Capítulo 12: O teatro dos mentirosos

35 14 61
                                    

Tebas, Egito  
975 a.c

"Se tem uma coisa que aprendi nessa vida é que a mentira é a base primordial para a sobrevivência, mas isso não significa que ela dure para sempre."

"Eu aprendi isso com a pessoa mais sábia que eu conheço..."

"— Você sabia, Safyia? Às vezes, mentir ajuda as pessoas. Se você mata ou rouba alguém, esse fato pode ser encoberto se a pessoa em questão souber mentir muito bem - disse Althea com a expressão serena enquanto colhia algumas ervas no solo."

"— Por que isso agora? Você não é de ficar filosofando - disse eu, de 13 anos, meio ranzinza, ajudando."

"— Cala a boca e me ouça. - disse ela, autoritária. Ela até pode ser calma, mas tem uma paciência do tamanho de uma mosca. — O que eu quero dizer é que a mentira pode ser vantajosa para algumas pessoas, mas, em compensação, uma tragédia para outras."

"— Então basta dizer a verdade. Pra que tanto drama?"

"— Não é tão fácil como você imagina, criança. A verdade, assim como a mentira, pode ser boa e ao mesmo tempo devastadora para as pessoas."

"Suas palavras me deixaram ainda mais confusa."

"Eu direcionei meu olhar para ela a fim de conseguir uma resposta mais clara."

"— Agora eu não entendi onde você está querendo chegar. Se ambos são bons e ruins, então qual deles é a melhor opção? - perguntei curiosa."

"— Ora, criança, é claro que é a verdade. Sempre vai ser - afirmou, deixando de lado a expressão serena e pondo no lugar um sorriso leve."

"— Então, por que ela pode ser devastadora?"

"— Para simplificar, só irei lhe dizer isso apenas uma vez, então ouça com atenção. - ela alertou, me deixando ainda mais curiosa."

"Ela direcionou seu olhar para os meus olhos, me fazendo ficar atenta, quando disse:"

"— A verdade dói apenas uma vez, mas a mentira dói cada vez mais quando você esconde e se lembra dela."

"Aquelas palavras, de certa forma, mexeram comigo. Foi a primeira vez que me senti tão tocada ao ouvir tais palavras profundas e verdadeiras."

"— Onde você..."

"— Por isso, filha... - ela me interrompe. - Tente ser verdadeira o máximo que conseguir, porque viver nas sombras da mentira nunca é um bom caminho. - disse ela, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha."

"Eu sorriu com seu afeto. Seus toques sempre foram os mais macios e calorosos do que qualquer outra pessoa."

"— Tudo bem, mãe... - concordei, pondo minha mão sobre a sua carinhosamente. — Vou dar o meu melhor."

"Althea sempre foi uma mulher sábia, que dava os melhores conselhos mesmo que a pessoa não tivesse pedido e pronunciava palavras de conforto mesmo com seu jeito rígido e distante. Ela era incrível e a melhor mãe que eu poderia ter ganhado."

"Eu sempre segui os seus conselhos. Para mim, ela era uma divindade vinda diretamente dos céus para me salvar de mim mesma. Mas..."

Portland, Oregon
2009 d.C.
'Cerimônia de entrada na faculdade de medicina de Portland.'

"... aquele conselho eu não consegui cumprir."

"— EU JURO! - anunciei em voz alta, com uma das minhas mãos levantadas em frente a uma multidão de pessoas, enquanto lia atentamente um documento e pronunciava as seguintes palavras. — Eu juro solenemente que vou me voluntariar pela humanidade. Eu usarei e manterei minha consciência médica e dignidade. Não importando o que acontecer, não usarei meu conhecimento médico para usos maléficos."

Um Amor Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora