04. entraînement.

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ARTHUR ELIAS não tava pra brincadeira.

A gente tinha chegado dia 17/07 e hoje, 20/07, já estávamos treinando feito desgraçadas. 11:00 da manhã, sol estourando de quente, e todas nós já estávamos no campo de treinamento que o Time Brasil providenciou pra nós do futebol. Treinando passes, velocidade, precisão, chute de fora da área, jogadas ensaiadas e a lista não para por aqui, mas eu sim.

— Isso não pode acontecer! Que merda de jogada foi essa, meninas?! Tamires, visão de jogo, porra! Olha ao redor, analisa, não sai chutando assim, isso aqui não é uma pelada, pelo amor de Deus. Yasmin, vai com calma, não precisa de afobação. Não é pra sair jogando feito maluca, nunca dá certo! Quando a Ludmila chutar, S/n deixa passar pra Tamires e se a Tamires não conseguir pegar, a Gabi vai entrar em ação, fingindo que vai finalizar dali mesmo e com a atenção da goleira e de praticamente todas as jogadoras nela, ela chuta pra S/n, que PRECISA estar mais atrás, na cara do gol, que vai finalizar. — Arthur gritava passando as instruções. Apesar do tom e das palavras usadas, isso não nos afetava, sabíamos que aquilo ali era pro nosso desenvolvimento profissional.

Refizemos a jogada que tinha feito Arthur se irritar e conseguimos entregar o que ele esperava. Uma jogada ensaiada que Ludmila pegava a bola e começava a acelerar pela lateral, eu, Tamires e Gabi Portilho acompanhávamos ela. Lud dá um passe excepcional pra mim e, conforme a jogada, eu deixo passar pra Tamires que estava entre eu e Gabi. A loira finge que iria mandar pro gol dali mas rapidamente recua, tocando a bola pra mim e eu finalizo a enterrando no gol. Espetacular.

Arthur, que antes tinha ficado puto com a nossa tentativa falha de concluir a jogada, agora aplaudia. Conseguimos.

— Isso, meninas! É isso! Agora é refazer essa jogada diversas vezes, de vários modos e treinar passe e finalização. — Ele sorri. — Se vocês pipocarem quando conseguirem uma chance de fazer essa jogada, eu vou deixar todo mundo careca! — Soltamos uma risada alta com essa fala dela.

O treino continuou até 13:00 e todo mundo já tava morto quando o treino acabou. Esse exagero de tempo treinando era terrível, mas sempre ajudava a gente a não perder ritmo de jogo quando tinha acréscimos grandes ou em qualquer outra situação que poderia fazer a gente "morrer" no meio do jogo e perder totalmente o eixo de tudo.

Fomos todas pra dentro do vestiário, que tinha banheiro, cozinha e área de descanso, e eu tomei um banho extremamente gelado pra tentar diminuir a temperatura do meu corpo. Coloquei minha roupa, arrumei meu cabelo e fui pra parte de fora do vestiário pra esperar todo mundo terminar de tomar banho e aí sim voltar pra Vila.

— Papo, que solzinho escaldante, pensei que eu ia morrer ali. — Digo me sentando no chão junto com as meninas.

— Nem me fala, viu. Acho que isso aí é a nova forma de escravidão da CBF. Só porque eu sou preta. — Kerolin fala e todo mundo solta uma gargalhada. Essa garota tinha um total de 0 limites.

— Visão, eu chamei umas meninas do vôlei pra cá, belê? — Angelina chama a nossa atenção. — Chamei a Julia e ela falou que umas meninas lá animaram pra vir, eu só concordei mermo' e fé.

— Se específica aí, lindona. Tem umas duas Julia lá na seleção do vôlei. — Yaya argumenta. Eu solto um: "Pois é".

— A moreninha, tá ligado? A outra lá é a ruiva, a russa, essa que eu chamei é a Kudiess, a morena.

— Ah, se pá vem a Priscila também, elas são mó amigas.

— Então. Acho que a Carol lá vem também, a que namora a holandesa do vôlei também. — Angelina diz.

— E ela namora, é? Sabia não. — Eu realmente não sabia. Não sigo a Carol, por mais que goste muito do trabalho dela no ramo do vôlei.

— Namora, pô. Ela namora, a baixinha, Nyeme eu acho, também namora, a Ana Cristina também, metade daquela seleção ali namora. Ana Cristina e Nyeme são hétero. Se elas não fossem, eu pegava. — Solto uma risada e concordo.

Speranza. - Carol x You.Onde histórias criam vida. Descubra agora