Five🫥

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O sol da manhã invadiu as janelas de vidro e atingiu os meus olhos. Rapidamente me despertei e me lembrei de onde estava e com quem estava.

Olhei para o lado, e vi ela.

Dormindo feito um anjo, com os cabelos espalhados pelo travesseiro e as covinhas escondidas. Uma de suas mãos estava debaixo de seu rosto e a outra estava encostada em meu peito.

"Você é o maior dos meus problemas, garota."

Pensei. Só de imaginar que eu finalmente estava me permitindo gostar novamente de outra pessoa, eu já queria fugir. Não sabia exatamente se isso era a coisa mais positiva ou negativa que estava me acontecendo.

Varri meus pensamentos enquanto tirava com cuidado sua pequena mão de cima do meu peito, e indo para fora do quarto.

Lá fora, tomei um banho relâmpago e improvisei um café da manhã para nós dois - e pro Cerveja, é claro.

...

Aproximadamente 20 minutos que tudo estava pronto, Jade se levantou.

- Bom dia, flor do dia. - ela cumprimentou, me fazendo rir.

- Bom dia. Eu juro que achei que você tava hibernando. - provoquei.

- Londrina não é a cidade mais adequada pra isso. - meiga, ela sorriu.

- O cerveja tava tão preocupado quanto eu. Por sorte, eu sei fazer uma comida que gato coma. - Dando uma boa olhada nela, ela parecia tudo, menos alguém que tinha acabado de acordar. Seus cabelos estavam arrumadinhos, seu rosto limpo e nada amassado, como o meu geralmente ficava. Provavelmente, ela havia lavado o rosto e escovado os cabelos - E sabe, ele acordou reclamando muito da dona irresponsável. - Provoquei, como típico de todos os garotos que são apaixonados secretamente por uma menina e não sabem fazer outra coisa se não a provocar.

- O Cerveja sabe muito bem como eu sou. Tadinho, acho que ele preferia ter outra dona. - ela se aproximou e se sentou na mesa, enquanto eu colocava os pães quentinhos em cima da mesa.  - Uau! Você saiu até pra comprar pão? - a surpresa se misturava com o entusiasmo em sua fala.

- Cara, não ironicamente eu descobri que do outro lado da rua tem uma padaria. E mais não ironicamente ainda, o pão de lá é bom. - Jade se levantou e foi buscar no armário duas xícaras. No caminho, seu celular que estava posto de tela para cima sob a mesa começou a tocar.

Olhei para ela. Pensei que ela ia se virar e pegar o celular para atender, mas em vez disso, a garota ficou paralisada.

- Jade? Alguém tá te ligando... - lembrei ela.

- Você pode ver quem é? - Sua voz era uma mistura de sussurro com nós na garganta e quando ela se virou, seus olhos estavam sombrios.

Sem pensar duas vezes, coloquei meus cabelos para trás das orelhas e me curvei, esticando meu corpo na intenção de ver quem era.

- Mommy. - li o nome, que indicava que a chamada  era provavelmente de sua mãe.

- Não atenda. Depois resolvo afinal, não quero estragar esse café perfeito.

Confesso que fiquei preocupado. Já tínhamos convivido tanto em tão pouco tempo, que eu já sentia que a conhecia desde sempre. Acho que de repente, muitas camadas de sua vida real estão saindo para fora, e eu temo pelo dia em que ela vai descobrir minhas camadas, e vai me largar, como todos os outros já fizeram.

Engoli a curiosidade e contribui para que o café fosse perfeito. E em 5 segundos, Jade já era ela mesma novamente. Sorrindo, brincando e tirando sarro da minha cara. Até que ela limpou a garganta e disse, sem tirar o sorriso do rosto:

- Sobre ontem. É. - Ela pareceu pensar, enquanto tomava mais um gole de seu café. - Eu realmente não sei oque dizer.

- Acho que nem precisa. - completei.

- Só, obrigado. - Ela falou, com uma sinceridade que eu nunca tinha visto antes de mostrando em seus olhos.

- Por nada. Parece que eu finalmente posso te agradecer pelo seu cuidado. - eu não queria parecer um idiota apaixonado (não que eu fosse) mas, tinha medo de que ela odiasse grude ou me quisesse só como amigo.

- O que?! No final das contas, eu é que fico te devendo. Esses dias foram incríveis. - ela pareceu se lembrar de algo e começar a gargalhar.

- Acho que eu sei do que você tá rindo. - Comentei.

- Sim! - ela gargalhou mais uma vez. - É impressionante como você se bate em todas as quinas dessa casa. Ela nunca fica em silêncio porque tem um grito seu depois de se bater em algum canto. - Ela gargalhou mais uma vez, me obrigando a me juntar a ela.

- Eu lá tenho culpa de tudo aqui ser tamanho PP? Parece uma casa de boneca e eu já te disse isso, né? - Por segundos, enquanto ela ria com um sorriso de orelha a orelha, o mundo ficou em câmera lenta.

Eu sempre ficava impressionado com a habilidade daquela garota de ser incrível enquanto ela fazia nada de tão especial. Ela era perfeita na simplicidade dos dias estressantes. Era como a chuva num dia de calor - tão simples, mas tão incrível.

Eu estava a encarando demais. Visto que ela parou de sorrir e ficou me olhando, com uma cara confusa e engraçada.

Me fez rir.

- Sabe Felipe. - ela continuou. - Hoje o dia vai ser cheio, acho que vou ficar alguns dias fora de casa resolvendo o problemão.

- Tudo bem. - assenti. - vou aproveitar pra produzir conteúdo, responder e-mails e fazer algumas lives. - Era a última coisa que eu queria fazer agora.

- Vou ficar na casa da mamãe. Assim que voltar, te ligo pra gente assistir um filme. - Ela se levantou da mesa, e começou a colocar as louças na pia e eu a segui.

- Okay. Caso você precise de ajuda, sabe onde me encontrar.

Tive a triste oportunidade de retirar todos os meus pequenos pertences que estavam espalhados pela sala de Jade.

Obviamente, a volta pra casa foi extremamente entediante. É estranha a sensação de perceber que sua vida é chata e insignificante, principalmente depois de momentos tão legais.

Seria um pecado se eu quisesse que ela ficasse?

Era a única coisa que se passava pela minha cabeça. E eu sabia que era, porque a única coisa que ela tinha feito era eu me sentir uma pessoa especial.

E o que havia de tão especial nisso?

Por que eu sentia que devia tudo à ela?

Engoli em seco. Eu não poderia me tornar dependendo emocional de alguém novamente, não depois dela. Não depois do horror que ela tornou a minha vida.

Eu jurei pra mim mesmo que nunca mais permitiria que ninguém entrasse na minha vida e encontrasse com o meu verdadeiro eu. E não seria Jade que mudaria essa jura, ou muito menos mudaria eu.

Era só nisso que conseguia refletir enquanto respondia os milhares de e-mails atrasados na minha caixa de entrada, e foi assim que eu passei os próximos 4 dias.

Respondendo e-mails e gravando vídeos sem sentido.

Até que na manhã do 5° dia, uma voz específica me chamou atenção.

Uma voz que eu conhecia, que gritava feito louca no corredor.

"Pare" era o que Jade gritava.

Foi só aí que eu percebi que o meu pecado já estava se tornando imperdoável.

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⏰ Última atualização: Aug 27 ⏰

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