Capítulo 1: Park Jimin

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Busan, 2024

Dizem que o vermelho é a cor do amor, da paixão e da raiva. A cor do fogo e do sangue, mas também a cor do coração. Uma cor quente, viva, como se fosse uma chama prestes a queimar tudo o que toca. Pode ser considerada boa ou ruim.

Já o azul é a cor da tranquilidade, da paz e também da tristeza. A cor do mar, do céu e dos lagos durante o inverno. Porém, é uma cor tão fria...

Como é possível as cores representarem tanto em tão pouco? Como é possível você ter a sensação de que vai se queimar quando encostar em uma cor e congelar se encostar em outra?

Cresci ouvindo as pessoas falarem de suas cores favoritas, falarem o quão aconchegante é o verde da grama. Mas como é uma cor aconchegante?

Quando eu era criança, não poder ver as cores era algo que me fazia ficar com um ódio inexplicável do universo. Eu questionava todos os dias o motivo de eu não poder ser igual a todo mundo. Essa revolta começou quando a primeira dúvida das crianças ao meu redor era: "qual é a sua cor favorita?"

Pode parecer bobo, eu sei, mas é algo que me fez ter ódio de mim mesmo por algum tempo. Eu rezava todas as noites para qualquer divindade que estivesse me ouvindo para me dar a honra de ver algumas cores, não precisava ser todas, eu só queria saber qual é a sensação de ver uma pintura e poder falar o quão bonita é a cor que o artista usou. Mas, obviamente, meu pedido simples não foi atendido, e aos meus nove anos, eu parei de acreditar em qualquer figura religiosa.

— Vamos dividir mais uma taça de margarita? — Taehyung pergunta enquanto olha o pequeno menu do bar Esmeralda — Tenho medo de tomar a segunda sozinho e sair rodopiando por aí.

— Pode ser. — acabo sorrindo por conta de seu comentário. — Mas eu adoraria ver você sair girando no meio de toda essa gente.

— Você adoraria me levar para casa choramingando no seu ouvido sobre como eu sinto saudade da Ryujin? — Ele pergunta sarcástico enquanto passa os dedos pelos cabelos que ele diz serem tingidos de azul, mas para mim são apenas mais um tom de cinza.

— Pensando melhor, vamos dividir essa taça. — Digo divertido. Ryujin é a namorada de Taehyung, ela foi passar essa semana na casa da mãe dela, que mora em Daegu.

Meu celular e o de Taehyung vibram ao mesmo tempo, como ele já está com o aparelho sobre o balcão do bar, espero ele ler a mensagem.

— É a senhora Jiwoo lembrando que amanhã vamos até a galeria de arte Soulmuse escolher um quadro e criar uma coreografia baseada no sentimento da obra.

Naquele instante toda a leveza que eu estava sentindo se dissipou, aperto os lábios em sinal de desconforto. Não sou bom em reconhecer sentimentos, tanto de pessoas quanto das artes, eu mal sei interpretar o que estou sentindo na maioria das vezes.

— Ei, Ji. — Taehyung coloca sua mão em meu ombro — Não se preocupe com isso.

— Eu não estou preocupado. — Falo e sinalizo com a mão para o barman e logo ele vem até a gente — Pode trazer mais uma taça de marguerita, por favor? — vejo ele assentir com a cabeça e vai até os fundos.

— Qual é, ruivinho. Eu conheço essa sua cara desde o ano passado, sei quando você está apreensivo, mas sabe por que você não deve se preocupar muito? — Sinto ele bagunçar os meus cabelos e solto um suspiro em desaprovação, eu tinha feito um coquinho perfeito antes de sair de casa e Taehyung acaba de desalinhar tudo.

Sempre gostei de manter o meu cabelo um pouco mais comprido, não o suficiente para prender ele por inteiro, apenas a parte de trás. Quando eu era criança deixei de cortar ele e minha mãe disse que eu tinha ficado muito estiloso, hoje eu sei que ela falou em um tom de brincadeira, mas desde aquele dia eu mantive meu corte desse jeito.

Cores Invisíveis • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora