17.

38 9 0
                                    

Esse foi um dos melhores dias da minha vida

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Esse foi um dos melhores dias da minha vida.

Mas não sei se deveria ser.

Eu odeio admitir quando Bill tem razão sobre alguma coisa. Ainda mais quando tem a ver comigo. Somos gêmeos, então temos essa ligação bizarra que todos os irmãos gêmeos têm. Mas o fato de que consigo esconder meus sentimentos de mim mesmo, mas não de Bill... bem, isso me assusta.

Estou dizendo isso porque ele tinha razão quando disse que eu não tenho "amigas". Não que eu não considere Zoe uma boa amiga, mas eu a beijei, e isso meio que burla uma das principais regras de uma amizade. Um beijo, gera sentimentos, e sentimentos geram incertezas, e nunca me dei bem com isso.

E isso me chateia por um fator a mais: eu não sei ser um bom parceiro.

Gosto de estar com Zoe, gosto de nossos encontros aleatórios, e gosto de como ela é. Mas também gosto dos lábios dela. E gosto de como a língua dela se encaixou perfeitamente dentro da minha boca, gosto de como ela arfou quando chupei seu lábio inferior, e gosto da sensação que sinto quando penso em como estou louco para vê-la nua. Mas isso me preocupa. Eu nunca tive nenhum relacionamento, sou bom em fazer o que é preciso na cama e depois os dois seguem seus devidos caminhos. Isso acontece porque nunca me encantei por ninguém. Então tudo bem se tivéssemos apenas uma noite juntos, porque além de nenhum dos dois terem sentimentos reprimidos, isso também significaria que no final ninguém sairia machucado.

Mas então ela apareceu. Quebrando todas essas regras e fazendo com que eu questionasse absolutamente todas as certezas que eu tinha sobre mim mesmo.

Eu tenho medo do que eu posso fazer se acabar sentindo algo a mais por essa garota. Eu nunca passei por isso, eu posso magoá-la, e Zoe não é uma pessoa que mereça mais sofrimento. Eu não quero que ela sofra.

Mas estou me precipitando e me esquecendo que ela pode não sentir nada por mim. Merda. E se eu acabar sentindo algo que pode acabar não sendo recíproco?

Porra. Não sei nem se eu sinto algo realmente.

Estou fodido.

—Vai querer mais alguma coisa? — O rapaz vestido de marinheiro pergunta do lado de dentro do pequeno quiosque da sorveteria.

Pisco algumas vezes tentando retomar meus pensamentos lúcidos e voltar a realidade.

—Hm... não, obrigado. — Forço um pequeno sorriso e agarro o saco de gelos que o homem está estendendo para mim.

Me viro para trás e tento me lembrar da lição de moral que acabei de me dar em minha mente, mas isso fica impossível porque tudo o que consigo sentir é euforia quando vejo o rosto de Zoe. Ela está sentada em um banco de praça, com uma das pernas esticadas. Sua calça de agasalho está erguida até a altura de seu joelho direito e ela está usando ambas as mãos para abanar a região machucada.

Enquanto descíamos a montanha Lee, quase fomos abordados por um policial que estava fazendo a ronda noturna. Bom, eu disse "quase" porque saímos correndo quando o vimos. Era um cara baixinho e devia ter no mínimo sessenta anos, então sabíamos que não precisávamos ser tão ágeis em nossa fuga. Mas estávamos nos divertindo.

Exatamente isso.

Nos.
Divertindo.

Zoe estava gargalhando enquanto eu tentava puxar seu pulso para andarmos mais rápido. Não conseguia me manter neutro enquanto ouvia o som de sua risada ecoar atrás de mim. Nunca havia visto Zoe tão feliz. E não quero levar todo o crédito dessa felicidade, pois eu não sei o que pode ter acontecido na vida da menina até então. Mas de uma coisa eu sei, ela estava feliz em estar comigo. E eu fiquei feliz em vê-la daquela forma.

Mas em um segundo de distração, tropeçamos em uma pedra enorme que estava no meio do caminho. Nós dois caímos, mas Zoe estava fraca de tanto rir, então ela rolou entre as pedras e acabou se ralando por completo.

Foi um momento icônico, mas não deixei de me preocupar. Então a trouxe nos braços durante o restante do percurso, e agora espero que esses gelos façam o efeito esperado e não a deixem totalmente roxa.

—Aqui. — Me sento ao lado da garota e, com cuidado, repouso o pacote congelado sobre sua pele.

Ela solta um barulhinho angustiado e, por reflexo, tenta impedir meus movimentos.

—Isso vai fazer você ficar melhor. — Afirmo, segurando seu queixo com a outra mão, a obrigando a me olhar nos olhos.

—Está ardendo muito. — Ela diz baixinho, como se estivesse desesperada.

—Eu sei. — Abro um sorriso fraco. — Você nunca se machuca desse jeito?

Ela vira o rosto e morde o lábio inferior com força.

Merda. Não, não, não.

Não quero estragar o momento tocando em algum assunto que possa a magoar. Então tento ao máximo pensar em algo que contorne a situação.

—Você nunca andou de bicicleta ou coisa assim? — Comprimo os lábios. — Eu tive minha fase skatista, você não tem ideia dos rasgos que já fiz na pele.

Ela me olha de esguelha e posso ver um sorriso surgir lentamente em seus lábios.

—Espera aí... você está tirando com a minha cara?

Zoe explode em risadas e sinto meu coração palpitar. Ela me pegou desprevenido, fiquei realmente preocupado.

—Não sou tão sensível quanto você pensa. — Ela arqueia uma sobrancelha e estufa o peito vitoriosa. — Eu já quebrei meu pé esquerdo e trinquei meu braço... isso apenas quando eu era uma adolescente.

Arregalo os olhos com as informações.

—Eu já me cortei com arame farpado, tentando entrar em uma fazenda privada. — Ela diz isso franzindo o nariz. — Foi uma das piores experiências da minha vida, senti como se a lâmina estivesse entrando em meus pulmões. É a maior cicatriz que eu tenho.

Zoe tem tantas experiências em sua vida, que tenho medo de contá-la sobre as minhas e parecer um mero garotinho com medo do monstro que pode haver no meu armário. Sinto como se eu fosse um... espera, cicatriz?

Franzo as sobrancelhas para a garota.

—Você tem uma cicatriz? — Pergunto surpreso.

Ela assente.

—Tenho várias. Isso te surpreende?

—Um pouco.

Ficamos em silêncio por um tempinho. Não tenho dúvidas de que Zoe deve ter várias marcas que ela adquiriu ao longo de toda sua vida. Mas ainda me surpreendo com sua força ao falar sobre isso.

—Você quer ver? — Sua voz é baixa ao me perguntar isso. Como se estivesse me contando um segredo.

Viro meu rosto para a garota e olho bem no fundo de seus olhos azuis oceano quando digo:

—Com toda a certeza.

sua mente obscura - Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora