4 | Marina

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Acordei tarde, próximo ao almoço, e minha preocupação era a imagem que Rosane e Roberto teriam de mim. Não queria parecer folgada, especialmente porque eles me acolheram tão gentilmente. A culpa por ter dormido tanto me corroía um pouco, mas o cansaço do passeio de ontem havia me vencido.

Tomei um banho demorado, contrastando com a ideia de tentar não parecer folgada, mas eu precisava disso. A água quente deslizava pelo meu corpo, relaxando meus músculos tensos e lavando as preocupações. Enquanto escutava as músicas antigas da banda Forfun, sentia minhas energias sendo revigoradas. A voz familiar do vocalista e as batidas nostálgicas me transportavam para momentos felizes do passado, lembrando dos intervalos em que meu professor de história tocava no violão as músicas da sua juventude, afastando temporariamente qualquer ansiedade.

Anotei mentalmente de lembrar a Rosane se ela conhece algum lugar que vende incenso e velas. Precisava de algo para criar um ambiente mais aconchegante e tranquilo para mim nesses últimos dois dias antes da prova.

Quando terminei, me enxuguei com a toalha macia, apreciando a sensação de frescor e limpeza. Escolhi um look composto por um top tomara que caia justo e curto, combinando com um short de cintura alta e elástico, ambos em um tom de cinza escuro.

Fiz um penteado com o cabelo dividido ao meio e duas tranças delicadas na parte frontal, que emolduravam meu rosto. Olhando no espelho, senti uma onda de satisfação.

Ao sair do quarto, passei pelo corredor, tentando ouvir algum barulho, mas nada foi escutado. Desci para o andar de baixo e encontrei Roberto fardado com um uniforme preto da polícia. Havia várias insígnias e emblemas que indicavam sua posição e filiação, cada uma cuidadosamente presa ao tecido, que ajustava-se perfeitamente ao seu corpo. Usava um cinto funcional e bolsos estrategicamente posicionados.

Ele tinha uma expressão séria enquanto olhava para a televisão ligada à sua frente. Seus traços faciais eram marcantes, com um queixo e uma mandíbula bem definidos. O cabelo escuro complementava perfeitamente seu rosto, e ele parecia irradiar uma presença que era ao mesmo tempo forte e serena. Cada detalhe dele, desde a postura até o olhar, exalava uma beleza difícil de ignorar.

Quando ele ergueu os olhos para a escada e me viu ali, admirando-o, deu um sorriso de lado.

— Bo-bom dia, Roberto — gaguejei, sentindo meu rosto corar.

— Boa tarde, dorminhoca — ele respondeu em um tom brincalhão, os olhos brilhando com diversão.

— Desculpa, não queria ter dormido todo esse tempo — expliquei, mordendo o lábio inferior.

— Normal, vocês saíram ontem e fomos dormir tarde depois do filme — ele disse, dando de ombros.

— Onde tá a Rosane? — perguntei, olhando ao redor.

— Ela saiu rapidinho. — Ele olhou para o relógio na parede e franziu a testa. — O rapidinho dela faz duas horas...

— Você chegou do trabalho ou está indo? — questionei, examinando-o da cabeça aos pés e sentindo um pulsar no meio das minhas pernas.

— Vou depois do almoço — ele respondeu, ajeitando a farda.

— Achei que vocês tinham horários certos como qualquer outro servidor público — comentei, tentando entender sua rotina.

— Quem dera, Marina. Às vezes, não tenho nem tempo de beber água — ele suspirou, a frustração evidente na sua voz.

— Mas você parece gostar do seu trabalho — observei, notando a paixão nos olhos dele.

— Eu gosto... Na maior parte do tempo — admitiu, dando um meio sorriso.

A notícia na televisão atrás de mim chamou sua atenção, e virei para olhar do que se tratava. A imagem do presidente Lula apareceu, e ao ler a chamada, descobri que havia novas alagações no sul do país.

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