▪︎ duo ▪︎

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Mia Capell

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Mia Capell

CHEGANDO AO portão de saída, me lembro que a entrega do maldito livro deve ser feita até hoje. Com meu descuido, provavelmente tomarei multa se não entregá-lo agora. Infelizmente, isso significa refazer todo o caminho de volta ao prédio principal.

— Ah, Deus, por quê? — Resmungo e dou meia volta.

Meus pés estão pesados, mas faço um mantra próprio que envolve as palavras "ignore" e "dor". Continuo comendo o sanduíche que trouxera de casa, mas que não havia sido terminado até agora por tê-lo esquecido, embora o carregue na mão. Sinto que o cansaço mental está dizimando meus neurônios.

Algo duro esbarra em meu corpo, me fazendo a cair no chão. Para ser mais exata, meu corpo foi de encontro ao poste de iluminação do campus. O restinho do sanduíche está espalhado no chão, aumentando ainda mais minha tristeza. Ergo-me o mais rápido que posso usando como apoio o próprio poste. Junto o resto do sanduíche e o deposito na lixeira mais próxima.

Ao olhar para trás, percebo um rapaz me encarando seriamente. Bom, é o que eu imagino, já que não posso olhar em seus olhos, escondidos sob óculos escuros. O nível de vergonha aumenta consideravelmente, pois além de tudo, banquei a banana na frente do garoto. Não preciso observar muito para saber que é bonito demais para que eu pague um mico desses na sua frente.

Ele segue caminhando para dentro do edifício principal e sigo lentamente atrás dele, com a cabeça baixa. Meu único desejo é que ele não se lembre do ocorrido futuramente. Já possuo poucos amigos e poucas chances de arranjar um namorado e o que aconteceu hoje só aumenta a minha lista de garotos improváveis. Afinal, quem iria querer uma idiota que esbarra em postes?

— Se 'tá querendo algo, saiba que perdeu suas chances no momento em que a vi beijar o poste.

Paro subitamente a minha caminhada, olhando para o mesmo cara de antes. Olhando-o de perto e mais demoradamente, percebo que já o vi em algum lugar antes. Até porque, não é sempre que se vê alguém como ele.

— O-oi? —Gaguejo em resposta.

— Você 'tá me seguindo. — Ele fala. Sua voz parece um tanto irritada.

— Não estou, não. — Cruzo os braços, emburrada. Minha atitude, na verdade, quer esconder a vergonha. Olho para os lados só para ter certeza que não desviei do meu caminho. — Estou indo para a biblioteca.

Ele não responde nada, apenas se vira e faz seu caminho. Solto um longo suspiro e o "sigo", percebendo que os nossos caminhos são os mesmos, incluindo o prédio que deveríamos ir.

Assim que entramos, o ar gelado da sala vem de encontro ao meu rosto,  deixando meu nariz ardido. Esse frio todo não é necessário nesses dias chuvosos e isso me deixa com um pouco de raiva. Os bibliotecários não têm consideração nenhuma com o meio ambiente.

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