Contrato

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Querido diário, enquanto caminhava pelas ruas vibrantes de Cornell, uma mistura de emoções tomava conta de mim. A excitação da descoberta pulsava em meu peito, cada esquina revelando um novo mistério, uma nova história esperando para ser desvendada. No entanto, por trás dessa curiosidade fervilhante, havia uma sombra que não conseguia ignorar: a saudade de casa.

Lembranças dos dias ensolarados na minha cidade natal surgiam como flashes nítidos — o cheiro do pão fresco da padaria da esquina, as risadas dos amigos durante os encontros no parque, e a sensação acolhedora do lar. Era como se cada nova experiência em Cornell estivesse tingida com um toque de melancolia, um lembrete constante do que deixei para trás.

Eu me perguntava se poderia realmente pertencer a esse lugar cheio de enigmas. A vontade de explorar os segredos do C4 e as histórias ocultas nas sombras me atraía como um ímã, mas ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que ansiava por conforto e familiaridade.

Na manhã daquele dia acordei sem Alex do meu lado novamente, mas desta vez ele deixou um recado em meu celular, dizendo que tinha negócios a tratar e que deixou a chave de um dos carros para que eu voltasse ao alojamento. Alex havia deixado a chave de um carro para mim? isso me deixou perplexa.

Despertei lentamente, os olhos se ajustando à luz da manhã. O clube, que antes pulsava com energia, agora parecia um santuário de tranquilidade.
Levantei-me da cama, sentindo a suavidade dos lençóis ainda quentes ao meu redor.

Com um sorriso nos lábios, segui para a garagem.

Liguei o motor e o ronco suave me fez sentir viva. Coloquei o pé no acelerador e saí em direção à estrada que levava a Cornell. O vento batia em meu rosto enquanto dirigia, e cada curva da estrada parecia uma nova promessa.

Quando estacionei em frente à universidade, não pude deixar de notar os olhares curiosos que se voltavam para mim. O carro de luxo reluzia sob a luz do sol, e era inegável que chamava atenção. Era um pouco estranho eu aparecer do nada com um veículo daqueles, como se tivesse saído de um filme.

Enquanto eu me acomodava no banco e abria a porta, avistei Lidia se aproximando, os olhos arregalados em puro espanto. "Meu Deus!" exclamou, parando abruptamente ao meu lado. "Uau! Você pode me atualizar?" Ela apontou para o carro, a incredulidade estampada em seu rosto.

"Espera então você é o Alex fizeram as pazes, e ainda tran..." eu tampo a boca dela com as mãos, algumas pessoas da sala olham e tento disfarçar, "Lidia dá pra falar baixo".

A sala do anfiteatro estava cheia, o murmúrio de conversas suaves preenchendo o ar enquanto os alunos se acomodavam. Eu me perdi em meus pensamentos, observando as apresentações e tentando me concentrar na palestra que estava prestes a começar. Foi então que, de repente, minha atenção foi capturada por uma presença familiar.

Alex entrou pela porta da frente, ao lado de seu pai, e imediatamente todos os olhares se voltaram para ele. Ele estava deslumbrante, com aquele jeito descontraído que sempre o acompanhava. A luz do sol filtrava-se pelas janelas, iluminando seu rosto e fazendo com que seus olhos parecessem ainda mais intensos. Era como se ele fosse o protagonista de um filme, parado ali com um sorriso charmoso e uma confiança natural.

As garotas ao meu redor começaram a sussurrar entre si. "Olha só para ele! Que lindo!" Uma delas comentou, batendo levemente no braço da amiga em excitação. "E essa camisa? Ele sabe como se vestir!" Outra acrescentou, com um brilho nos olhos. O murmúrio crescente só confirmava o que eu já sabia: Alex tinha um magnetismo que atraía todos à sua volta.

Enquanto a palestra continuava, eu tentava manter o foco, mas a presença de Alex na frente da sala era quase hipnotizante. De repente, senti meu celular vibrar na mesa ao meu lado. Olhei rapidamente e vi que era uma mensagem dele. Meu coração disparou quando li: "Parece que acordou bem."

Um calor subiu pelo meu rosto, e eu não pude evitar olhar para ele. Nossos olhares se encontraram, e ele estava com aquele sorriso maroto, como se soubesse exatamente o efeito que suas palavras tinham sobre mim. O rubor nas minhas bochechas aumentou, e eu me senti um pouco envergonhada por ser pega de surpresa.

