Meu Pézinho de Alface

Alface Crespa

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Meu coração só faltava explodir de amores por Kim Taehyung.

Todas as tardes eu visitava meus avós em outra cidade. Todas as tardes Kim Taehyung pegava o mesmo ônibus e parecia alheio às outras pessoas.

Até o dia em que nos esbarramos na porta do veículo e ele me olhou nos olhos. Aqueles lindos olhos castanhos brilhando diante da luz forte do sol que ele tentava tapar com as costas da mão para me enxergar.

Pedimos desculpas ao mesmo tempo e ele me sorriu um sorriso grande e característicamente quadrado. A partir desse dia, minha rotina nunca mais seguiu um padrão. Taehyung não era seletivo, cada dia se sentava em um lugar diferente, e como eu estava sempre atrás o acompanhando, acabava ficando em assentos diferentes também.

Nós conversávamos todos os dias no ônibus, naquele mesmo horário. Tae sempre fazia questão de lembrar do dia que nos vimos pela primeira vez ao nos esbarrarmos, ele nunca imaginaria que eu o vi muito antes disso e sempre o admirei de longe. Ele gostava de reforçar que, pela careta que eu fiz no dia, poderia jurar que eu estava prestes a xingá-lo. Eu nunca poderia fazer algo tão cruel com alguém tão amável.

Todos os dias a sensação de necessidade de olhar para aqueles lindos olhos aumentava, e quanto mais o tempo passava, mais a frequência com que nos encontrávamos propositalmente também aumentava de forma proporcional. Passamos a nos encontrar fora do ônibus e a trocar mensagens pelo celular, ele me mandava figuras fofas e engraçadas e isso sempre me tirou um sorriso genuíno.

Um dia o chamei para almoçar em minha casa. O convidei para que pudesse provar a comida que tantas vezes mencionei em nossas conversas durante as viagens de ônibus e quando saíamos para dar uma volta.

Em uma dessas nossas conversas o expliquei que, desde criança, sempre gostei muito de alface. Eu não gostava de nenhuma outra verdura, apenas de alface. Kim Taehyung foi super compreensívo e demonstrou genuíno interesse pela minha estranha fixação. Sempre adorei isso nele.

Ele mencionou a existência de sete tipos diferentes de alface na imensa horta da fazenda de seus pais e eu ficava encantado toda vez que ele mencionava seu lar.

Eu contava os minutos para sua chegada, embora não soubesse exatamente quanto tempo ele levaria para chegar de sua casa até a minha, de ônibus. Ele havia contado para mim, em uma de nossas conversas, que morava em uma casa no fundo da fazenda de seus pais, na parte rural da cidade, isto é, longe de onde eu morava.

A mesa estava posta, a comida cheirosa e eu permanecia parado em frente à porta esperando o soar da campainha. Aquela espera agoniante me dava tremeliques e eu não queria checar pela enésima vez se a salada de alface estava com bastante tempero.

Quando Taehyung chegou e tocou a campainha, minha ansiedade aumentou, eu quis sair correndo por não saber como reagir à sua presença em minha casa pela primeira vez. Em vez disso abri a porta e o recebi com um sorriso desajeitado.

Taehyung estava lindo, como sempre. Estava sem a costumeira jardineira que usava no ônibus quando ia resolver "assuntos importantes da fazenda" como ele mesmo dizia, vestia-se de maneira despojada e usava o cabelo loiro todo soltinho e encaracolado feito as folhas de alface crespa do almoço.

— Pode entrar. — Eu disse ainda um pouco sem jeito. — Adorei seu cabelo.

— Obrigado. — Ele esboçou uma careta engraçada e virou-se para o outro lado com vergonha e, depois de uma pausa encarando a televisão desligada, voltou-se para mim. — Gosto desse seu estilo colorido.

Ele se referia à decoração do meu apartamento, e talvez às minhas roupas também. Eu gosto muito de cores vibrantes e ele sempre elogiava minhas roupas pela cor delas. Uma vez quando saímos para caminhar ele disse "essa sua blusa tem um tom de azul de um dia quente sentado à beira do lago ouvindo os pássaros cantarem". Um elogio um pouco incomum, mas eu sempre adorei o calor, e passei a adorar ainda mais o calor com Kim Taehyung.

— Sua casa me lembra minha hortinha. É como se eu me sentisse em minha própria casa. — Ele diz, dessa vez me olhando nos olhos.

Kim Taehyung tem um espírito radiante, gosto da forma como ele vê poesia em tudo e gosto ainda mais de ver como ele se sente feliz em compartilhar essa poesia comigo.

— Eu posso estar ficando louco, mas, com você aqui, me sinto mais em casa do que o normal. — Afirmo sem pensar muito no que saía da minha boca.

Taehyung enrijeceu e ficou em silêncio. Virou-se novamente para a sala e eu não soube se o havia deixado envergonhado novamente, até ele dizer:

— Pode conhecer minha casa na fazenda dos meus pais qualquer dia.

Dessa vez quem se envergonhou fui eu. Um pouco sem reação apenas concordei com um menear de cabeça e o chamei para a cozinha para almoçarmos.

Ele fazia questão de me elogiar por cada colherada que dava na comida, e sempre me lembrava de comer outras verduras além da alface. Eu fazia um esforço pelo seu pedido, mas podia jurar que meus olhos lacrimejaram enquanto mastigava a couve que ele colocou no meu prato.

— Você cozinha muito bem, Seok. — Ele disse com um bico nos lábios enquanto mastigava uma quantia generosa de arroz. Sempre com os olhos colados aos meus.

—Fico até meio sem jeito com seus elogios, você mora em uma fazenda com fogão à lenha, aposto que come muito bem todos os dias. — Comento empurrando o resto de couve para o canto do prato, sentindo seu olhar sobre mim.

—A comida de lá é boa, mas sua companhia é melhor. — Foi com essa fala dele que me senti nas nuvens, seus flertes eram incomuns, doces e genuínos. Taehyung estava me acolhendo em sua vida leve e serena e eu adorava cada um desses momentos com ele.

Ele se levantou bruscamente e foi até sua mochila que estava no sofá da sala, tirou de lá uma câmera fotográfica e com um sorriso de criança sapeca a apontou para mim que permanecia com cara de bobo e segurava uma colher cheia de alface próxima à boca.

Ele tirou uma foto minha com cara de bobo apaixonado, e eu não podia fingir que não me apaixonei ainda mais por ele quando ele disse:

— Gosto muito de fotografar momentos importantes, e desde que nos conhecemos você vem se tornando cada dia mais importante para mim e meu pobre coração. Ele me deu um aperto, digo, senti um aperto no coração quando te vi sorrir para mim, um aperto bom, quase como se meu próprio coração fosse um botão de câmera e estivesse fotografando esse momento.

Nesse dia pude perceber que Kim Taehyung tem o efeito calmante de uma alface em meu dia estressante.

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