Behind The Shadows (Volume 2)

XVII

Os meninos saíram cedo para seus trabalhos como sempre. Porém, apesar de todo o sono e cansaço que eu sentia, nada me fazia pregar os olhos. Ficar estirado na cama só olhando para o teto não era muito legal, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer.

Era ruim admitir isso para mim mesmo, só que não dava para simplesmente ignorar: eu sentia saudades de um certo alguém.

Eu me lembro claramente da solidão constante que eu sentia quando estava preso. Nunca tive amigos, nem queria me misturar com aquele pessoal. Sabia que ia sofrer lá dentro pelo que eu era. Um policial que foi preso? Eu ia ser um brinquedinho nas mãos de quem tinha poder dentro daquelas celas, usado e torturado. Mas, mesmo que eu fugisse disso, ainda tinha aquele sentimento triste de estar sempre sozinho.

Mas, certo dia, isso mudou. Mephiles estava sempre ali, do outro lado, me vigiando como se eu fosse uma peça cara de ouro que poderia ser roubada a qualquer momento. Nós nunca conversávamos, mas a presença dele era o suficiente para me fazer sentir seguro. Eu sentia seus olhares, sua preocupação para comigo. Era como se meu subconsciente soubesse que ele estava ali para mim, e somente para mim.

Depois daquela súbita tentativa de aproximação (que, cá entre nós, foi um fiasco), pensei que voltaria a ficar solitário. Ele realmente deixou de ficar do meu lado, mas continuava ali. Vez ou outra, ele passava como quem não quer nada e lançava um olhar discreto para mim. Era um pouco assustador, considerando que eu pensava que suas intenções eram outras, mas tê-lo comigo ainda assim me passava certa segurança.

E, agora que ele se tornou uma constante em minha vida, eu não sabia mais viver sem ele. Mais uma vez, ele tampou o buraco de solidão que se abriu em meu peito, cuidou de mim como se eu fosse uma criança dependente. E quando eu percebi que ele realmente se importava e só queria ser um amigo, eu confiei nele. E eu não me arrependo. Parecia errado no começo, ele era muito bipolar: do nada se irritava, e depois voltava a ser aquele cachorrinho obediente. Mas eu aprendi a lidar com isso, assim como ele aprendeu a lidar com minhas inseguranças e dores. E era isso que nos fazia sermos perfeitos um para o outro, um com o outro.

Só que, agora, a dor de se estar sem ninguém voltou a me assombrar.

Um gosto amargo se espalha pela minha boca, um misto de desgosto e raiva. Eu não precisava questionar para saber de quem eram esses sentimentos, e muito menos para quem eles eram direcionados. Já cansado de tanto aturar meus pensamentos agonizantes, resolvo levantar para retirar aquele amargor da garganta, retornando para o quarto depois de pronto.

- Mephiles? - chamo, esperando que ele aparecesse na minha frente de algum lugar invisível. Nada. - Mephiles, por favor... - Dessa vez, olho em volta do quarto, avaliando bem cada cantinho escuro, realmente acreditando que ele voltaria. Mais uma vez, nada aconteceu. - Eu não sei se você consegue me escutar falando assim de onde você está, então vou tentar de uma maneira diferente. - Com um suspiro, retomo a fala, mas agora reproduzindo ela como um áudio nos meus pensamentos. De alguma forma, ele ouviria com a nossa conexão telepática esquisita. - Eu sei que eu errei. Eu sei que eu sou difícil também. Eu não tenho culpa de não entender suas charadinhas ou seus códigos, eu não sou um robô pra compreender cada mínima coisa que você diz pra mim. Eu quero entender, eu realmente quero. Mas é complicado. Ok, eu admito, eu sou lerdo. Feliz? Mas você também não ajuda! Só, por favor, volta pra mim. Não me deixa aqui sozinho de novo. Eu faço qualquer coisa que você quiser, é sério. Me explica o que eu fiz que te deixou tão bravo, e vamos resolver isso juntos. Pode ser?

Eu espero. Espero e espero e espero. Mas nada acontece. Meus olhos se enchem de lágrimas e meu coração aperta no peito. Eu realmente perdi ele para sempre?