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Helena

Conforme eu caminhava pelo meio daquela multidão próxima à orla, meu coração ficava cada vez mais acelerado. Odeio multidões! Havia um campeonato de surfe local e, de longe, avistei um amontoado de pessoas eufóricas, o que me deu passe livre para tirar as fotos do ensaio da minha amiga sem pessoas no fundo. Aparentemente, todos estavam concentrados nos surfistas.

── Vai, entra no mar. — Falei para Marina, e a loira apenas obedeceu. ── Senta na beira e deixa as ondas quebrarem em você, vai dar um take legal!

Era um ensaio fotográfico para o aniversário da minha melhor amiga, e é claro que sou eu quem o faria. Eu me sentiria traída se ela contratasse outra fotógrafa. Meu portfólio está montado há tempos; larguei a faculdade de engenharia para me dedicar ao que realmente amo: fotografar. No início, minha mãe ficou receosa, discutimos bastante porque somos extremamente parecidas em personalidade, somos estressadas. Passei a noite na casa da minha irmã, que foi morar sozinha justamente por viver discutindo com nossa mãe, mas nós duas sempre nos entendemos. Quando voltei pela manhã, ela já estava me apoiando e nos desculpamos. Alguns dizem que eu tenho personalidade forte, mas não é verdade. Sou tranquila e sei conversar, meu único problema é que, quando me estresso, explodo. Não é à toa que, quando consegui minha independência financeira, a primeira coisa que fiz foi ir morar sozinha.

Queria morar próximo à praia porque o mar me acalma, assim como os ventos. Sou extremamente conectada à natureza desde criança, totalmente influenciada pelo meu pai. Ele sempre me dizia que Deus não era um ser místico sobrenatural, mas que estava em tudo ao nosso redor: a natureza, a força dela. Quando fazia faculdade, escolhi engenharia ambiental por causa disso. Queria mesmo fazer oceanografia, mas não há muitos empregos para isso no Brasil. Aos quinze anos, descobri que fotografar era minha paixão em um trabalho de artes para a escola. Tornou-se um hobby que juntei ao útil e ao agradável: fotografar a natureza.

── Ai, caramba! — Marina resmungou, fechando os olhos após uma onda grande atingi-la, me fazendo rir enquanto a água já encostava nos meus joelhos, que estavam no chão.

── Tá bom, amiga. — Falei, me levantando, e ela fez o mesmo, com o vestido longo encharcado. ── Quatro horas seguidas, depois a gente seleciona as melhores e edita!

── Confio em você, sei que ficaram boas!

Enquanto organizava o equipamento, vi uma figura familiar caminhando pela areia. Flashes de uma semana atrás vieram à tona em minha mente. O até então "banhista" que eu havia ajudado a sair da água no último sábado era, na verdade, um surfista, pois ele estava com uma prancha e vestido adequadamente, assim como os caras que estavam com ele.

── Medina! — Marina se aproximou dele e eu fiz uma cara de confusão, parando e cruzando os braços enquanto eles se cumprimentavam com um abraço na minha frente. ── Lê, esse é o Gabriel, amigo do Pedro.

── Pedro?! — Sorri de canto, reconhecendo o nome do amigo de Marina, um ex-namorado dela que tem atitudes de quinze anos até hoje.

Gabriel se virou para mim, um sorriso tímido no rosto e uma feição de surpresa.

── Oi, Helena.

── Então você surfa? — Perguntei, apontando com a cabeça para a prancha ao seu lado.

── Surfa! — Marina concordou. ── Ele é tricampeão mundial, compete e tudo. Vocês se conhecem?

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora