CAPÍTULO 3

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Duas horas mais tarde, Jimin se viu parado na doca de Billingsgate.

Aterrorizado. A manhã de junho estava inundada de sol, mas ele tinha saído da casa do Sr. Jeon com a mente nublada. Sua confusão era tamanha que ele tinha errado duas vezes seu caminho habitual até a Ponte de Londres, e agora tinha perdido a diligência do meio-dia para Greenwich. A solução racional seria descer o Tâmisa numa balsa. Contudo, a mera visão do barco fazia um arrepio descer por sua coluna.

Eu não consigo. Simplesmente não consigo.

Mas quais eram suas alternativas? Se arriscasse esperar por uma próxima carruagem, a ponte ficaria uma loucura, cheia de carroças indo à toda parte. Ele nunca chegaria em casa antes de escurecer. Ele podia desistir da viagem, porém, calibrar seu cronômetro uma vez a cada quinze dias era a promessa que ele tinha feito aos clientes. Eles pagavam pelo horário exato de Greenwich, e era o que ele fornecia, sem falta.

Apenas vá em frente, ele disse para si mesmo. Está na hora de deixar isso para trás, seu boboca. Afinal, você foi criado em um navio. Uma fragata mercante foi seu berço. Sim. Mas essa embarcação também quase foi seu caixão.

Apesar de tudo, lá estava ele, após dez anos. Vivo. Podia sobreviver a uma breve jornada pelo Tâmisa até Greenwich. Ele podia fazer isso. Enquanto a barqueira carregava pacotes e ajudava os passageiros a entrar na balsa, ele ficou para trás, esperando até o último momento possível.

– O senhor vem ou não?

– Eu vou. – Jimin aceitou a mão da alfa e embarcou, acomodando-se num banco entre duas Ômegas mais velhas e apoiando sua bolsa no colo. Quando a barqueira soltou as cordas que atracavam a barca ao píer, Jimin decidiu pensar em outra coisa. Agora que tinha aprendido que não adiantava ter fantasias com Jeon Jungkook, uma boa parte de seu cérebro de repente ficou disponível para novos desafios.

Recitar todas as constelações em volta da Ursa Maior, por exemplo. Droga. Fácil demais. Ele repassou a lista toda em segundos: Dragão, Girafa, Lince, Leão Menor, Leão, Cabeleira de Berenice, Pegureiros e Boieiro – e aí a concentração dele se desfez. Depois que o primeiro remo atingiu a água, ele não conseguiu mais formar nenhum pensamento. Ele fechou as mãos, enterrando as unhas nas palmas, tentando se distrair por meio da dor. Isso também não deu certo. Não sentia nada além do balanço da água embaixo da embarcação.

A sensação aterradora de estar desatracado. De vagar sem amarras. Não. Ele não podia mesmo fazer aquilo. Jimin se levantou e abriu caminho até a borda do barco. Eles ainda não tinham se distanciado. Estavam a um passo do píer.

– Espere – O ômega disse a barqueira. –  Lembrei de uma coisa. Preciso desembarcar.

– Tarde demais, senhor. Você pode sair quando a balsa voltar. – Ela se preparou para empurrar o píer com o remo.

– Por favor. – Jimin estava implorando, a voz falhando. – É urgente. Eu preciso sair do barco. Eu…

– Sente-se, ômega! – A alfa rugiu, apoiando o remo para empurrar.

Jimin entrou em pânico.

Ele subiu na murada do barco, balançando na ponta dos pés. Os outros passageiros gritaram, assustados, quando o barco inclinou para o lado. A barqueira segurou a barra do calça do ômega, tentando puxá-lo para dentro do barco. O gesto dela só fez aumentar o desespero de Jimin. O ômega avaliou rapidamente a distância entre a balsa e o píer. Ele calculou que conseguiria, mas só se saltasse. E saltasse agora.

Ele pulou.

Seu cálculo não estava errado. Se a bota dele não escorregasse na murada da balsa, seu salto teria sido perfeito. Mas ele caiu na água com estrondo, soltando uma exclamação e enchendo a boca com a água suja do Tâmisa. Quando emergiu, um alfa no píer o pegou por baixo do braço e o puxou para cima, ajudando-o a sair do rio.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora