Chapter 557 Uma faceta desconhecida do meu amor

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Prólogo O favor de quem foi um deus menor a alguém que foi um demônio

Sete de junho

Província de Anhui

Alguma casa de chá no vilarejo próximo a HuangShan

Estava prestes a anoitecer.

Migalhas restavam dentro das duas pequenas tigelas, as chávenas simples vazias, guardando apenas um leve aroma do que agora preenchia seus estômagos.

Da mesa baixa que ocupavam, via-se uma vista restrita da rua bucólica e ambos estavam quietos, até que um deles tocou levemente a máscara em seu rosto.

A máscara bem ajustada sobre o lado deformado de seu rosto era o estigma da separação que viria a seguir.

Lao Shi não sabia qual material Shan Ling tinha utilizado, mas não era desconfortável, não pesava e carregava certo requinte como as mãos de quem a tinha produzido.

Quando observou seu reflexo no espelho, assim que o sacerdote encaixou a máscara, aquele homem sem identidade se sentiu alguém diferente do habitual.

Um pouco menos repugnante, talvez um pouco misterioso, mas não menos sozinho do que o costume vivenciado em milênios.

Ele não tocaria mais no assunto, a possibilidade de Shan Ling desistir de tudo, era impossível.

Também havia desistido de perguntar sobre a confecção da máscara, o silêncio começava a ficar pesado.

O indicador de Shan Ling tocou suavemente sua palma, a ponta do dedo morna.

Na mente de Lao Shi esse toque se assemelhava a cutucar um animal na beira da estrada, se fingindo de morto.

— Já sabe que caminho irá seguir?

Lao Shi, por outro lado, bateu com a ponta do dedo no próprio queixo, desviando seu olhar da rua bucólica para o sacerdote.

O olhar do homem da máscara parecia entediado.

— Por que Shan Ling quer saber? Quer me seguir... Caso mude de ideia?

Shan Ling virou o rosto sério diante do tom provocante, austero.

Sua resposta foi recolher a mão e jogar no meio da mesa uma bolsinha contendo uma quantia generosa de moedas.

Lao Shi moveu o olhar sobre a bolsinha aveludada, com certa reserva, embora... O quão miserável se sentia.

— Sabe perfeitamente que vou voltar para oeste. — Shan Ling replicou. — A quantia na bolsa deve facilitar seu transporte ou abrigo, até decidir o que vai fazer ou que rumo pretende tomar.

— Preocupado que eu seja desonesto? — Lao Shi ironizou, soerguendo levemente a sobrancelha. — Na minha situação, não tenho muita opção, além de ser um mentiroso.

Shan Ling também olhou para fora, a escuridão tomando conta da viela, a suspirar.

— Se pensar bem, também não sou um mentiroso? Ao menos seja um mentiroso inofensivo... Proteja a si mesmo, mas não prejudique ninguém.

Lao Shi riu inevitável, seu escárnio habitual escapando em doses comedidas.

— É seu último conselho para um homem sem nome, sacerdote? É estranho pensar que conserve alguma fé em mim.

Havia alguma complacência ao devolver o olhar para Lao Shi, certa cumplicidade.

— Eu já estive em situação semelhante a sua, então... Entendo. Sem nome, sem família para voltar, sem qualquer amarra no mundo que fizesse a vida ter sentido.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora