catarina pensou como seria se não tivesse se apaixonado por Petruchio.

Apaixonada.

De repente tentou se lembrar de quando e como se apaixonou por Petruchio. "Talvez no dia em que nos vimos pela primeira vez?" ela pensou, mas logo afastou esse pensamento. Com certeza não tinha sido, ela só expulsa-lo da casa de seu pai para nunca mais voltar.

Lutava para se lembrar de olhos fechados e com a cabeça encostada sobre o encosto da cadeira, até ouvir o chão da casa gemer com a entrada do marido.

Entrando devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível, ele chegou próximo da esposa e a cutucou, a chamando em um sussurro.

- Catarina, Catarina.

- Sim, Petruchio - ela disse calma, ainda de olhos fechados - O que quer?

- Achei que tinha dormido com os meninos - disse se sentando no baú.

- Clarinha ainda está com fome - ela disse dando um pequeno aperto na bochecha da filha para que comesse mais um pouco antes de cair no sono - Mas diga o que quer?

- Só ia avisar que não ia pra cidade hoje. Calixto cismou em levar os queijos pros clientes com os novos funcionários pra eles saberem quem eram os compradores.

- Bom - relaxou, dando um suspiro.

Ainda no pensamento anterior sobre sua paixão, decidiu perguntar ao marido:

- Petruchio?

- Sim, meu favo de mel?

- Não me chame de favo de mel - ela respondeu sorrindo - Você se lembra do dia em que se apaixonou por mim?

Aquilo o alarmou. Ela não costumava perguntar sobre isso.

- Arriégua, Catarina - ele disse bruscamente, fazendo Julinho se remexer no berço - E eu posso saber porquê ocê quer saber disso agora?

- Xiuu, Julinho vai acabar acordando - disse colocando o dedo indicador em frente a boca - Eu só queria saber como foi o dia que você sentiu algo diferente por mim, mas se isso não aconteceu, você não é obrigado a falar.

Ela tinha ficado chateada e Petruchio sabia disso. Já conhecia Catarina por completo, como a palma de sua mão.

Ele se levantou pensativo, pegando seu menino ainda adormecido no colo. Ao se sentar, coçou sua barba e a respondeu:

- Foi no dia que a gente se viu pela primeira vez.

- Que clichê, Petruchio - respondeu debochando - Qualquer um falaria isso.

- Má eu tô falando a verdade, Catarina - respondeu sério - No dia que você desceu daquela escada da casa do seu pai, eu te achei muito bonita como eu nunca tinha achado outra mulher. E aquela melancia que você colocou na barriga se fingindo de grávida só me fez pensar como ocê ficaria mais bonita se tivesse esperando um filho nosso.

Parou de falar para fazer carinho nos cabelos ondulados do filho que tinha despertado e estava calmo olhando o pai. Tinha certeza que teria os cabelos cacheados como os seus.

- E ocê ficou.

Ele falou baixo achando que a esposa não o ouviria, mas lá estava ela com os olhos vidrados nele, pensando em se levantar e beija-lo, porém, seu corpo estava bem relaxado e o peso de sua menina no braço que decidiu continuar apenas o olhando.

- Me dê ela, favo de mel - ele disse olhando para ela de volta - É a vez do Petruchinho.

Eles trocaram de bebês, ele fazendo Clara arrotar e ela dando de mamar a Julinho. Quando a menina dormiu, Petruchio colocou-a em seu berço.

- Eu vou tirar leite das vaca - ele disse, ajeitando a cobertinha sobre sua filha - Se precisar de mim, manda me chamar. Lembra que ocê não pode fazer muito esforço.

Quando ele ia em direção a porta, ela o chamou.

- Me ajude a levantar - ela pediu, terminando de amamentar, ajeitando sua combinação e lhe esticando seu braço.

E assim ele fez, puxou seu braço, apoiando a mão sobre as suas costas. Ele só não esperava que assim que ela estivesse em pé, ela colocasse sua mão livre sobre sua bochecha e ficasse na ponta dos pés lhe dando um beijo com todo o amor que estava sentindo naquele momento.

- Eu te amo, meu grosseirão - ela disse em um sussurro depois de cessar o beijo.

Ele deu um grande sorriso e a beijou novamente, segurando seu rosto com as duas mãos.

- Eu também te amo, meu favo de mel. Prometo voltar antes da janta - disse antes de lhe dar um último beijo e sair do quarto.

Ela suspirou, segurando a cabeça de seu filho sobre seu ombro. Começou a andar pelo quarto, batendo devagar sobre suas costas, o fazendo arrotar, ainda pensando no beijo que haviam trocado a pouco. Foi quando ela parou de se movimentar e lembrou.

O beijo.

O primeiro beijo que trocaram foi onde ela se apaixonou por Petruchio. Onde a barba dele lhe fazia cócegas, a sensação estranha dos lábios se tocando e a língua dele dentro de sua boca.

Claro que ela foi se apaixonando aos poucos, quando ele a beijava de surpresa e ela fingindo que odiava, quando ele pegava na sua mão na cama antes de dormir, quando eles brigavam e ele lhe confessava seus sentimentos e suas verdadeiras intenções e quando eles se amaram pela primeira vez após o noivado de seu pai.

Apesar de ser seu primeiro beijo, Catarina queria mais e quem mais além da cavalgadura, do jumento, do grosseirão do seu marido?

Ela tocou os lábios com a ponta dos dedos e sorriu para si mesma. Com certeza aquele beijo mudou tudo para ela, se não, não teria a felicidade de ter os seus pequenos.

E ela agradecia a Deus por isso.

Depois que colocou o adormecido Julinho em seu berço, ela decidiu tirar uma pestana. Ao fechar os olhos, só lembrava de cada beijo que eles trocaram com um sorriso no rosto.

Um pouco mais tarde, Petruchio apareceu no quarto novamente e avistou sua esposa dormindo tranquilamente na cama dos dois. Maravilhado, vendo a dormir, decidiu trocar de roupa e se deitar com ela. Deu um beijo na sua cabeça, a abraçou por trás e dormiu com ela sentindo seu cheiro em seu pescoço.

Fim

Eu me lembroOnde histórias criam vida. Descubra agora