As garotas ao meu redor continuavam comentando sobre ele, mas naquele momento, tudo parecia desaparecer, exceto Alex e eu.

Ao sair da sala, dei de cara com Cris, que se aproximou gentilmente para conversar. "Você parece bem," ele comentou, com um sorriso amigável. Eu retribuí o sorriso e respondi: "Estou ótima! E você? Parece que nunca nos encontramos no campus." Enquanto falávamos, caminhávamos em passos lentos.

"Na verdade, não estou tendo tantas aulas esse semestre," ele explicou. "E você, o que está achando de Cornell?"

"É muito agradável aqui," eu disse, sentindo uma leveza na conversa. "É difícil acreditar que temos apenas três meses para aproveitar tudo isso!" A tristeza na minha voz era evidente.

"Você pode ficar até se formar se quiser," ele sugeriu, parando ao meu lado e olhando nos meus olhos como se a ideia fosse realmente viável.

"Isso parece loucura!" eu ri, balançando a cabeça em descrença. A perspectiva de passar mais tempo ali parecia tentadora, mas também assustadora.

Nesse momento, meu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem de Alex pedindo para que eu me dirigisse à sala de reuniões do campus para conversarmos. Com um sorriso apologético para Cris, me despedi delicadamente: "Preciso ir. Foi bom te ver!" Em seguida, segui em direção ao encontro com Alex, o coração acelerado pela expectativa.

Ao abrir a porta da sala de reuniões, meu coração pulou ao me deparar com Alex, que estava encostado na mesa, conversando com um homem que parecia estar na casa dos quarenta anos. O ambiente era iluminado, e a luzincidia sobre um papel que estava espalhado sobre a mesa entre eles.
Alex virou-se rapidamente ao ouvir o barulho da porta, e seu olhar se iluminou ao me ver. O homem, com uma expressão séria e cabelos grisalhos, também me observou, mas logo desviou o olhar para o papel à sua frente.

"Sr. Ribeiro, você pode nos dar licença?" Alex disse com firmeza, fazendo um gesto para que o homem se afastasse. Eu me aproximei da mesa, meus olhos imediatamente fixados em uma espécie de contrato que estava ali, suas letras parecendo um emaranhado de palavras confusas.

"Bom, preciso que você assine isso," Alex disse, endireitando a folha em minha direção com uma expressão séria. O papel tinha um ar formal, e eu podia sentir meu coração acelerar.

"Mas... o que exatamente é isso?" perguntei, hesitando enquanto olhava para a assinatura que me era pedida.
"Ao assinar esse contrato, você não pode dizer nada sobre nós dois a ninguém," as palavras de Alex foram diretas e impactantes, chamando toda a minha atenção.
Eu olhei de volta para ele, tentando processar o que estava em jogo. A atmosfera estava carregada de segredo e compromisso, e eu sabia que aquela decisão poderia mudar tudo entre nós.

"Hum, eu não ia dizer nada a ninguém," retruquei, tentando esconder a confusão que sentia.

"Eu sei, mas isso é uma formalidade da C4," ele respondeu, sentando-se na mesa e cruzando os braços de maneira relaxada, como se tentasse transmitir segurança.

Sem pensar duas vezes, com meu rosto transparecendo a frieza em meu olhar, peguei a caneta e assinei o contrato. Em seguida, cruzei meus braços, encarando-o com intensidade. "Sempre pede que as garotas assinem isso. Parece um pouco estranho," comentei, deixando meu descontentamento transparecer. Meu ódio no olhar era aparente, e eu não conseguia esconder a frustração que sentia.

Eu nunca diria nada sobre nós dois a ninguém; essa era uma certeza em minha mente. No entanto, esperava que ele também demonstrasse confiança em mim. O silêncio que se seguiu foi carregado de tensão, e eu sabia que precisávamos esclarecer nossas intenções antes de seguir em frente.

Pegando o contrato e colocando-o dentro da pasta, Alex olhou para mim e disse: "Você é a primeira." Ele guardou o documento na gaveta, como se estivesse finalizando um capítulo.

"A primeira que se encaixa a assinar," ele completou, seu tom de voz tentando transmitir uma leveza que contrastava com a seriedade do momento.

Eu fiquei um pouco impactada com a resposta dele. Aquela declaração parecia uma tentativa de amenizar o que eu estava sentindo em relação a tudo aquilo. Ele é bom mesmo nisso.

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