Mais um dia movimentado em São Paulo. Eu já levei cotoveladas no peito, já pisaram no meu pé e me espremeram dentro desse ônibus. O pior de tudo é que não são nem sete da manhã.
O inferno para pobre é o horário de pico. Não tem nada pior do que pegar transporte público de manhã, tudo por um mísero salário que muitas vezes não cobre nossos gastos.
Quando finalmente chego ao meu trabalho, percebo que estou levemente atrasada, então apresso o passo para poder me arrumar antes de começar meu turno.
Eu trabalho em uma loja de maquiagem em um shopping muito bem localizado em São Paulo. Estou aqui há mais de um ano. O salário não é maravilhoso, mas consigo pagar minhas contas e meus colegas e chefes são muito simpáticos, então não tenho tanto do que reclamar.
Eu faço faculdade de psicologia no período da noite. Não é uma área que vai me fazer podre de rica, mas é a carreira que escolhi para mim, porque é algo que me vejo exercendo. Ainda não sei exatamente qual especialização escolher; estou em dúvida entre Psicologia Clínica ou do Esporte. Provavelmente vou acabar fazendo a minha escolha com o estágio que eu conseguir.
Assim que meu turno acaba, eu me troco e mando uma mensagem para que Aline, minha prima, me encontre na praça de alimentação para que possamos ir embora juntas, já que moramos no mesmo prédio. Ela me responde que já está lá me esperando e eu sigo meu caminho para encontrar essa maluca que tanto amo.
- Olha aqui, a gente vai sair amanhã e nem adianta você falar que não vai, porque você vai sim. - diz ela, no instante que chego a praça de alimentação.
- Boa tarde, Aline. Eu estou bem sim, obrigado por perguntar - ironizo.
Minha prima começa a rir e me abraça.
- Eu estava empolgada e você sempre fala que não pode quando eu te chamo para sair, sempre usando a faculdade como desculpa, mas você vai dessa vez, nem que eu tenha que te levar arrastada.
Penso na proposta dela e tento pensar em uma desculpa para não ir, porque realmente não gosto tanto de sair de casa.
- Amanhã é feriado, Kemilly. Você não vai escapar dessa vez - Ali interrompe meus pensamentos.- Você vai à essa festa comigo e ponto final.
- Tudo bem. - Suspiro, derrotada.
Aline começa a pular e bater palmas como uma criança que acabou de ganhar um brinquedo que queria muito.
- Você vai gostar dessa vez, te prometo.
- Onde é essa festa, Ali? - pergunto.
- Isso é surpresa. Só saiba que eu vou me arrumar no seu apartamento e depois um amigo meu vai levar a gente.
Olho para ela completamente desconfiada.
- Qual amigo, Aline? Eu conheço todos eles e eles não são muito confiáveis.
Ela agarra meu braço e começa a se mover em direção a saída do shopping.
- Você não conhece, mas juro que ele é gente boa. Confia em mim, você vai adorar.
Ela me olha cheia de esperança e eu decido dar o braço a torcer dessa vez.
- Vou confiar em você.
***
- O que você acha desse vestido?
- Ele está lindo. Mas não combina com esse salto, coloca o prateado, vai ficar melhor.
Vou até a minha sapateira e pego meu salto prata.
Eu estou vestindo um vestido preto de mangas compridas que chega ao meio das minhas coxas, ele tem uma fenda na perna esquerda e um decote em V. Meu cabelo sempre foi muito grande e depois da transição capilar, meus cachos se tornaram minha obsessão, por isso optei por deixar ele solto. Minha maquiagem é básica, apenas preparei minha pele com muito iluminador, fiz um delineado e passei um gloss.Termino de calçar meus saltos e vou até a minha escrivaninha para passar meu perfume. Em seguida, coloco meu colar e um par de brincos para fechar meu look.
Aline está usando um vestido vermelho tomara que caia, com um salto combinando e um colar dourado, suas tranças estão presas em um rabo de cavalo e sua maquiagem tem tons de dourado e um iluminador muito chamativo. Ela estava linda.
- Meu amigo disse que já está chegando, acho melhor você colocar os passarinhos na gaiola.
Olho para os dois amores da minha vida; Ares e Aurora. Minhas duas calopsitas estavam no chão, observando o que a gente estava falando como se estivessem entendendo tudo. Eu fui até eles e me abaixei para falar com os dois.
- Vamos dormir, meus amores? - pergunto, me abaixando para os dois subirem na minha mão - Mamãe vai sair, mas eu já volto, ok? Durmam bem. - Falo, colocando os dois na gaiola.
- Você sabe que eles não te entendem, não é?
- Eu sei, sua vaca. Mas eles reconhecem minha voz, por isso sempre falo com eles.
- Tudo bem. - Aline olha para o celular, digitando algo logo em seguida - Ele já chegou, vamos?
- Qual o nome dele, Ali? E onde você conheceu ele? - pergunto, pegando minha chave para trancar meu apartamento.
- O nome dele é Raphael e ele é um cliente da loja. A um mês atras, ele me pediu meu número e a gente começou a conversar - ela me explica enquanto entramos no elevador. - Saímos umas duas vezes e ele me chamou pra essa festa e falou que eu poderia levar uma amiga, por isso te convidei.
- Tudo bem, Ali. - suspiro, mas ainda sinto que ela tá escondendo alguma coisa. - Ele é famoso? As pessoas que costumam comprar na sua loja normalmente tem muito dinheiro.
- Ele é Jogador de futebol. - Diz, enquanto saímos do elevador
- Sério? - olho para ela indignada. - Ele joga aqui em São Paulo? - ela afirma com a cabeça. - Ele joga em algum time grande daqui?
- Espera um pouco que você já vai saber - ela dá um sorriso de canto e sai para fora do prédio comigo no encalço dela.
- O nome dele é com F ou Ph? Não me diga que é o goleiro do São Paulo? É ele não é?
Ela não me responde. Ao invés disso, ela chama pelo homem de boné que estava de costas para a gente, encostado em um carro preto. Quando ele vira, eu olho para a cara da minha prima com o espanto estampado no meu rosto.
- Você esta me levando para uma festa com o Raphael Veiga? O jogador do Palmeiras?
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Tudo Por Nós
RomanceTudo por Nós Kemilly é uma mulher comum com sonhos extraordinários. Aspirante a psicóloga, ela deseja conquistar sua casa própria e viver na Europa. Acima de tudo, ela é uma torcedora fervorosa do Corinthians, totalmente devota ao seu time de coraçã...