Coragem

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ALERTA DE GATILHO







Sequestro.

A forma mais estúpida de conseguir uma manipulação bem sucedida.

Olhei para os homens ao meu redor, o sol pairando em meu rosto e tentei demonstrar imparcialidade, desconhecimento, neutralidade mesmo minha mente turbilhando para pensar em uma forma de escapar do aperto em meu pulso e nos meus tornozelos.

Homens fortes, com músculos amostra revelando que qualquer movimento em falso meu resultaria em meu corpo lesionado.

Respirei fundo e meu coração palpitou forte vendo um homem de cabelos brancos se aproximar e tirar a amordaça improvisada da minha boca. Dedos calejados passaram na marca de rachadura em meu rosto.

- Vou supor que seja S/N. - Falou segurando meu rosto. - Namoradinha do Ishigami... Tsukasa vai amar te ver. 

Mesmo com aquela mascará de material pedra, eu podia ver em seus olhos o sorriso que deu. Um arrepio subiu minha espinha quando senti o toque frio da lança em contato com a pele da minha perna, descendo sutilmente até corda em minhas pernas que se partiram facilmente com a lâmina de pedra.

- Levem ela. - Ordenou e um homem veio até mim, segurou meus braços com brutalidade me forçando a levantar.

Logo começando a me empurrar em direção ao norte. De soslaio, vi o olhar apreensivo de Gen e deu para entender que eu iria sozinha com aquele desconhecido.

- Não me toque! Posso andar sozinha! - Gritei andando um pouco mais rápido para que não fosse empurrada.

Eu vestia um macacão feito com pele de coelho, a vestimenta tinha a parte de cima semelhante a uma regata, a parte de baixo descia até a metade da minha perna e, mesmo assim, mesmo com essa roupa, em uma idade de pedra, eu ainda sinto o olhar de um homem em meu corpo.

Respirei fundo quando senti o corpo do homem mais perto de mim e parei o vendo por cima do meu ombro, o sorriso medonho no rosto me fez querer vomitar.

- Prefiro que vá na minha frente para guiar o caminho, por gentileza. - Disse dando passagem para o mesmo passar.

- Não, princesinha, pode ir andando.

- Pelo relevo, vai ter uma colina em breve, não me sinto segura subindo sem que um homem forte indo na frente e guiando o caminho, me entende? - Perguntei inflando o orgulho do moreno que sorriu e passou a falar sem parar durante todo o caminho até a colina.

Meus pés já doíam quando a noite caiu sobre nós dois. Sugeri que descansássemos e recebi apenas um puxão em meu braço para que eu continuássemos andando e, mais uma vez, ele estava atrás de mim com olhos colados onde era proibido.

Eu quero ir para casa. 

Observei o relevo com atenção, estávamos descendo outra colina, as raízes das árvores saltavam para fora da terra e não consegui evitar tropeçar em uma delas. Meu corpo caiu no chão com peso, a terra sujando mais minhas vestes e a ardência em minha pele indicava algum machucado.

- Mulher fraca! Não consegue andar direito? - Perguntou me levantando ao puxar meu cabelo.

A dor esvaziou de mim em um grito alto e ele me soltou apenas quando me jogou contra uma árvore.

- Inútil. - Murmurou. - Levante-se! Temos que continuar. 

O segui tentando ignorar a dor em meu tornozelo recém torcido. Qualquer chance de fuga se reduziu com a lesão que passou a inchar e o vilarejo de Tsukasa ficar visível.

Atravessei o pequeno povoado, ignorando os olhares perante mim, focando minha visão no homem de cabelos longos sentado em uma espécie de trono.

Senti um empurrão em meu corpo, me forçando a ajoelhar como se ele fosse rei.

Assim que percebi que o sujeito que me trouxe se afastou, me levantei de novo, indo conta as reclamações de minhas atitudes.

— Não me leve a mal, mas não vou me ajoelhar a você por vontade própria. — Praguejei de dor quando uma pressão se fez em meu tornozelo.

— Cala a boca, mulher!

— Solte-a. — Mandou Tsukasa.

Quando novamente fui solta, me levantei.

— Ela é a da vila do Senku! Vai ser uma ótima isca.

— De fato. Vocês começaram a pensar. — Falou o moreno se levantando, em passos rápidos, segura meu rosto e analisa as cicatrizes que os três mil anos deixaram. — Ele vai vir atrás de você.

— Eu sei.

— Não tem medo do que vai acontecer com você?

— Sei que não vou adiantar de nada morta.

Ele sorriu, me soltou e começou a me rodar como se eu fosse um gatinho e ele um predador feroz.

— Você pensou na possibilidade de ele não vir?

— Por quê? Ficou com medo?

— Não, só estou pensando em utilidades para você. — Respondeu segurando meus ombros.

Me afastei abruptamente.

— É melhor só me manter como refém, garotinho. — Avisei forçando uma distância segura.

Ele riu, o corpo musculando parecendo ficar maior conforme enchia os pulmões de ar. Não sou burra e nem ignorante, eu sabia quem ele era e a fama que teve na era tecnológica assim como sabia que aqui, exatamente onde estava, ele era o "todo poderoso".

— Você é bem corajosa. — Respondeu pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando nos próprios dedos. — Mas não é essa coragem quem vai te salvar.

— Mas posso morrer com honra. — Respondi chutando a intimidade do homem e o forçando a se afastar de mim.

Você vai nos salvar, meu doutorOnde histórias criam vida. Descubra agora