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Gabriel

Eu acho que nunca me diverti tanto em uma noite só. A presença da Helena me cativa, e por mais que eu tenha ouvido mil coisas negativas sobre ela – tanto do Pedro, da Soraia, e de algumas amigas quando contei sobre nós – eu não vou me deixar levar por boatos. Ela me mostrou ser diferente do que dizem, e eu prefiro acreditar nela!

Quando fui seguir ela nas redes sociais, vi que ela tinha literalmente três fotos próprias no perfil, o resto eram todas paisagens. Ela é tão bonita e não se exibe, não exibe a própria beleza. Esse ar de mistério e o fato de ser extremamente low profile me cativaram e me fizeram criar um interesse a mais, descobrir quem ela realmente é por trás dessa armadura.

Uma semana se passou desde então e, ironicamente, não cortamos o contato. Conversamos frequentemente e estamos nos tornando amigos, pode-se dizer.

── Sabe, eu estava pensando... — Pedro falou encostado na porta e eu levantei o olhar. ── Vou reatar com a Marina!

── Você precisa é tomar juízo. — Falei, concentrado no meu sorvete enquanto minha irmã estava jogada no sofá à minha frente junto de Pedro. Eles se dão bem demais! ── Você não sabe ser adulto, nem parece que tem trinta e cinco anos. A Marina tem vinte e três e é mais madura que você!

── Que isso? Tapa na cara de graça. Amei, continua! — Sophia falou em tom divertido, observando nossa discussão.

── Mas eu amo ela. — Scooby rebateu.

── Mas só amor não sustenta um relacionamento, né João Frango? — Sophia falou, e eu ri na mesma hora. Ele odeia esse apelido! ── Tem que ter maturidade, respeito, confiança.

── Olha aí, tá levando na cara de uma adolescente. — Falei encarando ele, que rolou os olhos. ── Que vergonha, hein Pedro?

── Eu tenho dezenove anos! — Minha irmã argumentou, e eu dei de ombros. Para mim, ela sempre será uma pirralha e ela sabe disso.

── Tá, mas... eu não sei, só é natural, eu sou assim! — Ele se justificou.

── Mas você a machuca sendo assim. — Rebati.

── Que isso? Até um mês atrás você ficava do meu lado nas brigas. Isso tem dedo daquela diaba, né? Helena me paga! — Falou cruzando os braços e eu ri.

Helena. Quando penso que vou me desligar dela, alguém me lembra. O problema é que ela, com a pele dourada refletindo os raios de sol, o cabelo úmido... Aquela cena no mar não sai da minha cabeça, o nosso beijo! Preciso focar em outra coisa.

── Claro que não, eu só tenho dois olhos e vejo o que qualquer um vê. — Rebati. ── Se você realmente a ama, você precisa mudar por ela.

── Uau, que maturidade! — A pirralha de dezenove anos falou com deboche, e eu a encarei. ── Nem parece que foi casado com uma maluca abusiva. Gabi, quem é Helena?

── Uma amiga minha. — Respondi indiferente.

── Peguete. — Pedro corrigiu.

── Amiga!

── Você fala todo bobo dela, maluco, todo mundo sabe que vocês se pegam. — Falou rápido.

Meu celular vibrou e eu o peguei; era Júlia, outra menina com quem fico de vez em quando. Respondi a mensagem dela, que estava me cobrando para sair. Cerrei os lábios, encarando o aparelho em minhas mãos.

── A gente ficou uma vez só. Duas, três. Algumas muitas vezes naquela festa da Marina, quando a gente sumiu e foi para a praia. Mas não vai passar disso. — Falei, ainda encarando o celular, tentando me convencer tanto quanto aos outros.

── Ah, claro, porque isso sempre funciona. — Pedro respondeu com sarcasmo. ── Medina, todo mundo sabe que você tá caído por ela. E olha que nem faz muito tempo.

── Nada a ver, Pedro. A Helena é só uma amiga com quem eu fico de vez em quando. Não tem nada além disso. — Insisti, tentando soar convincente. ── É mole? Ela chegou tem o que? Um mês?

── Se é só isso, por que você fica tão defensivo quando falamos dela? — Sophia questionou, arqueando uma sobrancelha e eu neguei com a cabeça.

── Eu não fico defensivo! — Retruquei imediatamente, percebendo tarde demais que minha voz tinha saído mais alta do que eu queria.

── Claro que não... — Sophia riu. ── Olha, Gabriel, se você quer continuar nessa de 'é só casual', tudo bem. Mas não venha se surpreender se acabar se envolvendo mais do que pretende.

── Eu não vou me envolver dessa forma que vocês estão pensando. Eu não vou me apaixonar! — Falei firme. Isso realmente não passa pela minha cabeça, então notei eles se entreolharem.

── Mas ninguém falou em se apaixonar. — Pedro comentou com um sorriso de canto e, em seguida, começou a rir junto da minha irmã, me fazendo fechar a cara. ── Ih!

Fechei o chat com Júlia, ignorando meus amigos, e abri o com Helena. Soltei um riso sem nem perceber. Ela me enviou um meme tão ruim que chega a ser bom, esse humor totalmente quebrado dela é algo especial. Trocamos mais algumas mensagens, e comecei a sentir falta dela fisicamente falando. Então, sugeri de fazermos um jantar na minha casa e, para minha surpresa, ela topou de primeira.

── Tá rindo de quê? — Sophia perguntou curiosa, tentando espiar a tela do meu celular mas eu bloqueei em seguida.

── Nada demais. — Respondi, colocando o celular de lado. ── Só combinando um jantar com uma amiga.

── Ah, uma amiga. — Pedro repetiu, enfatizando a palavra "amiga" de forma provocativa com aquele jeito de criança encapetada dele. ── A mesma amiga que você não vai se apaixonar?

── Exato. — Disse, tentando parecer convincente. ── É só um jantar entre amigos, sem segundas intenções.

── Certo. — Sophia respondeu com um tom que deixava claro que ela não acreditava em mim. ── Vamos ver no que isso vai dar.

── Já disse, não tem nada demais. — Retruquei. ── Vocês vão ver. Querem apostar?!

── Uma tatuagem! — Pedro falou, convicto e eu dei risada. ── Se você se apaixonar pela Helena, em um prazo de seis meses, você vai tatuar um João Frango no tornozelo. — Novamente eu ri, sem perceber.

── E se eu não me apaixonar dentro desse prazo, você vai tatuar o pintinho piu-piu e o gato frajola no braço! — Rebati, fazendo um aperto com ele.

── Eu não sei qual dos dois é mais imbecil. — Sophia disse, encarando seu celular.

Internamente, comecei a questionar se realmente conseguiria manter as coisas simples com Helena. Mas, por enquanto, preferia focar no jantar e aproveitar a companhia dela, sem complicações.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora