---Talvez fosse o clima fechado, ou o fato de estar completamente sozinha em casa durante a noite, mas Luiza sentia algo ruim, uma sensação estranha de que havia algo errado.
Ela estava acostumada a passar finais de semana sozinha, já que tinha uma mãe solteira que adorava festas e seu pai não era muito presente.
Sentada no sofá, Luiza observava a janela da sala, analisando o tempo se fechando cada vez mais, armando uma grande chuva. Seu corpo todo estava tenso, e ela não entendia muito bem o motivo.
Estar sozinha nunca foi um problema.
Mas, de repente, tudo a assustava.
Talvez fosse o barulho da chuva ou das folhas das árvores balançando fortemente por conta da ventania, mas algo deixava o clima muito pesado, com uma sensação de que havia algo errado.
A jovem, que até então estava submersa em seus pensamentos, tentando entender o que exatamente lhe causava tanto incômodo sem uma razão específica, logo voltou a si quando ouviu, no andar de cima, uma voz a chamando.
Não, aquilo não era nada.
Era só sua mente pregando-lhe peças.
Isso foi o que Luiza disse, querendo acreditar em seu próprio pensamento numa tentativa de se confortar.
Outra vez.
Uma voz que, apesar de sussurrar, carregava um peso, uma autoridade, ecoou no ouvido de Luiza.
Seu corpo se arrepiou, e ela ficou imóvel por alguns minutos, sem saber como reagir e o que fazer.
Estava prestes a tomar a decisão de sair de casa, mesmo sendo madrugada e estando caindo um temporal do lado de fora, quando algo em Luiza se acendeu. Uma adrenalina, uma onda de energia, que logo fez com que a menina pulasse do sofá e andasse em direção às escadas que levavam ao seu quarto no andar de cima.
Decisão idiota, você diria.
Mas ela precisava se certificar de que não estava ficando louca e que não havia ninguém ali.
"Oi?"Luiza disse enquanto subia as escadas, respondendo à voz que tanto a chamava.
Nada.
Foi quando as luzes se apagaram.
Todas.
E a jovem, que estava agora de frente para o seu quarto, deu um grito.
Tudo estava escuro.
Por conta da chuva, foi o que ela pensou.
Seu coração estava acelerado, seu corpo gelado, e Luiza sentia um medo inexplicável. Nunca havia passado por isso antes.
Ela havia deixado seu celular em cima do sofá,não havia lanterna e continuava estática, sem saber se descia novamente no escuro ou se esperava as luzes voltarem a acender.
Enquanto ainda se decidia sobre o que fazer, a televisão ligou.
Uma mulher falava sobre crimes que andavam ocorrendo na cidade,nada demais ou fora do comum.
O que aterrorizou Luiza foi o fato de somente a TV ter ligado. Se fosse apenas uma queda de energia, todas as luzes que antes estavam acesas também teriam acendido novamente.
Luiza decidiu entrar no quarto e trancar a porta.
O que estava acontecendo?
Ela se deitou em sua cama no completo breu e cobriu seu corpo inteiro.
Só pedia para que as luzes voltassem logo ou que sua mãe chegasse.
Luiza fechou bruscamente os olhos quando sentiu, de repente, algo se deitando do outro lado da cama.
Quis gritar; seu corpo inteiro estava com calafrios, e ela não conseguia se mover.
Com medo de tirar a coberta do rosto e ver algo que a traumatizasse pelo resto de sua vida, a jovem apenas forçou mais ainda a coberta sobre seu corpo.
Gritar já não adiantava mais, e, mesmo que quisesse, ela se sentia incapaz de emitir qualquer som.
Foi quando unhas, garras ou algo afiado começou a acariciar todo o seu corpo por cima da coberta.
Luiza chorava, só querendo que aquilo fosse embora logo, rezando e pedindo a quem quer que seja que a tirasse daquele lugar.
Aquela mesma voz, grave e cheia de autoridade, ecoou novamente no ouvido da jovem, uma última vez.
"Menina ingênua, ninguém nunca lhe disse que não se deve responder a quem te chama no escuro?"
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