Pisava em pequenas folhas alaranjadas e marrons que se espalhavam pela calçada íngrime de San Francisco. Finalmente minha época preferida do ano chegou, outono.
Callie falava algo sobre o trabalho com muita empolgação, enquanto minha mente divagava se perdendo em cada tom terroso que constrastava com os tons alegres de azuis e amarelos das fachadas de algumas casas.
_Ta de sacanagem Blake?! - Callie exclamou parando de repente no meio do caminho, Me tirando dos meus devaneios.
_Desculpa, eu não tô afim de falar do trabalho.Eu já passo a maior parte do tempo nele...pelo menos na minha folga, quero evitar falar sobre- Respondi com forçando um sorriso amigável.
_Era só ter avisado. Não sabe o quão decepcionante é ver que você tá em outro lugar e que eu estou falando sozinha!- Ela disse rindo.
Tínhamos organizado o dia todo com pequenos dates de lugares novos que queríamos ir a tempos. O primeiro lugar era de escolha da Callie. Uma cafeteria que tinha gatinhos para acariciar e basicamente tudo nela também era de gatinho. Eu já tinha dito pra ela avaliar o hiper foco em gatos com uma psicóloga, mas ela apenas ri e diz que é somente amor.
Chegando na cafeteria me deparei com tudo extremamente rosa, com uns vinte gatos brincando, pulando e dormindo. Callie deu pequenos pulinhos de êxtase e se sentou em uma cadeira colada na vitrine.
_Eu vou querer um gatocafé e um catssaint. - Callie disse para a garçonete com um sorriso gigantesco enquanto apontava o item no cardápio.
_Eu vou querer o mesmo, obrigada!- Falei
A garçonete saiu e Callie abaixou o cardápio para me encarar. Ela me conhecia a dez anos e sabia exatamente o quão eu era expressiva.Se eu não gostasse de algo, isso provavelmente estaria transparecendo na minha cara.
_Ah Blake faz um esforço! - Ela disse apoiando a cabeça em uma das mãos.
_ Que porra é um catssaint? - Falei sussurrando.
_É um croissant! - Ela falou indignada como se fosse algo óbvio demais.
_Ta de sacanagem?!
O café veio com uma espuma branca, o que imagino ser creme, e pequenos confetes coloridos. Já o "catssaint" veio em formado de óbvio, um gatinho.
_Então, como anda a Vanessa? - Callie disse com a boca cheia de croissant.
_Vai bem...com o namorado dela.- Falei dando um gole rápido no café para me preparar com a enxurrada de perguntas que Callie iria soltar.
_Espera, Vanessa é hétero? A Vanessa do RH? -Ela arregalou os olhos como se eu tivesse contado a fórmula pra cura do câncer. Callie amava fofoca.
_Ela se dizia curiosa. - Falei rindo para disfarçar a vergonha.
_Mas ela não deu nenhum sinal sobre o namorado dela? -Callie já estava na terceira pergunta.
_Não, ela marcava encontros na minha casa e no hospital, ela sempre saiu mais cedo que eu.- Logo em seguida dei uma garfada generosa no croissant.
Vanessa bebeu muito em uma confraternização do hospital e acabou soltando pra mim enquanto passávamos gloss no banheiro do pub, que tinha curiosidade em ficar com mulheres. Ela sabia que eu era lésbica, todos do hospital sabem disso, eu sempre fui muito bem resolvida com a minha sexualidade....então levei aquilo como uma indireta e a beijei ali mesmo.
O que acabou levando a um longo ciclo de ficadas escondidas na sala de RH, quando eu tinha um intervalo ou outro no plantão do hospital.
Um mês depois ela começou a frequentar a minha casa e o que era apenas alguns "beijos" pulou para transas casuais. Ela falava que era nova naquilo e eu tinha o prazer de ensinar, então beneficiamos duplo.
No segundo mês, todos os dias ela passava na minha casa, no mesmo horário depois que eu saía do hospital.
