Capítulo 16

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Encontramos outro lobisomem em frente à delegacia de polícia. Ou o que restou dela. Ele luta contra quatro policiais que estão perdendo. Eles são arremessados por todos os cantos como se fossem bonecos de pano. Nos vemos a tudo pelo carro, estamos indo em sua direção e olho para meus amigos. Nós temos a mesma ideia. E com um gesto de cabeça ganho o aval para pisar fundo no acelerador. E não paro até colidirmos com o bicho, passando por cima dele. Acho que Francisco, não vai se importar com alguns amassos no seu carro. Afinal, ele está em dívida conosco, pois salvamos a vida dele e de sua esposa, hoje. Paro o carro e olho para o corpo exposto no chão.

- Falta apenas um agora.

Mal, término a frase e o nosso amigo aparece. Em cima do prédio em chamas, uma figura de olhos brilhantes contrasta com a lua. Estamos longe, mas reconheço esse olhar. Por isso, abro um sorriso de desafio e mando todos entrarem no carro. Saímos a toda a velocidade e desaparecemos na esquina, abandonando os policiais, mas não me preocupo com eles, pois sei que Matias não irá atrás deles. Afrouxo um pouco o pé do acelerador, para dar tempo de nos alcançar. É aí que vemos a besta surgindo pela esquina e volto a acelerar. Ele quase nos alcança por conta de pequenos obstáculos na rua, mas conseguimos chegar ao local marcado. Então buzino, dou o sinal, avisando que ele está chegando. Passamos pelo local marcado e, quando ele toca a pata no local exato. Os policiais descem a rede, fazendo com que caia em cima dele, o desestabilizando e o fazendo tropeçar. Para finalizar, imobilizamos ele com cordas e algumas correntes que sobraram da biblioteca do tataravô Horácio. E quando ele já está bem amarrado, me aproximo e injeto várias doses de sonífero, tenho uns frascos de emergência, fazendo a criatura adormecer.

- Bom trabalho, pessoal. - diz o Luiz. - Sinceramente, Heitor, não estava muito confiante do seu plano, mas que bom que deu certo - diz ele, esboçando uma cara de alegria.

- Estou feliz que tudo tenha acabado. Finalmente, vamos poder dormir em paz, Jônatas.

- Mas o que vamos fazer com ele, Heitor? Não podemos levá-lo para uma cadeia normal.

- Eu já pensei nisso - falo, olhando para a criatura.

Se passaram algumas horas. Finalmente amanheceu e conseguimos juntar toda a população na praça para ver a grande fera acorrentada, prontos para testemunharem a sua transformação em humano. Ainda não dormir um só segundo, aposto que a foto que tiraram de nós com o lobisomem amarrado atrás, como se fosse um leão morto por caçadores em uma savana distante, não vai ocultar a minha cara de sono. O prefeito pediu para ficar com uma cópia da foto. Eu disse que lhe daria uma, mas não pretendo cumprir com a promessa. Quero reservar esta fotografia para o dossiê que entregarei para o diretor da faculdade. E sei que as histórias sobre os acontecimentos na cidade ecoaram por todo lugar. Então, não quero que haja provas sobre a veracidade dos fatos. Este acontecimento me deixou receoso. Espero que outros seres não decidam seguir o mesmo caminho que o bando de Matias. Eles podem ser monstros e seres amedrontadores, mas é o seu lado humano o que mais assusta. De qualquer forma, teremos muito o que discutir e especular na universidade, mas ainda temos um assunto para resolver.

Finalmente, Matias acorda. Ele está nu e encolhido entre as correntes. Quando ele levanta o olhar, se depara com todos os habitantes de Serra do Conde. O olhando de forma enojada e horrorizada. Ele percebe que está preso e o medo se apropria dele. Ele nota minha presença, estou bem do lado dele.

- Estamos todos aqui para julgar os crimes cometidos por este homem a nossa cidade. - Fala o prefeito, em alto e bom som- Este sádico atentou contra a paz e a segurança de nossos moradores. Ele é um perigo para a sociedade e não acho que seria prudente, considerando tudo o que aconteceu, que fosse levado a uma prisão cheia de prisioneiros assassinos, onde ele poderia formar uma nova quadrilha de amaldiçoados. Portanto, a solução mais segura, seria condená-lo a morte!

As pessoas, do jeito que imaginei, deram gritos de aprovação.

- Vocês não podem fazer isso! Não existe pena de morte nesse país! - disse, tentando rebater sem sucesso. - Me soltem seus malditos senão, hoje à noite, irei matar todos vocês!

Disse ameaçando as pessoas.

- Estão vendo! - falou o prefeito, como um advogado de acusação - Vejam como este doente é uma ameaça! Portanto, meu povo, não há mais o que discutir. Todos a favor da pena de morte, levantem a mão.

Ninguém deixa a mão abaixada.

- Sabemos que não existe pena de morte neste país, Matias, mas mesmo que você pegasse a pena máxima ou cem anos de prisão, não seriam suficientes para pagar por todos os seus crimes. - Falo - Eu poderia ter te matado assim que o capturamos, mas achei melhor não roubar a vingança dessas pessoas, pois uma morte rápida seria muito pouco para você.

Ele pragueja contra mim, mas o ignoro.

- Todos os que perderam um familiar, amigo, esposa, vizinho ou pessoa de estima, venha a frente e pegue um rifle.

E assim o fazem. As armas acabaram bem rápido. E alguns só participaram da execução como espectadores, mas poderão ter a sua vingança, pelo menos. Nos afastamos de Matias e o delegado faz o sinal, as pessoas apontam e o mundo parece parar. Há muita gente ao nosso redor, muitos rostos que se tornaram conhecidos. Eles se concentram e dão uma última olhada nos olhos de Matias. E atiram. Há um grande barulho, sangue espirra e pássaros voam para o céu.

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