LEMBRANÇA

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•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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"Amor é colocar as necessidades de outra pessoa antes da sua." - FROZEN


A primeira vez que perdi o sono por causa de Donavan foi na primeira semana que começamos a morar juntos após o casamento. Até então, nosso relacionamento era marcado por uma distância cautelosa, uma interação breve que mal arranhava a superfície do que poderíamos ser. Mas a convivência diária começou a quebrar essas barreiras lentamente.

Compartilhávamos o banheiro do corredor, um detalhe pequeno, mas que logo se tornaria significativo.
Numa noite de terça-feira, depois do jantar, Donavan se ofereceu para lavar os pratos, e eu fui logo atrás para ajudar. Enquanto ele lavava, eu secava, mas estava exausta, deixando a tarefa se arrastar num ritmo preguiçoso. Ele terminou sua parte antes de mim, me deixando sozinha na cozinha, onde eu continuei, mais enrolando do que realmente secando os pratos.
Depois de quinze minutos de pura procrastinação, terminei a última peça e subi para tomar banho, ansiando pelo conforto da água quente antes de dormir. Estava tão habituada a ter aquele banheiro só para mim que me esqueci completamente de que agora eu dividia a casa com Donavan, um garoto de vinte anos, cuja presença parecia tão silenciosa quanto imponente.

O que aconteceu a seguir transformou minhas noites para sempre.
Coloquei a mão na maçaneta do banheiro, distraída pela familiaridade de um espaço que sempre foi meu. Mas agora, havia outra presença ali. Nós dois giramos a maçaneta ao mesmo tempo. A porta se abriu com um impulso que me pegou de surpresa, e fui sugada para dentro do banheiro.
De repente, meu rosto colidiu com o peito nu e molhado de Donavan. Ele usava apenas uma toalha branca, envolvido no vapor quente que impregnava o ambiente com seu cheiro. Nunca senti um misto tão intenso de vergonha e desejo. Instintivamente, Donavan me segurou para que eu não perdesse o equilíbrio, e naquele breve momento, nossos corpos ficaram ainda mais próximos. A umidade da sua pele se transferiu para a minha camiseta, e por cinco longos segundos, senti cada batida do seu coração como se fosse minha.
Quando finalmente me recompus, saí de fininho do banheiro, o vapor e seu cheiro ainda impregnando meus sentidos.
Puxa vida!
Corri para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim como se pudesse barrar as emoções que me inundavam. Me desmanchei recostada contra a madeira, deslizando até o chão, incapaz de controlar a avalanche de pensamentos e sensações que aquela breve interação havia desencadeado.
Desde então, aquela cena invade meus sonhos, e às vezes acordo suada, presa em lembranças que nunca pedem licença para entrar.

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Alguns dias após a comemoração do meu aniversário, Donavan viajou, numa excursão com a sua turma da faculdade, ele ficaria poucos dias fora, estavam indo conhecer o centro tecnológico e participar da feira de ciências no estado vizinho.
Mas apenas três depois da sua viagem eu adoeci.
Febre. Indisposição. Dores articulares. Dores de cabeça. Enjôo.
Meu pai não sabia do que se tratava, então achou melhor me levar para o hospital e após uma bateria de exames o médico plantonista constatou, influenza.

Voltei para casa do mesmo jeito que sai, desaminada, sem forças, sem apetite e morrendo de saudades Donavan.
Sentei no sofá e coloquei um episódio de Charlie Brown para assistir, já passava do meio dia quando chegamos do hospital, enquanto meu pai foi até a cozinha me preparar uma sopa,
Bárbara me trouxe um chá e mediu novamente a minha temperatura. Ela estava preocupada. Eu e ela não tínhamos nada em comum, a não ser o sentimento genuíno por Donavan, mas naquele dia ela cuidou de mim, como uma mãe cuida de um filho doente, com carinho e atenção. O seu sorriso de miss simpatia desapareceu transformando o seu semblante em total preocupação.
Ela trocava as compressas frias a cada quinze minutos e media minha pressão a cada uma hora.
Quando a sopa ficou pronta ela me ajudou a comer e quando eu passei mal minutos depois de ingerir o alimento ela me ajudou no banheiro.
Eu nunca tinha percebido esse lado de Bárbara, até eu realmente precisar dela.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora