Entre Ódio e Desejo

Capítulo 8: O Primeiro Beijo

Chegou mais uma segunda-feira, e meu maior medo era que o aparelho chamasse atenção demais, para bem ou para mal. Eu hesitei muito antes de decidir colocá-lo, pois sabia que poderia ser alvo de piadas na minha antiga escola. No entanto, no Instituto Vidal, eu esperava que a situação fosse diferente.

Quando cheguei ao colégio, entrei na sala cerca de 15 minutos antes da aula começar. O ambiente estava tranquilo, com apenas alguns meninos no fundo e as meninas — Milena, Vitória e Penha — conversando. Meu coração estava acelerado com a expectativa de como seria o dia.

Antes que eu pudesse dizer algo, as meninas já começaram:

— Anda, deixa eu ver como ficou o aparelho! — disse Milena, aproximando-se com um olhar curioso e empolgado.

— Você colocou borrachinha de que cor mesmo? — perguntou Vitória, com um tom de ansiedade.

Eu tentei sorrir, mas a dor e o desconforto ainda eram evidentes.

— Ai, por favor, minha boca ainda tá doendo. Não me acostumei com isso ainda. Por favor, não me faça ficar mostrando. — Eu pedi, com uma expressão que devia deixar claro o quanto eu estava desconfortável.

Penha se levantou rapidamente e saiu da sala sem dizer uma palavra. Eu fiquei perplexa, olhando para o seu comportamento brusco.

— Por que ela me odeia tanto? Eu nunca fiz nada para ela. — Eu perguntei, frustrada.

— Não acho que seja ódio... Pode ser ciúmes ou algo assim. — Vitória tentou me confortar, tentando entender a situação.

Puxei um pouco a conversa para outro rumo para tentar mudar o clima, mas o assunto rapidamente foi interrompido. Erick apareceu na porta da sala, com uma flor na mão. O que fez todos os olhos se voltarem para ele.

— Milena? — Erick chamou com seu tom de voz seguro e característico. — Vem aqui, por favor.

Milena, imediatamente animada, foi em direção a ele sem hesitar. A sala parecia ter uma energia diferente, como se todos estivessem esperando para ver o que aconteceria. Erick se inclinou um pouco, aproximando o rosto do ouvido de Milena enquanto entregava a flor e sussurrou sedutora e lentamente algo em seu ouvido.

— Sim! Eu aceito, sim! — Milena exclamou, com uma empolgação quase contagiante.

— Então, será que eu posso finalmente beijar minha namorada? — Erick perguntou em um tom quase sussurrante, olhando fixamente para Milena. Seu olhar era tão intenso que eu não pude deixar de sentir uma pontada de inveja. Parecia um momento tão intimo deles.

Milena confirmou com um gesto de cabeça, seu rosto iluminado por um sorriso radiante. Erick, de forma muito confiante e sedutora, colocou a mão direita atrás do pescoço dela e a esquerda na cintura, puxando-a para mais perto. O beijo que se seguiu foi profundo e intenso. A forma como ele movimentava seu pescoço e sua boca, enquanto comandava completamente a situação através das suas fortes mãos formava uma visão inexplicavelmente atraente. Mesmo que eu soubesse que era entre ele e Milena,e não comigo, o beijo provocou sentimentos em mim que me deixaram paralisada.

O beijo durou apenas alguns momentos, mas foi o suficiente para que eu me sentisse um misto de confusão e ciúmes. O que me tirou desse transe foram os aplausos de Vitória e a expressão de Penha, que havia acabado de entrar na sala. Ao ver os dois se beijando, Penha demonstrou por um breve momento um olhar carregado de raiva. No entanto, ela rapidamente tentou disfarçar, oferecendo um sorriso forçado e se juntando aos aplausos de Vitória.

— O professor está vindo aí. Terminem isso logo. — Penha disse, tentando manter um tom de voz neutro, mas sua frustração estava visível para mim.

O professor entrou na sala logo depois que o beijo terminou. Ele não chegou a ver o que havia acontecido, mas rapidamente percebeu a agitação na sala. Com um olhar curioso, mandou os dois se afastarem e retornarem para suas cadeiras.

— Vamos, pessoal, já é hora da aula. — O professor disse, tentando restaurar a ordem na sala.

Milena e Erick se sentaram, ela ainda com um brilho de felicidade nos olhos. E ele com o rosto semelhante ao de uma fera prestes a pegar sua presa. Para os dois, a expressão no rosto era um sorriso de vitória, mesmo que diferentes. Enquanto isso, eu estava sentada em meu lugar, processando o que acabara de acontecer.