001

13.6K 1.2K 228
                                    

Gabriel

O vento gélido vindo do mar bateu em meu rosto, me fazendo arrepiar enquanto continuava escorado no quiosque com Soraia e Pedro, a dona do estabelecimento. Me sinto em paz na praia e no mar, mais especificamente na de Maresias. Moro aqui por esse mesmo motivo. Hoje, além de estarmos no auge do inverno, uma tempestade se aproxima, deixando o vento forte e o clima quente, com o céu fechado de nuvens escuras. O mar, com bandeira vermelha devido à agitação, está deserto, sem turistas ou qualquer pessoa que seja, exceto Soraia e eu.

Soraia só está aqui por causa do quiosque, que é sua fonte de renda. Eu vim porque tive uma briga feia e precisava desestressar, e acabei trazendo Pedro comigo para aproveitarmos e bebermos algo. Estava trajado com a prancha, planejando surfar, mas ao ver essas ondas, percebi que não era uma ideia muito inteligente.

── Pirada! — Ouvi a voz de Pedro e desviei o olhar.

Morena, alta e com cabelos enrolados batendo na cintura. Estava próxima ao mar, fotografando com uma câmera o horizonte.

Aproximei-me de Pedro e Soraia, observando a mulher que desafiava a tempestade iminente para tirar fotos. Ela parecia completamente alheia ao perigo, focada em capturar o momento. Que maluca!

── Quem é ela? — Perguntei, sem tirar os olhos da mesma.

── Aquela lá? Leninha, tem quem diga que é filha dos ventos. Ô menina estressada essa! É a mãe dela nos seus dias. — Contou e eu continuei interessado.

── Ah não, não. — Scooby negou com a cabeça e eu o encarei. ── Essa mulher é o diabo em pessoa, pior que furacão, ela consegue ser mais diaba que a minha ex, Medina. Tira o olho se você se ama!

── Da onde conhece ela?

── Eu tenho um ímã de mulher maluca. — Debochou.

Fiquei observando Helena por mais alguns minutos. Algo em sua determinação e coragem me intrigava.

── Acho que vou surfar. — Disse, de repente, pegando minha prancha e notei o olhar dos dois sobre mim, como se eu estivesse louco.

Eu acho que eu tô sim.

── Você não pode estar falando sério, Medina. Olha o estado do mar, cara, quer se matar?

── Eu preciso disso, Pedro. — Respondi, determinado. ── Só me promete que não vai interferir.

E então ele suspirou, sabendo que discutir seria inútil.

── Tá bom, mas se você se matar, eu não vou no seu velório e nem fazer post fofo no Instagram.

Caminhei em direção ao mar, sentindo o vento forte chicotear meu rosto. As ondas pareciam monstros gigantes, prontos para me engolir. Hesitei por um momento, mas a necessidade de libertar a tensão da briga era mais forte. Entrei na água, sentindo a força das ondas contra mim.

À medida que me afastava da costa, as ondas ficavam mais violentas. Concentrei-me na prancha, buscando equilíbrio e força para enfrentar o mar. Subi em uma onda enorme, sentindo a adrenalina correr pelas veias. Por um instante, senti-me invencível. Mas a natureza tem sua própria forma de lembrar-nos de nossa fragilidade.

Uma onda gigante se formou à minha frente, e antes que eu pudesse reagir, fui jogado para baixo. Senti o impacto da água como pedra, a prancha se afastando de mim e meu corpo sendo arrastado pela correnteza. Tentei nadar para a superfície, mas a força da água me impedia.

Quando finalmente consegui subir à superfície, respirei fundo. Foi então que vi Helena, ainda com a câmera em mãos, mas agora olhando diretamente para mim com uma cara de susto. Comecei a acenar e torcendo para que ela entendesse que eu estava precisando de ajuda.

Bom, eu não estava. Consigo tranquilamente voltar nadando se eu for a favor da correnteza e der a volta, mas é uma forma interessante de conhecer essa tal filha dos ventos que a Soraia falou.

Sem hesitar, ela largou a câmera e correu para o mar. Vi seu corpo se mover agilmente pela água, nadando em minha direção. Quando chegou até mim, segurou meu braço com força.

── Fica calmo. — Disse ela, a voz firme. ── Vou te tirar daqui.

Ela me ajudou a nadar de volta à costa, lutando contra as ondas. Quando finalmente chegamos à praia, caímos na areia, exaustos. O mar está bem turbulento!

── Você é maluco. — Disse ela, respirando pesadamente. ── Não deveria ter entrado no mar nesse estado.

── Eu precisava. — Respondi, com um sorriso de canto.

Ela me olhou com intensidade, como se estivesse tentando entender o que me motivara a arriscar minha vida. Mil coisas!

── Qual é o seu nome? — Perguntou ela.

── Gabriel. E o seu?

── Helena. — Respondeu ela, com um leve sorriso. ── Acho que você me deve uma, Gabriel.

Sorri de volta, sentindo uma conexão inesperada com essa mulher corajosa. Enquanto o vento gélido continuava a soprar, trazendo a tempestade cada vez mais próxima, percebi que talvez tivesse encontrado algo mais do que apenas alívio para o estresse naquela praia.

── É, eu devo sim.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora